Se fosse vivo, o engenheiro Leonel de Moura Brizola completaria, hoje, 100 anos de idade. Ele foi uma das principais personalidades da história política brasileira, herdeiro político de Getúlio Vargas e João Goulart, o Jango, e referência no PTB original. “O maior legado de Brizola é a sua coerência política. Muitas vezes inclusive, incompreendido, muitas vezes à frente do seu tempo. No momento em que ele dizia, as pessoas não davam tanta importância às coisas que falava. Hoje, muito do que ele disse há 20, 30, 40 anos, está aí, batendo na nossa porta. E uma dessas questões é a educação”, destacou a deputada estadual pelo PDT do Rio Grande do Sul, Juliana Brizola, neta do político.
Brizola morreu em junho de 2004, e o ex-vereador pelo Rio de Janeiro, Leonel Brizola Neto, do PT, outro herdeiro que seguiu os caminhos da política, destacou em rede social que o avô foi um “herói da pátria”. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, principal liderança do Partido dos Trabalhadores e o maior nome da esquerda, hoje, no país, também mencionou a importância da atuação de Brizola em favor da democracia. Entre os principais feitos do “engenheiro”, como era também tratado, constam a liderança da Campanha da Legalidade, que empalmou em 1961 para assegurar a posse do presidente João Goulart, diante da renúncia de Jânio Quadros, mobilização que resultou vitoriosa, embora em 1964 os militares tenham deposto Goulart e implantado uma ditadura. Teve participação ativa ativa no movimento Diretas Já em 1983.
A exitosa Campanha da Legalidade colocou o então governador do Rio Grande do Sul como um dos favoritos para as eleições presidenciais de 1965. O pleito não ocorreu em razão do golpe militar que forçou a ida de Brizola para o exílio, no Uruguai. No retorno ao Brasil, ele fundou o PDT, pois foi impedido de reestruturar o PTB por uma manobra dos militares e governou o Rio de Janeiro por dois mandatos. O ex-presidente Lula ressaltou que Brizola “foi uma das figuras mais extraordinárias da política brasileira” e acrescentou que ele faz parte da história viva do Brasil. “Foi uma das figuras proeminentes na luta contra o golpe militar de 1964. A vida inteira do Brizola foi conturbada porque ele sempre brigou muito para que o povo mais humilde tivesse oportunidade na vida, sobretudo na questão da educação”, enfatizou Lula.
O ex-presidente e líder petista aponta que todos lembram “da grandeza do Brizola na Campanha da Legalidade. Ele garantiu a posse de João Goulart, que os militares não queriam permitir”, salientou. O político gaúcho foi candidato a presidente da República em 1989, onde, conforme Lula, também teve gesto de grandeza. “Eu ganhei dele no primeiro turno por 500 mil votos. Ele foi o único político que eu conheço que transferiu 100% dos votos que teve para a minha candidatura. Eu não ganhei mas fiquei em segundo lugar”, lembra Lula, que perdeu para Fernando Collor de Mello. “Depois, tivemos a disputa de 1994, de 1998, quando o Brizola se dispôs a ser meu candidato a vice. Perdemos outra vez, mas a esperança continuou e Brizola continuou na política, militando e construindo seu PDT e tentando, ainda, mostrar que era possível a gente melhorar a vida do povo brasileiro”, acentua o petista. Lula concluiu dizendo que “uma figura como Brizola não morre” e que certamente ele faz falta ao Brasil, à democracia, à política, ao debate plural neste país.