Nonato Guedes
A agenda do ex-juiz da Lava Jato Sergio Moro na Paraíba, como pré-candidato à presidência da República pelo Podemos, havia sido concebida por apoiadores seus como uma espécie de “treino” da sua atuação na carreira política que decidiu encarar após revezes sofridos no governo Jair Bolsonaro e no âmbito do Judiciário, com a anulação, pelo Supremo, de sentenças de condenação impostas por ele a figuras do PT como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas o estágio probatório de Moro na corrida política foi um fiasco. Ele teve dificuldades de comunicação com jornalistas e eleitores, foi vaiado e hostilizado por manifestantes e não agregou votos que facilitassem a sua penetração neste Estado nordestino como suposto representante da chamada “terceira via” à sucessão ao Planalto.
Estimulado pelo deputado federal Julian Lemos, um ex-bolsonarista de quatro costados, que coordenou a campanha do capitão em 2018 na Paraíba e no Nordeste e se elegeu à Câmara na cauda da popularidade do suposto “mito”, que foi, de fato, um cometa político, Sergio Moro não convenceu segmentos mais exigentes da sociedade com suas declarações de que está preparado para assumir os desafios da presidência da República. Em suas intervenções, acabou se apegando mesmo a um samba de uma nota só – o combate à corrupção, saudosista da época em que a operação Lava Jato foi aclamada como símbolo de combate ao sistema de degradação moral e política no Brasil. O tema da moralização dos costumes continua em voga para a sociedade, mas há outras questões mais graves ou urgentes implorando um olhar atento dos políticos, como a crise econômica (e seu corolário de níveis de desemprego), a crise social conexa e a problemática da vacinação de crianças e de outros grupos sociais contra a covid-19, além da crise sanitária como um todo, agravada por variantes do coronavírus.
Para esses problemas o ex-ministro da Justiça e da Segurança Paraíba não ofereceu respostas firmes, concretas, reveladoras do conhecimento da conjuntura nacional. Sergio Moro foi propositadamente vago, extremamente superficial na abordagem desses temas, ignorando que eles são tão candentes quanto o combate à corrupção, com a diferença de que, agora, estão na ordem do dia. Por outro lado, o pré-candidato a presidente da República pelo Podemos cometeu erro tático, na avaliação de “experts” políticos, ao atacar simultaneamente o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No primeiro caso, não convenceu porque, de certa forma, seu passado o condena como colaborador ativo de Bolsonaro, de quem divergiu numa queda de braço por poder na esfera da Polícia Federal. Sobre as críticas de Moro a Lula e ao PT perderam força depois que o Supremo Tribunal Federal anulou sentenças condenatórias por ele exaradas, uma das quais submeteu o líder petista à pena de 580 dias de detenção numa sala da superintendência da PF em Curitiba, no Paraná.
Sergio Moro, quando chamado à colação por jornalistas acerca das anulações de sentenças condenatórias, procurou passar a impressão de que o Supremo Tribunal Federal se apegou excessivamente a questões formais dos processos, principalmente os que foram movidos contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com isto insinuando que não houve juízo definitivo de valor e que, portanto, a inocência do líder petista ainda é questionável. Esse discurso pode até ter amparo nas tais “questões formais” a que alude o ex-magistrado ou dentro das chamadas tecnicalidades jurídicas que dão margem a interpretações distintas no fascinante universo jurídico. Mas o passaporte da elegibilidade conferido a Lula pelo STF, de tal sorte que o habilita a ser candidato este ano, e a liderança do ex-presidente em pesquisas de opinião pública, abalam o poder de argumentação de Sergio Moro ou de qualquer outro postulante ao Planalto. Ciro Gomes, que tentou enveredar por essa senda, que o diga.
O fato concreto é que a pré-estreia de Sergio Moro como pseudo-candidato, pelo menos na Paraíba, não repercutiu positivamente para o seu projeto político. As companhias de Moro, à direita, também o distanciam de segmentos médios da população que não idolatram o PT mas não se afinam necessariamente com conceitos radicais, muito parecidos com a barulhenta propaganda bolsonarista que invade periodicamente as redes sociais. Sergio Moro ficou devendo à Paraíba posições mais firmes, mais corajosas e mais densas sobre o que pensa da realidade brasileira. Aliás, o ex-ministro da Justiça no governo de Dilma, Eugênio Aragão, afirmou ao site Brasil 247 que Moro se perde por duas fraquezas: a vaidade, que se confunde com sua ambição, e a falta de inteligência. “Sergio Moro não passa de um burocrata bem treinado para passar em concurso público, mas que não sabe criar ou elaborar”. Na festa de aniversário do deputado Julian Lemos em Cabedelo, Sergio Moro revelou outra faceta: a gaiatice, que não combina com a pose de austeridade que vendeu ao Brasil. Partiu dele, na Paraíba, a iniciativa de puxar coro de vaias a Lula e a Bolsonaro em tom de foguetório carnavalesco, numa postura incompatível com a de candidato sério que deseja consertar o Brasil.