Nonato Guedes
São cada vez mais visíveis os sinais de que a visibilidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na mídia e sua liderança nas pesquisas de intenção de voto para a corrida eleitoral de 2022 estão incomodando fortemente o presidente Jair Bolsonaro (PL), cuja popularidade derrete cada vez mais em meio a falhas do governo em campanhas importantes para a sociedade como a da vacinação contra a covid-19. Candidato à reeleição após, finalmente, encontrar um partido a que se filiar, de acordo com suas exigências, Bolsonaro ainda polariza preferências com Lula, mas a distância entre eles vai se tornando cada vez maior. Em proporção inversa, Lula aglutina apoios à esquerda, ao centro e até mesmo à direita, tem o aval disputado por candidatos nos Estados e se tornou mais ativo em debates a respeito de questões nacionais graves, tanto na economia como em outros setores de atividade.
As bancadas do PT na Câmara e no Senado, por exemplo, acabam de anunciar para o próximo dia 31 de janeiro uma reunião a fim de debater as prioridades da legenda no Congresso ao longo deste ano, em plena campanha eleitoral. O evento conta com a participação de integrantes da Fundação Perseu Abramo e do Instituto Lula e, entre os convidados, estão justamente o ex-presidente Lula da Silva e sua sucessora, a ex-presidente Dilma Rousseff. O evento será realizado de maneira híbrida, isto é, com participações via internet. No dia seguinte, as bancadas voltarão a se reunir, só que de maneira reservada, para traçar estratégias de atuação. “O que vamos fazer um seminário, o Seminário Travessia e Resistência. No dia 31 será a abertura e vamos ter três mesas – legado, reconstrução e futuro, quando vamos discutir o que o PT deixou de legado, quais são as pautas para reconstruir o Brasil e o que podemos pensar de futuro”, explicou o líder do PT na Câmara, Reginaldo Lopes.
O deputado citou como alguns dos assuntos que podem entrar na pauta a “reindustrialização” do país, a transição ecológica e as questões trabalhistas, esta última já levantada, inclusive, pelo ex-presidente Lula, que falou da possibilidade de, uma vez eleito, rever a reforma trabalhista que foi aprovada no Congresso na gestão de Michel Temer, por entender que alguns pontos são inconsistentes ou polêmicos e devem, portanto, ser removidos. Ao final do encontro do dia primeiro, deve ser apresentado um calendário com reuniões que irão se estender por três meses. O movimento pode ser visto como uma tentativa de reconectar a bancada com os atores do partido mais próximos aos movimentos de rua. O parlamentar admite que esta ação busca embasar discursivamente os seus colegas para o ano eleitoral. E completou: “Devemos criar núcleos setoriais dentro da Câmara, que irão atuar junto com os núcleos do PT durante esses três meses. É importante que tenhamos unidade e aproximação para subsidiar e integrar conhecimentos entre os núcleos e a bancada”.
Nos últimos dias, o ex-presidente Lula tem praticamente dominado o noticiário, com manifestações sobre assuntos diversos de interesse nacional e propostas de soluções para desafios que o governo de Jair Bolsonaro vem se revelando incapaz de equacionar. Ao mesmo tempo, ele promove diálogo com políticos e dirigentes de diversos partidos, articula formação de chapas e acordos eleitorais nos Estados e procura fortalecer o seu projeto de candidatar-se mais uma vez ao Palácio do Planalto. Em alguns casos, antecipa metas que pode vir a concretizar caso seja eleito. Uma delas é a recriação do Ministério da Cultura, que foi inteiramente esvaziado no governo de Bolsonaro. “Preparem-se! O Minc vai voltar cada vez mais forte”, anunciou o ex-mandatário. Na linha dos encontros, ele revelou que teve uma boa conversa com o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) sobre o futuro do Brasil. O senador compartilhou uma foto do encontro com Lula em rede social e qualificou de proveitoso o encontro. Lembrou que “os tempos sombrios que estamos vivendo precisam ser superados. E, para isso, temos que unir forças em favor do povo brasileiro”.