Nonato Guedes
Se o senador Veneziano Vital do Rêgo, presidente estadual do MDB, anunciar oficialmente sua pré-candidatura ao governo nas eleições de outubro, este será, sem dúvida, o fato novo de forte impacto na conjuntura local, alterando o eixo de apoios e composições que por enquanto, teoricamente, estão postos na mesa. O próprio senador vinha manifestando opção de apoio à candidatura do governador João Azevêdo (Cidadania) à reeleição, e sua mulher, a doutora Ana Cláudia, ocupa uma secretaria de Articulação Municipal na gestão em andamento. Houve desentendimentos entre Veneziano e Azevêdo, aparentemente a pretexto do controle do Podemos na Paraíba, que a esposa do senador perdeu, mas também envolvendo outras questões políticas e administrativas que não estão suficientemente esclarecidas para a opinião pública. A perspectiva da candidatura de Veneziano agita os meios políticos paraibanos.
De concreto, o governador e o vice-presidente do Senado Federal estão distanciados e já há alguns meses não compartilham espaços em solenidades e eventos públicos. Nesse ínterim, explodiu na base emedebista o coro pela candidatura própria do partido à sucessão, tendo como protagonista Veneziano, puxado pelo vereador Mikika Leitão, que preside o diretório na Capital. O reforço maior, porém, tem sido a nível nacional, com declarações do presidente do MDB, deputado Baleia Rossi (SP), favoráveis a uma candidatura de Veneziano a governador e elogios ao seu “preparo” e “competência” para comandar os destinos do Estado. Veneziano, que teve de fazer um procedimento cirúrgico em São Paulo, sustou contatos políticos mas pretende firmar posicionamento até o final do mês. Uma fonte muito próxima a ele definiu que o parlamentar está em “fase de reflexão” sobre os desdobramentos de uma reviravolta que venha a provocar no cenário estadual.
Pelo que deu a entender o presidente Baleia Rossi em declarações a emissoras de rádio da Paraíba, Veneziano, pelo seu prestígio e pela relevância que tem no próprio contexto político nacional, bem como dentro do MDB, terá uma espécie de “carta-branca” para decidir o rumo que julgar conveniente no território em que atua diretamente. Rossi fez a ressalva para lembrar que, apesar do MDB ter uma pré-candidata própria á presidência da República, a senadora Simone Tebet (MS), o diretório nacional respeitará a realidade dos Estados. Nessa linha, Veneziano ganharia liberdade para se compor com a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com quem tem canal direto de interlocução. “Poderemos ter palanques duplos ou triplos, de acordo com as decisões. O MDB respeitará as decisões regionais, ou seja, não vai interferir nelas”, explicitou Baleia Rossi.
Há muita expectativa em outros partidos na Paraíba sobre a decisão final de Veneziano, devido ao seu prestígio e capacidade de articulação política. Ex-prefeito de Campina Grande, uma das cidades mais importantes do Nordeste, por duas vezes, Veneziano foi deputado federal e ziguezagueou entre o extinto PMDB, PSB e MDB, neste último ascendendo à presidência do diretório regional no vácuo da morte do ex-senador José Maranhão. Sua candidatura própria divide o partido, onde uma ala capitaneada pelo deputado estadual Raniery Paulino defende ostensivamente o apoio à reeleição de João Azevêdo, em cujo governo o pai de Raniery, Roberto Paulino, ocupa secretaria influente. O martelo será batido pela maioria do diretório paraibano, sem pressão da direção nacional, o que torna Veneziano peça-chave no contexto para encaminhar indicativos com força de lei. Uma vantagem que ele tem é o trânsito dentro do PT, tanto no âmbito nacional, com Lula, como em nível local, onde é respeitado por burocratas petistas.
A perspectiva de aproximação MDB-PT na Paraíba coincide com movimentos de líderes nacionais como o ex-presidente Michel Temer, que não descarta um diálogo seu com o ex-presidente Lula da Silva, virando de uma vez por todas a página de divergências remanescentes do impeachment de Dilma Rousseff, quando Temer foi considerado por petistas como “golpista” e “traidor”, que teria manobrado nos bastidores para afastá-la do cargo, versão confirmada pelo ex-deputado Eduardo Cunha no livro “Tchau, Querida – O Diário do Impeachment”. Temer prefere não tomar ao pé da letra, ou seja, como uma crítica a ele, a cogitação do PT de revogar a reforma trabalhista aprovada no seu governo. Lula já deixou claro que pretende atualizar alguns pontos, como a jornada intermitente e a regulamentação dos trabalhadores de aplicativos.
Se há chances de evoluir um diálogo do MDB de Temer com o ex-presidente Lula, não se pode afiançar com certeza. Mas é certo que avança o entendimento entre o chamado MDB nordestino e líderes do PT nacional como Luiz Inácio Lula da Silva, favorito até agora em pesquisas de opinião para as eleições de outubro. Esse clima, naturalmente, poderá contribuir para aprofundar laços entre Lula e o senador Veneziano Vital do Rêgo. Aliás, o “condestável” petista, desde que retomou as articulações políticas, privilegiou mais Veneziano, em termos de Paraíba, do que o próprio governador João Azevêdo, que ainda divide espaços com o ex-governador Ricardo Coutinho e o ex-prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo. O fato é que a hora da verdade está chegando para o MDB local – e que ela pode significar um profundo divisor de águas na conjuntura política que tem se arrastado até agora sem grandes inflexões no Estado da Paraíba.