Nonato Guedes
Enquanto o professor Charliton Machado oficializou a desistência de sua pré-candidatura pelo PT ao Senado na Paraíba, dizendo-se decepcionado com decisões internas que, a seu ver, configuram “retrocessos”, o ex-prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, não parece abrir mão do empenho para viabilizar sua candidatura ao governo do Estado pela legenda, à qual retornou recentemente, depois de militância ativa no PV e passagem pelos quadros do PSD. Cartaxo conversou com o ex-ministro José Dirceu, devolvido à condição de “eminência parda” do PT nacional e ora cumprindo agenda de contatos políticos na Paraíba. Pelo que deixou transparecer, obteve sinais encorajadores para seguir em frente na sua pretensão.
A vaga de candidato ao Senado no PT, enquanto isso, passa a ser disputada com mais ardor pelo ex-governador Ricardo Coutinho, outro quadro que retornou à base petista depois de uma trajetória fulgurante no PSB, pelo qual se elegeu duas vezes prefeito de João Pessoa e duas vezes governador, tendo perdido na última campanha municipal na Capital, em 2020, quando ensaiou volta espetacular em meio ao desgaste causado por processos da Operação Calvário, que versam sobre desvio de recursos públicos na Saúde e na Educação. Ricardo, a dados de hoje, é inelegível face a uma interpretação do Tribunal Superior Eleitoral, mas seus advogados e a assessoria jurídica do PT tentam remover quaisquer óbices em tempo hábil. Em algumas pesquisas informais de intenção de votos, o ex-governador figura na liderança da corrida senatorial, confrontado com outros postulantes como os deputados federais Efraim Filho, do DEM, Aguinaldo Ribeiro, do PP e o pré-candidato Bruno Roberto, do PL.
O martelo sobre definições do posicionamento do PT na Paraíba está para ser batido ainda este mês, quando da anunciada vinda do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, conforme o próprio Dirceu sinalizou. Aliás, o ex-ministro José Dirceu veio à Paraíba não só para passear no litoral, cujas belezas ele aprecia, mas, também, para preparar o terreno com vistas à presença de Lula, com areas de pré-candidato do PT à presidência da República, líder absoluto de pesquisas realizadas por diferentes institutos de opinião pública. O emissário nacional petista esteve tanto com Ricardo Coutinho quanto com Luciano Cartaxo e, por telefone, conversou com outros líderes, como o presidente da Assembleia, Adriano Galdino, de quem ouviu apelos para mediar uma conversa de Lula com o governador João Azevêdo, tendo ouvido em resposta que não cabe intermediário nesse campo. Um encontro de Lula com Azevêdo é aguardado com expectativa, inclusive porque o governador tem reiterado declaração e compromisso de apoio à candidatura presidencial do líder petista. Mas “forças ocultas” trabalham internamente para evitar que isto aconteça.
Seja como for, o PT paraibano vislumbra chances de vir a compor chapa majoritária nas eleições de outubro, quer lançando candidaturas próprias, quer firmando aliança com outras forças políticas-partidárias de expressão. Dirigentes petistas dialogam, por exemplo, com a vice-governadora Lígia Feliciano, do PDT, que está politicamente rompida com o governador João Azevêdo e cujo nome já chegou a ser cogitado para pleitear o Palácio da Redenção dentro da estratégia nacional de acumulação de espaços para derrotar o bolsonarismo nos Estados. Um outro nome que tem sido cortejado é o do senador Veneziano Vital do Rêgo, presidente estadual do MDB, cuja pré-candidatura ao governo tem sido defendida por correligionários da legenda. Submetido a uma cirurgia nas cordas vocais em São Paulo, Veneziano não pôde aprofundar conversas com José Dirceu, mas certamente será um dos interlocutores do ex-presidente Lula da Silva na agenda que este cumprirá, possivelmente ainda nesta primeira quinzena de janeiro.
A Paraíba, embora seja um Estado pequeno no contexto das unidades da Federação, tem recebido atenções especiais do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo apoio que lhe manifestou em eleições presidenciais e também pela solidariedade demonstrada em episódios complicados da sua carreira, como o da prisão por 580 dias na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. O ex-governador Ricardo Coutinho, nesse aspecto, foi extremamente correto com Lula, da mesma forma como foi leal à ex-presidente Dilma Rousseff no processo de impeachment que ela enfrentou e que lhe custou o restante do segundo mandato no Palácio do Planalto. De um modo geral, Lula tem amplo apoio junto a forças políticas do Estado, incluindo o governador João Azevêdo (Cidadania). O interesse que se forma é quanto às definições da campanha do PT na conjuntura local – e, nesse particular, o consenso é absoluto: cabe a Lula, pré-candidato favorito a presidente da República, dar as coordenadas para os seus seguidores na Paraíba.