Nonato Guedes
O deputado federal paraibano Wellington Roberto, líder do Partido Liberal na Câmara, confirmou que o PL está lutando para obter mais cargos no governo do presidente Jair Bolsonaro e, pessoalmente, entende que o partido deve ser consultado em escolhas que serão processadas. A opinião de Wellington reflete o sentimento dominante no partido desde que Bolsonaro assinou ficha de filiação, após uma longa temporada sem partido, no vácuo de seu desligamento do PSL. O PL é controlado por Valdemar Costa Neto, condenado e preso no mensalão, e trabalha para se consolidar como a maior bancada da Câmara a partir de março, quando deputados poderão mudar de sigla sem perder o mandato.
Uma reportagem do jornal “O Estado de S. Paulo” revela que a possível consolidação do PL como maior bancada na Câmara aumenta o apetite do novo partido do presidente da República na reforma ministerial. Até agora, calcula-se que pelo menos 12 dos 23 ministros devem deixar os cargos até o fim de março para concorrer às eleições. A mudança deve desfigurar o primeiro escalão do governo, que atualmente conta com apenas nove remanescentes da composição original. A bancada na Câmara, impulsionada pelo ingresso de Bolsonaro no PL, poderá passar de 43 para até 70 deputados na “janela partidária”, prazo de 30 dias que os parlamentares têm para trocar de sigla. O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que é paraibano, mas não se filiou ainda a nenhum partido, é listado como provável candidato em outubro de 2022 – ora ao governo do Estado, a uma vaga no Senado ou a deputado federal. O próprio Bolsonaro já estimulou Queiroga, de público, a assumir projeto político.
A indefinição do palanque bolsonarista na Paraíba tem dificultado os passos do presidente estadual da sigla, mas o deputado Wellington Roberto garante que esse palanque estará disponível e será forte para se contrapor aos palanques múltiplos que estão sendo anunciados em apoio à candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT. Um filho de Wellington, Bruno Roberto, tenta se viabilizar como pré-candidato ao Senado pela Paraíba mas não avançou substancialmente na construção desse projeto. Sobre nomes de paraibanos para ocupar cargos de escalões do governo federal quando da reforma ministerial, Wellington Roberto faz silêncio e evita maiores informações. No Palácio do Planalto, auxiliares de Bolsonaro têm dito que as substituições devem ocorrer “sem surpresas”, com a promoção dos secretários executivos ao primeiro escalão, ou seja, à titularidade dos ministérios. Essa fórmula, entretanto, é questionada por integrantes do PL e de outras siglas do Centrão como o Progressistas e o Republicanos.
– Cabe ao presidente decidir, mas em determinadas pastas, é preciso encaminhar mudanças – afirmou Wellington Roberto. “Às vezes, a indicação do secretário executivo é de um ministro, não de um partido. Mas o partido deve ser consultado”, acrescentou. A expectativa de mudanças já começou a provocar disputas. O embate opõe políticos de carreira, técnicos, integrantes da ala ideológica e até militar. Um dos exemplos é a recente “fritura” da ministra-chefe da Secretaria de Governo, Flávia Arruda (PL-DF). Contestada até na Câmara, de onde se licenciou, sob o argumento de que não cumpre acordos para distribuição de emendas, ela viu circular o nome do chefe de gabinete de Bolsonaro, Célio Faria Júnior, como cotado para lhe suceder. Com histórico de cargos na Marinha, Faria Júnior é amigo do presidente. Flávia Arruda pretende concorrer ao Senado e aliados de Bolsonaro no Centrão apostam que a saída do PL da equipe seria compensada com um assento no Ministério da Infraestrutura.
O deputado Wellington Roberto disse que considera naturais as pressões e movimentações dentro da base governista para a ocupação de espaços e avalia que não haverá impasse capaz de prejudicar a relação de entrosamento que tem sido mantida. Esta é, também, a opinião do vice-líder do governo na Câmara, deputado Evair de Melo (Progressistas-ES). Ele afirmou ao “Estadão” que as cúpulas do PL, do Progressistas e do Republicanos, tripé de apoio à reeleição de Bolsonaro, têm participado das negociações para a reforma ministerial do fim de março. E assegurou: “Não vai ter ruptura. Naturalmente, pode ter um caso ou outro que tenha que fazer acomodação, mas não tem nada de surreal. Valdemar Costa Neto, Ciro Nogueira (ministro da Casa Civil) e Marcos Pereira (presidente do Republicanos) serão ouvidos. Dos 12 nomes que podem sair, acho que uns oito saem de fato. Se puder subir o secretário executivo, sobe”, prognosticou ele. A expectativa é grande.