Nonato Guedes
Pré-candidato ao governo do Estado pelo PSDB, na faixa de oposição ao governador João Azevêdo, o deputado federal Pedro Cunha Lima tem evidenciado o refrão de que “Pedro é Pedro, Cássio é Cássio” e, com isso, alimentado especulações de que procura renegar a tradição familiar no exercício do poder, representada não apenas pelo seu pai, Cássio Cunha Lima, que governou a Paraíba por duas vezes, mas pelo avô, o poeta Ronaldo Cunha Lima, que ascendeu ao Executivo na década de 90. As especulações a respeito da postura de Pedro parecem falaciosas. Ele sempre patenteou o orgulho dos laços familiares e o respeito às experiências administrativas, sobretudo empalmadas por seu pai, que também foi eleito por três vezes prefeito de Campina Grande, uma das mais importantes cidades do Nordeste brasileiro.
O que parece avultar no discurso com que o jovem deputado se apresenta ao eleitorado paraibano é a necessidade de ter uma identidade própria, de ser reconhecido pela sua própria capacidade de gerenciar desafios e pela sensibilidade em inovar nas relações institucionais de poder, ou seja, de construir o símbolo da renovação de que se faz porta-voz na conjuntura atual. Pedro tem procurado sensibilizar segmentos variados da opinião pública com a mensagem de que é novo o seu discurso porque ele, pessoalmente, se considera um quadro novo da realidade política no país e, como tal, está na contingência de apresentar propostas diferentes, contemporâneas das demandas que hoje mobilizam a sociedade brasileira como um todo e a sociedade paraibana em particular. Eram outros os tempos em que Cássio governou, entre 2003 e 2009, como era diferenciada a conjuntura onde o poeta Ronaldo pontificou, a partir de 1991. É legítima essa aspiração de Pedro, e o deputado não pode ser admoestado por preferir ter seu perfil. Demonstra amadurecimento, vontade de crescer no universo da política.
Lá atrás, numa das oportunidades da sua biografia, Cássio chegou a suceder a Ronaldo na prefeitura de Campina Grande, e fez isto porque um dispositivo legal lhe favorecia tal condição, mas se elegeu outras vezes ao mesmo posto, destronando oligarquias que tentavam se perpetuar. Pagou, mais tarde, o ônus de ser tachado como expoente de uma nova oligarquia política no Estado – e procurou responder a essas insinuações mostrando trabalho e competência. Só que já faz uma década que Cássio está afastado do governo da Paraíba, e também é fato que ele perdeu o próprio mandato de senador, que tentou renovar nas eleições de 2018. Se é verdade que num primeiro momento se sentiu injustiçado pela voz das urnas, também é verdade que a esta altura está reconciliado com a inevitabilidade do fato consumado. Cássio resistiu a todas as pressões que foram exercidas sobre ele este ano para que aceitasse ser alternativa, dentro do seu grupo, à eleição ao governo em 2022. Manteve, até o fim, o compromisso de apoio ao ex-prefeito Romero Rodrigues, do PSD, e só evoluiu para absorver o nome de Pedro quando esta foi a opção natural no agrupamento de forças em que ambos atuam, a partir da cidade Rainha da Borborema.
Como governador do Estado, além das prioridades referentes a serviços essenciais, Cássio acenou com uma Paraíba moderna e competitiva, antevendo a preponderância das inovações tecnológicas e seus reflexos colaterais no processo de desenvolvimento dos Estados e da Federação. Externou consciência do ajuste fiscal imperioso, até como solução para que as finanças da Paraíba não fossem asfixiadas. Ousar, sempre, era a sua diretriz, a sua bússola maior e, no discurso de posse afirmou confiar em Deus que seu governo jamais cometeria os erros da omissão e o pecado da acomodação. Na segunda administração, indiscutivelmente, Cássio procurou abrir fronteiras, em centros maiores do Brasil e no exterior. Além dos percalços conjunturais e do corolário resultante da desigualdade que vitima os Estados do Nordeste, o governo Cássio enfrentou impasses jurídicos questionando a sua própria legitimidade, o que, já na reta final, comprometeu o rendimento em ritmo acelerado que vinha pautando a sua gestão e abreviou a duração do segundo mandato conquistado nas urnas. Os marcos administrativos, entretanto, eram indeléveis no inconsciente de parcelas expressivas da população contempladas com programas de alcance social.
Ronaldo Cunha Lima teve desafios gigantescos de cujo enfrentamento não fugiu, como o fechamento do Paraiban, o banco de fomento do Estado, herança legada pela segunda gestão de Tarcísio Burity, e o atraso no pagamento ao funcionalismo público, criando uma onda de insegurança entre famílias humildes. O banco foi reaberto depois de ampla mobilização que envolveu a bancada federal e sob condições de “enxugamento”, num modelo espartano talhado sob medida para evitar interferência política e ao mesmo tempo garantir a solidez do empreendimento. A reabertura, em si, foi um grande marco, uma espécie de conquista para um Estado que ainda se sentia traumatizado com o impacto da liquidação extrajudicial de um dos seus patrimônios mais caros. Já a atualização da folha de pagamento foi conseguida a duras penas, mediante esforço inaudito de austeridade, numa época em que a credibilidade da administração pública estava a zero, em virtude dos erros de gestão ou mesmo de irregularidades detectadas em governos que haviam passado pelo Palácio da Redenção.
Pedro Cunha Lima tem dito que no ano de 2022, quando será travada novamente a disputa pelo governo da Paraíba, os desafios em pauta serão outros, ainda que estejam, intrinsecamente, ligados ao processo de desenvolvimento. A própria emergência da pandemia de coronavírus constitui fato novíssimo com repercussões que ainda estão sendo sentidas ou desbaratadas pelos governos em todo o mundo, em meio a dúvidas sobre a própria gênesis do vírus que contaminou o planeta e paralisou atividades essenciais. Na Câmara dos Deputados, em seus mandatos, Pedro Cunha Lima tem oferecido exemplos de austeridade, procurando se manter coerente com a luta que empreende contra o desperdício de recursos públicos. É nessa linha que ele vai pautar seu discurso de campanha no próximo ano, abrindo-se, é claro, a infinitas possibilidades de ampliação do raio de atuação do governo no espectro da sociedade, cada vez mais exigente, cada vez mais consciente e cada vez mais participativa. Por estar atento às mutações é que Pedro Cunha Lima busca emprestar um olhar diferenciado e, do seu ponto de vista, privilegiado no diagnóstico e na solução dos desafios que eclodirão à sua frente caso venha a virar o jogo e conquistar o governo da Paraíba.
Pedro tem o seu valor. Mas não pode negar que chegou onde chegou com a idade que tem graças ao avô e ao pai. Ainda hj seus maiores eleitores