A Secretaria de Estado da Saúde (SES) anunciou a retomada da vacinação de crianças e adolescentes em Lucena, no litoral norte, para a próxima segunda-feira. A decisão foi tomada após as polêmicas que eclodiram na última semana quando foram comprovados “erros vacinais”, na definição do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que, por coincidência, se encontrava na Paraíba acompanhando processo de testagem contra a covid-19 e, inteirado de irregularidades, dirigiu-se ao município de Lucena para tomar providências. Houve, também, intervenção do Ministério Público, que abriu inquérito, já tendo colhido depoimentos de profissionais de saúde que admitiram a utilização de doses vencidas e de doses destinadas ao público adulto como doses pediátricas.
O caso verificado em Lucena teve repercussão nacional e provocou ampla mobilização de entidades médicas públicas e privadas. Houve acusações de influência política no processo, com suposto envolvimento do prefeito, de vereadores e de outras lideranças, e a controvérsia resultou na exoneração do secretário de Saúde do município. Uma técnica de enfermagem que chegou a aplicar doses de imunizantes em crianças admitiu às autoridades, em depoimento, não estar capacitada pára executar o trabalho e insinuou ter recebido “ordens superiores” para levar à frente o processo. A questão preocupou, também, o governo do Estado que, através do secretário Geraldo Medeiros, assumiu a responsabilidade pela condução da vacinação de agora em diante, atendendo, inclusive, a um pedido do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que é paraibano.
De acordo com informações liberadas pela Secretaria Estadual de Saúde, a vacinação será retomada mediante trabalho conjunto entre as equipes da SES e do município e, no primeiro momento, estão sendo convocados os maiores de 12 anos que receberam vacinas em Pfizer em qualquer momento. Na ocasião, acontecerá a conferência dos cartões de vacinação e serão dadas orientações sobre a revacinação, quando for constatada a necessidade. O processo de conferência dos cartões das pessoas que receberam a vacina da Pfizer se estende entre os dias 24, 25 e 26 de janeiro, na Escola Municipal Américo Falcão, no centro de Lucena. Na mesma semana, será iniciada a vacinação das crianças de 5 a 11 anos com o imunixante pediátrico, também com a participação das equipes estaduais. A oferta desta vacina acontecerá no dia 26 e será realizada uma vez por semana. A secretária executiva de Saúde, Renata Nóbrega, explica que as equipes de Lucena receberam mais uma qualificação e estarão participando da retomada, em parceria com as equipes da SES e de outros municípios.
– Foram repassados todos os cuidados em relação ao armazenamento, controle de lote e aplicação das doses. Contaremos também com o apoio de equipes do município de João Pessoa e de Cabedelo para garantir toda segurança possível nesse momento de retomada – esclareceu Renata Nóbrega. Enquanto isso, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, foi alvo de um comentário entre irado e cômico, ontem, na CNN Brasil, do jornalista Boris Casoy. Ao falar da visita que ele e a ministra Damares Alves, dos Direitos Humanos, fizeram à criança de Lençóis Paulista que registrou alterações nos batimentos cardíacos após a aplicação da vacina da Pfizer contra a covid-19, Casoy reagiu: “Ministro Queiroga, o senhor tem um encontro marcado com o Satanás. Não se esqueça disso. O senhor vai ter um diálogo longo, penoso e duro com Satanás, devido às atitudes que o senhor tem tomado, inclusive de submissão, em vez de assessorar e esclarecer o presidente. O senhor obedece a desígnios políticos. Então, vai ser fogo, ministro”.
Boris Casoy sublinhou o “fundo político malévolo” da visita dos ministros, com o intuito de desacreditar a vacina, “de fazer com que as pessoas acreditem que o problema cardíaco que a menina teve se deve à vacinação”. Uma investigação feita por especialistas do Centro de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo concluiu que a internação da criança de 10 anos não está relacionada à vacina contra a covid-19. De acordo com a análise feita por mais de dez especialistas, a menina tem uma doença congênita rara, que a família desconhecia até então. Casoy, que teve poliomielite na infância, já criticou mais de uma vez a política do presidente Jair Bolsonaro e do governo em relação à vacinação. No ano passado, em entrevista ao “Conversa com Bial”, ele disse: “Se houvesse vacina, eu e minha irmã gêmea não teríamos sido vítimas da poliomielite. Cada criança salva é um cidadão lá na frente”. A doença foi erradicada por ação de imunizantes.