Nonato Guedes
O telefonema trocado entre o presidente da Assembleia Legislativa, Adriano Galdino (PSB) e o ex-ministro José Dirceu, que voltou a ser uma das “eminências pardas” do PT e da campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Planalto, reacendeu naturalmente, nos meios políticos paraibanos, a expectativa sobre uma definição do palanque do governador João Azevêdo para o candidato petista à presidência da República. Desde o ano passado, João Azevêdo deixou claro que quer apoiar Lula, independente de apoios que ele receba, como o do ex-governador Ricardo Coutinho, com quem está rompido e que voltou a se refiliar ao Partido dos Trabalhadores, dividindo espaços, agora, com outro ex-petista, o ex-prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo. Foi sobre a necessidade de diálogo entre Lula e Azevêdo que versou a conversa do presidente da ALPB, tal como ele narrou aos jornalistas. Apurou-se que há outros interlocutores do governador credenciados para promover o diálogo entre ele e Lula e que o próprio Azevêdo se movimenta para tanto.
O deputado Adriano Galdino sugeriu ao ex-ministro José Dirceu que mais importante do que conversar com ele seria uma conversa de Dirceu com o governador, “que é a maior liderança e contribuirá muito com o ex-presidente”, nas palavras do deputado, que já é eleitor declarado de Lula. Foi, então, que o ex-todo-poderoso chefe da Casa Civil no governo Lula e ex-presidente nacional do PT informou já estar em conversações com Azevêdo. O governador teria confirmado a Adriano Galdino o entendimento preliminar com emissários de Lula, mas o dirigente da Assembleia, que ficou de se encontrar com José Dirceu em Brasília, anunciou que quer avançar na celebração do acordo de João Azevêdo com Lula. Pelo que deu a entender, “é um processo que está sendo muito bem construído”. Ontem, o chefe do executivo admitiu que há uma ansiedade muita grande de “pessoas” para que seja sacramentada a sua aliança com Lula. “Mas estamos conversando, sim”, reagiu.
A expectativa em torno de desdobramento dos contatos políticos se dá em virtude da aceleração das decisões ligadas ao processo eleitoral deste ano, tanto para a presidência da República como para governos estaduais e também fechamento de decisões para eleições ao Senado e Câmara Federal. A Paraíba tem sido tratada como uma espécie de “caso à parte” porque há conflitos locais muito fortes, que só podem ser administrados com habilidade política, o que o pré-candidato Luiz Inácio Lula da Silva tem demonstrado em relação a outros Estados, onde concilia palanques distintos com facilidade e ao mesmo tempo firma composições entre contrários sem que isto afete o grande palanque nacional que costura para dar combate a Jair Bolsonaro (PL). Na Paraíba, o rompimento entre Ricardo Coutinho e João Azevêdo, em pouco tempo de governo deste, provocou reviravoltas locais que estão sendo digeridas com cautela por Lula e pela cúpula nacional petista.
Aqui, Ricardo foi um dos grandes cabos eleitorais da campanha que deu a vitória a João Azevêdo em primeiro turno no pleito de 2018, concorrendo pelo PSB e dando combate a nomes como Lucélio Cartaxo, então PV, irmão gêmeo do ex-prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, e ao ex-governador José Maranhão, do MDB. O divisor de águas deu-se quando o novo governo já estava instalado e Ricardo e João Azevêdo não se entenderam quanto à partilha de espaços de poder. O ex-governador manobrou pesadamente para “expulsar” Azevêdo do PSB, levando o governador a migrar para outro partido, o Cidadania, a fim de sobreviver politicamente. Na sequência, Ricardo pareceu “enjoado” do PSB e após concorrer por ele sem êxito à prefeitura de João Pessoa em 2020, deixou os quadros socialistas e retornou ao PT, tendo sua ficha abonada diretamente por Lula. O ex-prefeito Luciano Cartaxo, por não enxergar maiores possibilidades dentro do PV, migrou também de volta ao PT, onde tem estímulos para testar uma candidatura própria ao governo do Estado em 2022 com o apoio de Lula.
Não há dúvidas de que há forças ligadas a Lula na Paraíba, não necessariamente filiadas ao PT, operando para inviabilizar qualquer aproximação do ex-presidente da República com o governador João Azevêdo. Lula tenta se mover nesse terreno minado com o máximo de diplomacia porque não ignora, certamente, a aprovação que Azevêdo tem tido como gestor na Paraíba e, além disso, o desejo público do chefe do Executivo de somar com sua candidatura ao Planalto. Recusar o apoio de Azevêdo poderá ser, ou não, uma temeridade para Lula, dependendo de como evoluírem as condições de temperatura e pressão da sua pré-candidatura daqui para a frente. Mas o governador João Azevêdo, que hoje lidera um esquema político próprio na Paraíba, não pode ser cozinhado indefinidamente em “banho-Maria” pelo QG de Lula ou do PT, conforme sustentam aliados seus, até por causa da autoestima do chefe do Executivo em relação à sua biografia. Alega-se nos bastidores que Azevêdo está ligado a políticos direitistas, mas também é verdade que Lula, no périplo pelo país, tem feito alianças, inclusive, com políticos que o PT chamava de “golpistas” por terem apoiado o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. São fatos que elevam a temperatura na Paraíba e redobram a expectativa quanto ao desfecho da união Lula-Azevêdo para as eleições de outubro próximo. As apostas estão desenfreadas nos meios políticos locais.