Nonato Guedes
Além de postular a sua indicação, no campo da esquerda, como candidata ao governo do Estado nas eleições de outubro, a vice-governadora Lígia Feliciano tem assumido posição abertamente favorável ao apoio do seu partido, o PDT, à candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo PT. Na prática, a posição de Lígia pró-Lula coincide com movimentação avançada dentro das fileiras pedetistas em prol da composição com o nome de Lula, o que sacrificaria o ex-ministro Ciro Gomes, até hoje lançado pré-candidato do PDT ao Palácio do Planalto. Metade dos 25 deputados federais pedetistas tende a fechar com Lula, enquanto um terço segue a favor da candidatura de Ciro e acha cedo para a tomada de decisões com base em pesquisas eleitorais. De sua parte, Lígia vê Ciro como um “construtor valioso” da unidade da esquerda na corrida presidencial.
Segundo a coluna de Ricardo Noblat no site Metrópoles, há pressa entre parte da bancada do partido na Câmara Federal para definir se Ciro, cuja candidatura desidratou principalmente com a entrada na disputa do ex-ministro da Justiça e ex-juiz da Operação Lava Jato Sergio Moro, do Podemos, será o nome principal da legenda na disputa pela sucessão de Jair Bolsonaro. Os descontentes com o desempenho do vice-presidente nacional do PDT querem que o partido defina a situação no máximo até o final de fevereiro ou meados de março. A direção pedetista, entretanto, acha esse período cedo, pois a corrida eleitoral tende a esquentar ou tomar sua forma entre abril e maio, com coligações já desenhadas. Segundo “Revista Fórum”, em comum há pessimismo com as pesquisas eleitorais feitas em 2021 mostrando Lula e Bolsonaro bem à frente dos demais candidatos, bem como expectativa com os levantamentos que serão lançados este ano e que podem alterar algo no quadro eleitoral.
A CNN Brasil informou que os ex-ministros Ciro Gomes e Marina Silva (Rede), que foram adversários nas eleições de 2018, se aproximaram e podem disputar juntos as eleições de outubro. Ciro estaria fazendo movimentos para convencer Marina a concorrer como vice em sua chapa. A ex-ministra do Meio Ambiente, por enquanto, argumenta que não deseja concorrer a um cargo no Executivo, mas o PDT tem se mobilizado para tentar reverter esse quadro. Enquanto Ciro Gomes teve 12,47% dos votos em 2018, Marina conquistou 1% do eleitorado. Somados, os dois alcançaram 14,4 milhões de votos no primeiro turno. O dilema do PDT tem sido, ultimamente, o esvaziamento da pré-candidatura do ex-governador do Ceará, estimando-se que Ciro Gomes foi atingido, sobretudo, pelo lançamento de Sergio Moro, que começou a percorrer o país oferecendo-se ao eleitorado como “alternativa de centro” nas eleições, contra a polarização desenhada entre Lula e Bolsonaro.
No caso da vice-governadora da Paraíba, Lígia Feliciano, mulher do deputado federal Damião Feliciano, que preside o PDT no Estado, esta foi a segunda vez que ela se lançou como opção ao Palácio da Redenção. Quando o fez, na primeira ocasião, em 2018, acabou sendo convencida a abrir mão da postulação e recandidatar-se ao cargo de vice na chapa encabeçada por João Azevêdo, que concorreu pelo PSB. Na época, circulou a versão de que o então governador Ricardo Coutinho era contra a manutenção de Lígia na chapa de João como vice, como também circulou a notícia de que Coutinho decidiu permanecer no exercício do cargo até o último dia do mandato, deixando de concorrer ao Senado, por não confiar politicamente na vice-governadora. Se restaram mágoas do passado, elas parecem superadas. Ainda anteontem, numa entrevista à rádio “Correio”, Lígia cobriu Ricardo de elogios, creditando-lhe a autoria de “grandes avanços” em quase uma década na Paraíba.
Lígia, se não faz oposição aberta a João Azevêdo, diverge de alguns pontos do seu governo e coloca a pretensão de querer ser candidata ao Executivo como pretexto para tentar “consertar” o que, a seu ver, deu errado na Paraíba nos últimos anos. A perspectiva de lançamento de Lígia, em paralelo, é cogitada por segmentos do PT, que sonham com uma chapa de esquerda integrada por ela, pelo ex-prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, e pelo ex-governador Ricardo Coutinho. Lígia, por sua vez, tem se aproximado cada vez mais do PT e diz dialogar a contento com expoentes da legenda. Ricardo Coutinho e Luciano Cartaxo voltaram aos quadros petistas, o primeiro largando o PSB, o segundo deixando o PV. No PDT nacional, Lígia tem a simpatia do presidente nacional Carlos Luppi, que a lançou pré-candidata ao governo do Estado. “Sonhar o que é possível não é proibido”, declama a vice-governadora, citando como exemplo de mulher sonhadora que venceu a advogada Juliette Freire, sua conterrânea, que abocanhou o prêmio do Big Brother Brasil, reality show da Rede Globo de Televisão, em 2021. “Estou preparada para governar o Estado”, assegura Lígia Feliciano.