Nonato Guedes
Diante do alto índice de rejeição do governo e da figura do próprio presidente da República, vem sendo difundida em meios políticos influentes do país a teoria de que Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, provavelmente estará fora do segundo turno nas eleições deste ano. Se isto acontecer, será a primeira vez que um mandatário não vai para a rodada decisiva na eleição presidencial desde que os dois turnos foram instituídos como estratégia para confirmar tendências apriorísticas do eleitorado. Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Dilma Rousseff (PT) não só concorreram num segundo turno como saíram vitoriosos. Michel Temer (MDB), que sucedeu a Dilma Rousseff quando do impeachment desta em 2016, preferiu não disputar em 2018, diante da posição negativa do seu governo.
O prognóstico mais recente, feito de forma explícita, sobre a hipótese de Bolsonaro vir a ficar de fora do segundo turno este ano, partiu de Gilberto Kassab, ex-ministro e presidente do PSD, que trabalha para tentar viabilizar Rodrigo Pacheco (MG), presidente do Senado, como terceira via, mas mantém conversas constantes com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Kassab afirmou, em enrtevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”, que Bolsonaro “tem errado bastante”, o que resultou no derretimento de sua popularidade. Esse fato tem sido demonstrado em sucessivas pesquisas de intenção de voto realizadas por institutos especializados. Disse Kassab: “Ele (Bolsonaro) tem errado bastante. Tanto que tinha 60, 70% de aprovação, e hoje tem 20%. Acho que o presidente tem uma grande chance de não ir para o segundo turno”.
Para Kassab, o desgaste do presidente Jair Bolsonaro acentuou-se na pandemia de novo coronavírus, diante das atitudes negacionistas que ele ostentou e do próprio comportamento errático do governo na condução da política de enfrentamento à crise sanitária, com impasses em negociações para aquisição de vacinas, polêmicas sobre a adoção de remédios não cientificamente comprovados e, mais recentemente, sobre a imunização de crianças no território nacional. Essa postura isolou o presidente da República no contexto internacional, tanto que Bolsonaro foi olimpicamente ignorado em conferências e outros eventos de grande repercussão no ano passado no exterior. Não obstante ter avançado no país o programa de imunização de grupos sociais, o próprio mandatário deu péssimo exemplo, negando-se a ser imunizado contra a covid-19 e desdenhando de estatísticas alarmantes sobre número de mortos e casos de contaminação pela doença no Brasil.
Em paralelo, o governo de Bolsonaro tem se mostrado incompetente para fazer face à crise econômica e social que se instaurou com as restrições a atividades do setor produtivo como medida preventiva contra o alastramento da covid. Os números sobre índice de desemprego ainda são elevados e também é elevado o sentimento de desconfiança por parte de camadas da população quanto a soluções de curto prazo para os desafios colaterais que vieram com a pandemia. Gilberto Kassab, numa análise fria dos números e da conjuntura, assim avaliou: “Não vejo, sinceramente, nenhuma chance de crescimento da popularidade do presidente da República. Acho que o teto máximo dele (Bolsonaro) é de 22,23%. E acredito que poderá cair mais”. Citou como mais recente erro o desprezo do presidente pela tragédia das enchentes na Bahia. “A população vê o presidente num jet ski enquanto a Bahia está lá, debaixo d’agua”, ressalta.
E acrescenta: “Não estou dizendo que ele não deva ter férias. Mas acho que qualquer outro que fosse presidente teria interrompido as férias. É um gesto importante mostrar a solidariedade do governo. A boa política mostra que ele devia estar presente lá porque precisa dar o exemplo”, concluiu o presidente nacional do PSD. Parlamentares da base governista, principalmente os que são interlocutores mais próximos de Jair Bolsonaro, deixam escapar que parece haver um certo desestímulo da parte dele em concorrer a um novo mandato, talvez por ter consciência da sua impopularidade e, também, em virtude do crescimento constante da vantagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que ressurgiu com força no cenário político. Em algumas áreas cogita-se, até mesmo, a hipótese de que Bolsonaro, ao invés de disputar a reeleição, concorra a um mandato de senador pelo Estado do Rio, onde sua militância política é baseada. Em termos concretos, o capitão-presidente segue uma trajetória melancólica na política, extremamente diferente da conjuntura que o consagrou como suposto “mito” na campanha eleitoral de 2018.