Nonato Guedes
Em entrevista concedida, ontem, em João Pessoa, à rádio Correio Sat, o pré-candidato a presidente da República, Sergio Moro, do Podemos, se disse contra a reeleição ao Executivo e prometeu acabar com esse instituto propondo, já no começo de 2023, caso seja eleito, a sua extinção para o mandato seguinte. Ex-juiz da Operação Lava Jato e ex-ministro da Justiça e Segurança do governo de Jair Bolsonaro (PL), Sergio Moro repetiu promessa demagógica que foi feita pelo atual mandatário na campanha de 2018, em entrevista ao Jornal Nacional, da Rede Globo, e que não foi cumprida, já que não se conhece qualquer articulação de Bolsonaro junto a parlamentares da sua base para provocar aquela iniciativa e, concretamente, é tida como certa a candidatura do capitão a um novo mandato no pleito de outubro vindouro.
Sergio Moro, como pré-candidato, atua como franco-atirador, dirigindo críticas ao governo de Bolsonaro e aos governos petistas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da ex-presidente Dilma Rousseff, esta alcançada por um processo de impeachment em 2016. Na entrevista de 2018, Bolsonaro anunciou que pretendia conversar com o Parlamento para viabilizar proposta de uma excelente reforma política de que faria parte o fim do instituto da reeleição. “No caso, começa comigo se eu for eleito”, acrescentou ao “Jornal Nacional”. A reeleição para presidente da República continuou válida e uma outra promessa de Bolsonaro – a de reduzir o número de parlamentares, igualmente não vingou. Aliás, o atual presidente, que esteve sem partido durante a maior parte da sua gestão, depois de ter se desfiliado do PSL por não ter tido autonomia para controlar todo o partido, acabou se filiando ao PL em novembro como condição legal para concorrer a um novo mandato.
Em junho de 2019, Bolsonaro acenou para a possibilidade de tentar um segundo mandato consecutivo. “Se tiver uma boa reforma política, eu posso até nesse caldeirão jogar fora a possibilidade de reeleição. Agora, se não tiver uma boa reforma política e se o povo quiser, estamos aí para continuar mais quatro anos”. Na entrevista na Paraíba, o ex-juiz Sergio Moro alegou como justificativa para ser contra a reeleição ao Executivo que “o poder sobe à cabeça dos seus ocupantes”, exemplificando diretamente com o caso de Jair Bolsonaro, que, a seu ver, ter traído compromissos assumidos com o povo brasileiro por ter se deslumbrado com a sua chegada ao Palácio do Planalto. “Eu entrei no governo não para ter um cargo mas para implantar um projeto de interesse nacional”, justificou Sergio Moro, ao ser indagado sobre a razão que o levou a aceitar o Ministério da Justiça e da Segurança Pública.
De acordo com o ex-juiz da Lava-Jato, o “projeto de interesse nacional” que havia concebido na gestão de Jair Bolsonaro não pôde ser levado à frente porque foi sabotado em sua essência e também porque houve pressões de setores influentes, poderosos, para que ele privilegiasse, nas apurações de crimes ou de responsabilidades, figuras ligadas ao entorno familiar e político do presidente da República. Com tais observações, sem descer a detalhes, ele deixou implícita a confirmação de denúncias que havia feito sobre tentativas de interferência política em investigações de órgãos que estavam subordinados ao seu comando como a Polícia Federal. Na época em que Sergio Moro era ministro, a imprensa pôs em relevo aborrecimentos que ele estaria causando ao presidente Jair Bolsonaro por ter avançado em apurações que comprometiam filhos do presidente da República. A partir de alguns episódios tornou-se insustentável a sua permanência no governo e o então ministro acabou pedindo exoneração.
A promessa de Sergio Moro sobre o fim da reeleição pode vir a ter o mesmo destino da que Jair Bolsonaro fez – ou seja, a lixeira, e parece mais inexequível porque a possibilidade de Moro destronar Lula e o capitão da liderança na corrida sucessória ainda é muito vaga, sinalizando mesmo ser impossível, não obstante ele tenha insistido em se apresentar como o legítimo representante da chamada terceira via que tenta se viabilizar no processo eleitoral brasileiro. O ex-juiz bateu forte tanto no governo de Bolsonaro como nos governos petistas e deu a entender que eles constituíram experiências que a sociedade não deveria ver repetidas, pelos alegados erros cometidos e até por irregularidades. Moro não deixou de mencionar os escândalos do mensalão e do petrolão, como, por igual, referiu-se a escândalos da Era Bolsonaro. Colocou-se, então, como alternativa ao passado e ao presente, agitando não apenas a bandeira da moralização refletida na atuação da Lava-Jato, mas também promessas de mudanças no capítulo do emprego e renda, de melhor qualidade da Educação e da Saúde, bem como o compromisso com execução de obras públicas que façam o país avançar. Um ponto polêmico das falas de Moro é sobre reforma no Judiciário. Ele fez acenos nessa direção ao comentar decisões da Suprema Corte anulando sentenças contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A impressão que ele quis deixar foi a de que está preparado para debater sobre quaisquer temas da conjuntura brasileira na atualidade.
O ex-juiz escolheu para deflagrar a sua pré-campanha à presidência da República o Estado que é considerado pela mídia o “mais lulista” do país, em termos proporcionais. Lula confia tanto nos votos do eleitorado paraibano que se permitiu não visitar o Estado no giro que encetou, no ano passado, por Estados nordestinos, e até o momento não há data definida para sua vinda. O leque de apoios à candidatura do líder petista vai do governador João Azevêdo (Cidadania) ao ex-governador Ricardo Coutinho (PT), dois ex-aliados que romperam politicamente, passando pelo senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) e pelo ex-prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo. Moro chegou a ser hostilizado por grupos que são antipáticos ao seu projeto como candidato. Mas demonstrou, nas declarações e entrevistas, que, independente de potencial eleitoral, traz contribuições valiosas ao debate nacional, suscitando temas que devem, sim, figurar na ordem do dia da agenda, a exemplo do enfrentamento à corrupção.