Nonato Guedes, com “Jornal da Paraíba”
No dia primeiro de janeiro de 1987, a TV Cabo Branco, primeira emissora de televisão de João Pessoa, entrou no ar em caráter definitivo como afiliada da Rede Globo. Juntamente com a TV Paraíba, sediada em Campina Grande, a Cabo Branco completa 35 anos marcando a história do Estado pelo compromisso com o jornalismo. Na manhã deste domingo, 2, o programa “Paraíba Comunidade”, apresentado por Hidelbrando Neto, trouxe uma edição especial sobre momentos marcantes da história das TVs e depoimentos de dirigentes e funcionários, falando nas mudanças que ocorreram durante todo o período, da linguagem ao formato da produção jornalística. As inovações foram destacadas, também, por professores e alunos do Curso de Comunicação da Universidade Federal da Paraíba, que realçaram como ponto positivo a aproximação das TVs com a comunidade.
Edilane Araújo, que ocupou a bancada do JPB2, o telejornal mais assistido da Paraíba durante 30 anos, não esconde a lembrança da emoção que foi estrear ao vivo na TV Cabo Branco. Atualmente editora de qualidade da Rede Paraíba, ela assim descreveu os primeiros momentos na emissora: “Aquilo foi um choque. Para todos foi uma estreia ao vivo, a equipe toda nova, todo mundo começando, então foi um nervosismo tremendo e eu coloquei o lado atriz para fora e sustentei, porque eu seria o resultado final do trabalho da equipe naquela estreia”. A referência de Edilane é ao lançamento da TV Cabo Branco, num tempo em que não se podia falhar e tudo tinha que ser perfeito. Revela que, por isso, a recomendação era que o programa de estreia fosse gravado, porém, a emissora gravou apenas um trecho do arquivo e a estreia teve que ser ao vivo.
A carreira da jornalista na emissora começou, na verdade, antes do lançamento, em 1986, quando a TV Cabo Branco estava em caráter experimental. Pela ausência de uma filial, o Estado não possuía referências locais de telejornalismo. Recife, por ser mais próximo, servia como inspiração para os profissionais. Edilane conta que, passando do Betacam – um tipo de fita utilizada em videocassetes – até o digital, soube se reinventar e se adaptar durante todo esse tempo de mudanças e avanços tecnológicos. Foi essa capacidade de se refazer que a tornou a única apresentadora no Brasil, mulher, que passou tanto tempo na mesma emissora e na mesma bancada. Sua substituta na bancada do JPB Segunda Edição, Larissa Pereira, foi a primeira jornalista paraibana a atuar na bancada do “Jornal Nacional” como apresentadora, durante as comemorações dos 50 anos do telejornal de maior audiência do país.
Edilane afirma que uma das mudanças, que pode parecer simples ao telespectador, foi a saída de trás das bancadas. Hoje se anda, aponta para a tela, interage com o público e até se dança. Mas, tempos atrás – relata – os âncoras tinham uma forma mais dura de apresentar o jornal. E foi durante essa adaptação que Edilane cravou uma de suas assinaturas, conforme o “Jornal da Paraíba”. Ela mesma explica: “O passinho que despretensiosamente fiz quando fui gravar uma escalada pela primeira vez e não quis dar as costas para o telespectador. Eu fiz porque achava que não poderia ficar de costas para o telespectador, era um desrespeito para com ele. E quando eu parei de fazer, comecei a fazer direto da bancada a escalada, passaram a ligar ‘porque ela não fez o passinho?’, querendo o passinho, e eu tive que adotar esse passo até os últimos momentos de apresentação do JPB2”. Para Edilane, hoje, o desafio, junto com o papel da televisão, é oferecer um conteúdo que já se sabe que é de interesse do público, justamente pela voz mais ativa que o telespectador apresenta. Diz que não tem mais como soltar a mão da tecnologia e das mídias sociais e que o telejornalismo precisa se aliar a esses novos meios de comunicação e oferecer matérias mais acuradas e especializadas.
– A internet veio e ocupou um espaço, mas vejo que a TV é o único veículo hoje que consegue transmitir conteúdo audiovisual para milhões de pessoas simultaneamente e sem perder a qualidade. A internet transmite para milhões, mas tem um limite e vai ter local que as pessoas não vão acessar. A TV, não; tendo energia, as pessoas irão receber o conteúdo e com muita qualidade – comentou. Edilane Araújo deixou a bancada depois de 33 anos por escolha própria. Ressalta que foi uma decisão pensada e trabalhada: 30 anos era uma boa marca. Hoje como editora de qualidade, diz que o novo cargo deu um gás imenso em sua vida. “É um desafio e eu fiquei muito instigada. Uma mulher com mais de 50 anos, começando, recomeçando em uma nova função, novas atribuições, desafios, e não deixa de ser um estímulo na minha vida. É um recomeço”.