Nonato Guedes
É indiscutível o protagonismo do governador João Azevêdo (Cidadania) no processo eleitoral deste ano na Paraíba, quando estará em jogo a sua própria reeleição, bem como renovação de cadeira no Senado e disputas na Câmara Federal e Assembleia Legislativa. Aliados e adversários políticos do chefe do Executivo se movimentam no ensaio preliminar das articulações políticas levando em consideração os passos de Azevêdo. Já se sabe que o governador pretende continuar atuando no campo da esquerda, sem, no entanto, romper com apoios influentes de líderes e expoentes de “centro”. Também é fora de dúvidas que o seu candidato “in pectoris” à presidência da República é o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT. Enfim, o governador se põe no aguardo de uma definição partidária, diante dos rumores de que Cidadania e PSDB podem se “federar” na Paraíba, apesar das incompatibilidades notórias entre ele e o grupo Cunha Lima.
João Azevêdo é o protagonista maior não apenas porque está no comando do Palácio da Redenção, mas porque, à frente do Cidadania, para onde migrou saído do PSB, firmou liderança própria no cenário político estadual, passando a chefiar um agrupamento de figuras políticas que estavam órfãs de comando com pulso firme e obstinação pelo poder. Não se passa uma semana sem que prefeitos e outros líderes políticos anunciem intenção de compromisso com o projeto de Azevêdo à reeleição. Por outro lado, políticos leais como o atual presidente da Assembleia Legislativa, deputado Adriano Galdino, têm se oferecido para cumprir missões políticas espinhosas cujo desfecho seja o de facilitar a caminhada de João rumo a um novo mandato. O chefe do Executivo atua em várias frentes para não dispersar supostos aliados e vai laborar nesse esforço até onde for possível acomodar pretensões ou ambições individuais sem prejuízo do próprio projeto de ser reconduzido ao governo do Estado.
Há dois desafios prementes que Azevêdo tem que equacionar. O primeiro diz respeito à permanência ou não nos quadros do Cidadania, dependendo de como evoluir a hipótese de federação que uniria aquele partido ao PSDB. No âmbito estadual, a união é remotíssima. Além de dar combate frontal ao governo, o PSDB tem pré-candidato à sucessão estadual, na pessoa do deputado federal Pedro Cunha Lima. Há fortes resistências, tanto no Cidadania quanto no PSDB, à federação em termos locais, inclusive porque, segundo as versões, em se confirmando a aliança, o comandante da sigla resultante seria o governador do Estado. A deputada estadual Camila Toscano já avisou: “Não faz sentido eu me submeter a um governo que combato desde o início e a quem chamo de desgoverno”. Esta é a opinião dominante entre outros líderes tucanos, como o próprio Pedro Cunha Lima, que não se vê dividindo metro quadrado com João Azevêdo dentro de uma sigla.
O outro desafio premente que está posto para João Azevêdo diz respeito ao espaço que ele terá para formar palanque próprio em apoio à candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A impressão que se tem é que, dentro do PT paraibano, o ex-governador Ricardo Coutinho e o ex-prefeito de João Pessoa Luciano Cartaxo trabalham para que o apoio de Azevêdo não seja valorizado pelo ex-presidente Lula na campanha que este encetará, possivelmente a partir de fevereiro, quando se cogita o lançamento oficial da candidatura ao Planalto. Lula tem adiado sua vinda à Paraíba para contatos políticos, alegando outras prioridades, mas isto só faz reforçar as dúvidas sobre o papel que Azevêdo realmente terá no contexto da campanha do petista em nosso Estado. Em todo caso, esta é uma definição que não pode ser protelada indefinidamente porque o próprio governador João Azevêdo tem suas metas de formação de chapa e de identificação de aliados com quem pode transitar na Paraíba na campanha com vistas às eleições de outubro. Daí acreditar-se que a definição nesse capítulo possa vir mais cedo do que imaginam os opositores do governante paraibano.
Que o governador precisa liquidar o quanto antes os impasses políticos à vista, esta é a posição defendida por interlocutores de sua mais extrema confiança, preocupados com um descontrole da situação lá na frente, em meio aos tumultos que serão inevitáveis numa disputa eleitoral acirrada como a que se prevê, tanto em nível federal, como em nível estadual. Há problemas com ditos aliados, como o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), cuja suposta candidatura ao governo é sempre agitada por emedebistas ortodoxos. “Bombeiros” dentro do MDB, como o deputado Raniery Paulino, chegam a sugerir que o partido tente atrair o governador para suas fileiras, o que resolveria dois problemas: a aliança de João com o MDB e o fim do impasse envolvendo o Cidadania e a federação com o PSDB. A sugestão de Raniery já teria chegado aos ouvidos do presidente nacional emedebista, Baleia Rossi. Mas tudo está no campo da especulação e João não cogita se filiar ao MDB. Independente disso, o fato é que 2022 chegou – e o governador, em paralelo com a agenda administrativa, terá que se desdobrar na parte política, fazendo valer o protagonismo que hoje lhe é assegurado como um dos polos de liderança no Estado da Paraíba. São, por assim dizer, abacaxis que estão à espera para serem descascados o quanto antes,