Nonato Guedes
O ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro, do Podemos, que tenta se viabilizar como candidato da chamada terceira via à presidência da República, abre o périplo de “presidenciáveis” na Paraíba em 2022, devendo lançar, no dia seis de janeiro, o livro “Contra o Sistema da Corrupção” e fazer contatos políticos que possam resultar em apoios num dos Estados onde o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato pelo PT, possui melhor avaliação, de acordo com as pesquisas. Sergio Moro tenta quebrar a polarização, no cenário nacional, entre Lula e o presidente Jair Bolsonaro (PL). Terá como principal anfitrião o deputado federal Julian Lemos, do PSL, partido que vai se fundir com o DEM e formar o “União Brasil” na conjuntura vindoura.
Sergio Moro, que ganhou notoriedade pela sua atuação à frente da Operação Lava Jato, hoje é questionado pela sua alegada parcialidade, sobretudo contra o ex-presidente Lula da Silva, a quem condenou. Ultimamente, Sergio Moro se tornou alvo de investigação do Tribunal de Contas da União por sua atuação na consultoria Alvarez & Marsal. Esses questionamentos retiram o ex-ministro da zona de conforto em que até então se encontrava e têm obrigado Sergio Moro a dar satisfação, constantemente, sobre supostos desvios de conduta ou eventuais excessos cometidos no exercício da magistratura. Aliados do ex-juiz torcem para que as denúncias contra Moro levem-no a polarizar o páreo com Lula, ocupando, assim, a vaga que, teoricamente, conforme as pesquisas, está reservada para Bolsonaro. O líder petista, depois de obter anulações das condenações que lhe foram imputadas e tornar-se elegível em 2022, passou a liderar invariavelmente pesquisas de intenção de voto para o pleito do próximo ano.
O foco do pré-candidato Sergio Moro é o eleitorado conservador e, nesse aspecto, ele concorre na mesma faixa em que opera o presidente Jair Bolsonaro. Quando veio à Paraíba como juiz em 2017, Moro já repercutia como figura central no enfrentamento da corrupção no país, sendo considerado uma espécie de “cruzado” da pauta moralizadora. A Operação Lava Jato foi inspirada, em muitos aspectos, na Operação Mãos Limpas, desencadeada na Itália, e Sergio Moro foi elevado à condição de “herói” nacional. Sua atuação como ministro da Justiça no governo Jair Bolsonaro, porém, foi pálida, já que ele não conseguiu avançar na agenda que havia traçado, focada no combate implacável à criminalidade e no combate sistemático à corrupção. O ex-ministro deixou o governo acusando o presidente Jair Bolsonaro de manobras de interferência em investigações na Polícia Federal, sobretudo as que envolviam parentes e figuras próximas do chefe do Executivo.
Esta semana, a credibilidade do ex-juiz e presidenciável foi novamente colocada em xeque quando ele admitiu que a Lava Jato, sob seu comando, “combateu o PT”. Houve reações indignadas de eleitores petistas ou simpatizantes do ex-presidente Lula da Silva, que encararam a declaração de Moro como uma confissão do seu envolvimento em orquestração para tentar destruir o Partido dos Trabalhadores. O advogado Marco Aurélio de Carvalho, integrante do Grupo Prerrogativas, chegou a afirmar: “São declarações vergonhosas e verdadeiramente reveladoras de uma parcialidade criminosa, que já foi reconhecida até pelo Supremo Tribunal Federal e que trouxe o país à triste realidade dos dias de hoje, deixando um rastro absolutamente significativo de destruição e miséria”. Na sequência, enfatizou: “Chegou a hora de Moro prestar contas à Justiça”.
Já a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, assim reagiu em suas redes sociais: “Moro escancara sua parcialidade e confessa que Lava Jato foi para combater o PT. O projeto político sempre esteve claro, a toga só foi um trampolim”. Gleisi Hoffmann escreveu que Sergio Moro “ajudou a eleger um traste e a destruir o país e agora se apresenta como a solução. Juiz corrupto e cara de pau”. Moro havia dito, em entrevista a uma emissora do Mato Grosso que não poderia seguir apoiando o governo Bolsonaro e emendou: “Tudo por isso por medo do quê? Do PT? Não. Tem gente que combateu o PT na história de uma maneira muito mais efetiva, muito mais eficaz: a Lava Jato”. No julgamento em que Moro foi considerado parcial, o ministro Gilmar Mendes afirmou que se tratava do “maior escândalo judicial da nossa história”. Moro tenta sobreviver ao bombardeio, mas não há sinais de trégua no combate à sua atuação, sobretudo incriminando Lula e outras figuras do PT.
No livro que lançará em João Pessoa no dia seis de janeiro, Sergio Moro define como desafiador o seu trabalho de juiz da Lava Jato, “atuando em casos de grande corrupção em um ambiente de impunidade”. E relatou: “Figuras importantes da política e do mundo empresarial foram processadas, julgadas e presas. A pressão para que os processos não prosperassem, as dificuldades de investigação, prova e tramitação das ações foram imensas, assim como os ataques pessoais. Foi o preço a pagar por aplicar a lei frente a poderosos interesses”. Além da narrativa de experiências pessoais, o livro do ex-juiz Sergio Moro traz opiniões suas sobre alguns temas relevantes para o país como democracia, combate à corrupção, ao crime organizado e à lavagem de dinheiro, Estado de Direito e funcionamento das instituições brasileiras. No arremate, Moro afirma: “Em muitas oportunidades, os obstáculos que enfrentei como juiz ou como ministro foram intransponíveis, apesar do meu empenho”. A sucessão presidencial é outro desafio que se apresenta na trajetória do magistrado, sendo que a sua performance na disputa é uma grande incógnita.