O Partido dos Trabalhadores e o Partido Socialista Brasileiro tentam costurar um acordo para vigorar já nas próximas eleições de outubro, mediante a formação de uma “federação” entre as duas legendas, prevista em lei, mas as desconfianças e intransigências podem inviabilizar o projeto, segundo uma reportagem do site “Poder360”, assinada por Mariana Haubert. As disputas locais e os impasses sobre a hegemonia de cada um na nova configuração podem inviabilizar a união, tanto assim que integrantes das duas legendas começam a admitir a possibilidade de o projeto não engrenar. Na Paraíba, o PSB pode atrair de volta o governador João Azevêdo, que tende a deixar o Cidadania se for firmada a federação entre esse partido e o PSDB. Mas Azevêdo não tem afinidades com a cúpula do PT local, embora declare posição favorável à candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em termos nacionais, a ideia inicial de unir o PSB e o PT era para ganhar musculatura e eleger mais deputados federais. A medida é considerada essencial para ampliar a influência do grupo de esquerda, seja para construir uma forte base de sustentação para um eventual novo governo de Lula (PT), seja para fazer oposição mais efetiva a um segundo mandato de Jair Bolsonaro (PL) ou a outro candidato que vier a ser eleito. A proposta de federação partiu do PSB mas setores da legenda ainda resistem à ideia. O deputado federal Gervásio Maia, que preside o PSB na Paraíba, tem evitado polemizar publicamente a respeito, embora, nos bastidores, acompanhe as articulações que são processadas. Um dos principais entraves é a disputa para indicar candidato ao governo de 6 Estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Espírito Santo e Acre. Os pessebistas exigem ter a cabeça de chapa mas o PT não quer abrir mão da maioria deles. O “Poder360” apurou que a intransigência dos petistas começou a irritar.
São Paulo é o principal entrave. Numa entrevista esta semana, o presidente do PT no Estado, Luiz Marinho, foi enfático ao confirmar que o partido manterá a candidatura de Fernando Haddad ao governo. “Se o PSB deseja ter um candidato, não tem problema para nós. Não temos problema em ter 2,3 palanques para o Lula em São Paulo. O que não topamos de jeito nenhum é abrir mão da candidatura de Haddad. Não adianta dizer que para ter federação precisa ter o Márcio França (PSB). Não vai ter. Se a federação passa por aí, está inviabilizada”. França é pré-candidato ao governo paulista pelo PSB e o partido tem dito que não desistirá do seu nome. Já em Pernambuco, principal reduto do PSB, o PT apresentou a pré-candidatura do senador Humberto Costa. A iniciativa foi vista como uma forma de tentar dominar o debate regional, mas petistas afirmam que ainda há possibilidade de abrir mão do nome de Cost. O indicado natural do PSB no Estado seria o ex-prefeito de Recife Geraldo Júlio, mas ele tem declinado da disputa e pode ficar fora do pleito.
No Rio Grande do Sul, o PSB é da base do governador Eduardo Leite (PSDB) e apoia o ex-deputado Beto Albuquerque para substituir o tucano. Já o PT aposta em Edegar Pretto, um dos principais opositores de Leite. Os partidos podem ainda acabar fechando um acordo com o PCdoB em torno do nome de Manuela D’Avila. No Espírito Santo, o governador Renato Casagrande (PSB) não tem aberto espaço para o PT e já sinalizou preferir uma aliança com Ciro Gomes, pré-candidato à presidência da República pelo PDT. No Rio de Janeiro, o cenário era mais certo para o PSB, que tem o deputado federal Marcelo Freixo como pré-candidato, mas o presidente da Assembleia, André Ceciliano (PT), sinalizou que pode entrar na disputa pelo Executivo. Ele é pressionado a concorrer ao Senado. No Acre, o deputado estadual Jenilson Leite (PSB) é pré-candidato ao governo mas o PT pode insistir para que o senador Jorge Viana seja candidato.
Além das disputas estaduais, pesa no xadrez eleitoral a possível filiação do ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, no PSB. Ele é cotado para ser vice na chapa de Lula. Inicialmente o partido havia condicionado as candidaturas estaduais à filiação do ex-tucano, mas, diante da intransigência do PT, abriu mão da estratégia. A filiação agora depende exclusivamente de Alckmin e a decisão independe da articulação pelos Estados. Os receios em torno de uma federação entre os dois partidos também extrapolaram para além do cálculo eleitoral feito em 2022. A avaliação é de que as dificuldades regionais enfrentadas neste ano podem ser ainda maiores em 2024, quando haverá eleições municipais. A desconfiança maior é do PSB, que enxerga que haverá nova preponderância do PT nas negociações em um momento em que a futura união não poderá ser desfeita. O PSB está exigindo o estabelecimento de regras no estatuto conjunto da federação que garantam o mínimo de equilíbrio e proporcionalidade para a atuação dos partidos na federação.