Será sepultado hoje à tarde no Jardim da Saudade Sulacap, no Rio, após velório no Theatro Municipal, o corpo da cantora Elza Soares, que faleceu, ontem, aos 91 anos, de causas naturais, em sua residência no Rio. Ela era considerada ícone da música brasileira e uma das maiores artistas do mundo. Foi eleita A Voz do Milênio e, conforme a assessoria da artista, teve uma vida apoteótica, intensa, que emocionou o mundo com sua voz, sua força e determinação. Desde ontem, quando a notícia da morte foi confirmada, sucedem-se manifestações de artistas, celebridades e políticos em redes sociais e outros órgãos de comunicação, exaltando o seu legado valioso para a MPB.
O empresário de Elza, Pedro Loureiro, informou ao G1 que a cantora estava bem e tinha gravado um DVD dois dias antes. Ela acordou e fez fisioterapia. Estava com a respiração ofegante, mas foi ficando mais ofegante e disse aos familiares: “Eu acho que eu vou morrer”. A declaração acendeu o alerta: os familiares foram checar sua pressão e oxigenação e notaram uma pequena alteração. Pedro loureiro e os familiares chamaram o médico de Elza, que enviou uma ambulância para o local por precaução, mas 40 minutos depois Elza foi mudando o semblante até que apagou. “Foi uma morte tranquila, sem traumas, sem motivo. O grande medo dela era ter uma morte sofrida, por doença. Morreu de causas naturais”, contou o empresário.
Filho de uma lavadeira e de um operário, Elza Soares foi criada na favela de Água Santa, subúrbio de Engenho de Dentro, Rio. Elza cantava desde criança, com a voz rouca e o ritmo sincopado dos sambistas de morro. Casou-se obrigada aos 12 anos, virou mãe aos 13 e viúva aos 21. Foi lavadeira e operária numa fábrica de sabão. A vida não foi fácil com a cantora. Do relacionamento com o jogador Garrincha, Elza teve um único filho. “Garrinchinha” morreu aos nove anos em um acidente de carro em 1986. Outro filho, Gilson, faleceu aos 59 anos em 2015, por complicações de uma infecção urinária. Ela começou a se destacar na música como parte da cena do sambalanço com “Se Acaso Você Chegasse”, em 1959. Em 34 discos lançados, ela se aproximou do samba, do jazz, da música eletrônica, do hip hop., do funk e dizia que a mistura era proposital. O último disco lançado foi “Planeta Fome” em 2019. Era uma alusão ao episódio em que foi constrangida por Ary Barroso no programa de calouros de que participou nos anos 50. “De que planeta você vem, menina?”, ele disse. E ela respondeu: “Do mesmo planeta que você, seu Ary. Eu venho do Planeta Fome”. Desde que lançou o álbum “A mulher do fim do mundo” em 2015 a cantora viveu mais uma fase de renascimento artístico. “Me deixem cantar até o fim”, pediu Elza em verso da música que batiza o álbum.