Por Waldir Porfírio da Silva – Militante do PCdoB e membro do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano
Ontem nos deixou Simão de Almeida Neto, um exemplar militante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), que faria 78 anos no próximo dia 9 de janeiro. No início da década de 1960, como membro da Juventude Estudantil Católica (JEC), atuou no movimento secundarista de Campina Grande, engajado na luta pela meia-entrada nos cinemas para os estudantes. Ironicamente, ingressou no curso de engenharia elétrica da Escola Politécnica em 31 de março de 1964.
Com poder de liderança excepcional e agora pertencendo a Juventude Universitária Católica (JUC), elegeu-se para o Centro Acadêmico do seu curso. Ingressa na organização Ação Popular (AP) e participa, em 1967, do Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), ocorrido em Valinhos (MG), e da reorganização da União Estadual dos Estudantes da Paraíba (UEEP), e foi eleito presidente do Centro Universitário Campinense (CUC).
No efervescente ano de 1968, Simão era uma das principais lideranças na Serra da Borborema, promovendo greve e manifestações de ruas contra o assassinato do estudante Edson Luiz, em apoio às reivindicações das estudantes do curso de Serviço Social e contra as prisões dos delegados do Congresso da UNE de Ibiúna.
No mês de setembro daquele ano, casa-se com Ana Rita de Castro Almeida, que estava grávida. Recebendo a missão da AP de integrar-se à produção, viaja à Recife com sua companheira e alugam uma casa num bairro operário com um casal cearense da organização, visando trabalhar nas fábricas, recrutar trabalhadores e distribuir panfletos.
A ditadura foi-se fechando, em especial com a edição do Ato Institucional nº 5, de 13 de dezembro de 1968, que abriu as ferramentas para praticar todo tipo de violação aos direitos civis e humanos, como suspensão do habeas corpus, cassação de mandatos eletivos e suspensão de direitos políticos, e, especialmente, um duro golpe no movimento estudantil intervindo nas suas entidades e suspendendo as matrículas de suas lideranças.
Simão Almeida, que terminaria o curso de engenharia elétrica, foi definitivamente proibido de estudar na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), por ato do reitor Guilhardo Martins, que também suspendeu as lideranças de outros 86 estudantes universitários.
Temendo represália do regime, as lideranças da AP pessoense João Roberto Borges, de medicina, Socorro Fragoso de Morais (Jô Morais), de serviço social, e Maria Lívia, de medicina, foram morar na casa onde Simão residia. Durante uma das panfletagens destas lideranças recém-chegadas a Recife, foram perseguidos e presos. Colocado sob tortura por dois dias, João Roberto indica o endereço onde estava. No dia 26 de fevereiro de 1969 os agentes do DOPS invadem a casa que servia de aparelho para a Ação Popular e prendem Ana Rita, com oito meses de gravidez, e o casal cearense. Simão e as demais conseguem escapar e entram na clandestinidade, enquanto sua primeira filha, Emília Almeida, nasce no hospital do Exército em maio de 1969.
Durante o período de 1969 até 1980, Simão, Ana Rita e a bebê deles deslocaram-se para São Paulo, adotando nomes fictícios. Lembrando desse período, Simão disse à Comissão Estadual da Verdade da Paraíba que passou “dificuldade financeira, morando em quarto-cozinha, faltava alimentação” até mesmo para Emília, com poucos meses de vida.
Importante fato histórico ocorreu durante o processo de integração da Ação Popular ao Partido Comunista do Brasil. O local onde a direção nacional da AP se reuniu para decidir sobre esse assunto foi uma fazenda de Demétrio de Almeida, sogro de Simão, em Boa Vista, Paraíba. Maria de Lourdes Castro de Almeida, mãe de Ana Rita, foi a responsável por receber, esconder e levar os dirigentes para o local do evento, sob forte esquema de segurança.
Após a integração da Ação Popular ao Partido Comunista do Brasil, Simão Almeida incorpora-se ao PCdoB em 1972, atuando em Minas Gerais e, depois, indo morar em Goiás, numa área próxima à Guerrilha do Araguaia. Para isso, consegue passar num concurso para fiscal da coletoria de Goiás usando o nome Francisco Ramalho Duarte. Nesse período nasce sua segunda filha, Camila Almeida, que lhe foi dado um nome frio.
Aprovada a anistia política, em 29 de agosto de 1979 o Jornal do Brasil publicou uma relação de anistiados, que tiveram suas punições extintas. Simão, que tinha duas condenações, viu-se livre para retornar à Paraíba no ano de 1980. Durante todos esses anos que viveu na clandestinidade nunca deu ou recebeu notícia de sua família.
Conseguiu concluir o curso de engenharia elétrica, interrompido em 1968, e assume a direção estadual do PCdoB. Em pouco tempo de atuação, Simão Almeida torna-se uma referência no início dos anos 80 participando de fundações de entidades sindicais, como a Associação dos Funcionário da Universidade Federal da Paraíba (AFUF) – a qual é eleito presidente -, participa da 1ª Conferência Nacional das Classes Trabalhadoras (CONCLAT), além de movimentos grevistas de trabalhadores de várias categorias urbana e rurais, contra a carestia, em defesa do ensino público e gratuito, na grande manifestação nacional pela campanha das diretas já para presidente da República, greve dos canavieiros, etc.
Depois de várias tentativas como candidato a uma vaga na Assembleia Legislativa da Paraíba, consegue eleger-se deputado estadual nas eleições de 1990, fazendo do seu mandato uma trincheira de luta do povo paraibano, denunciando violações aos direitos humanos, irregularidades na administração pública, tornando-se autor de leis como a que determinou a abertura do Arquivo do DOPS da Paraíba, a lei da meia-entrada para os estudantes nos cinemas, casas de shows e jogos esportivos, a lei que punia o assédio moral e sexual contra as trabalhadoras e servidoras (Lei da Cantada), dentre outras.
Na administração pública municipal de João Pessoa Simão Almeida ocupou os cargos de Secretário de Gestão Governamental e Articulação Política (SEGAP), Secretário da Ciência e Tecnologia, e Secretário do Meio Ambiente. No governo do Estado da Paraíba foi presidente da Fundação de Ciência e Tecnologia (FUNCET) e da Junta Comercial do Estado (JUCEP).
Simão Almeida deixou os filhos do seu primeiro casamento com Ana Rita de Castro Almeida, além de Emília Almeida e Camila Almeida, Virginia Almeida, João Pedro Almeida e João Maurício. Do seu segundo casamento com Marinês Lima de Farias nasceu Gabriel Farias de Almeida.