Uma reportagem de Rubens Valente no UOL revela que o Partido Liberal, pelo qual o presidente Jair Bolsonaro deverá concorrer à reeleição em outubro, será privilegiado na divisão do bolo financeiro na campanha eleitoral, que deverá ser a mais cara da história do país, com R$ 4,9 bilhções ou R$ 5,7 bilhões, segundo o que ainda está sendo definido, de dinheiro público carreado por parlamentares para suas próprias campanhas só no Fundo Eleitoral. O PL de Valdemar Costa Neto, conforme projeções, deverá amealhar cerca de R$ 341 milhões, que é nada menos do que o triplo recebido na campanha de 2018 (R$ 113,6 milhões).
Além do Fundo Eleitoral, o PL deverá receber neste ano mais de R$ 40 milhões do Fundo Partidário, outra fonte pública de recursos que também pode ser usada em campanha eleitoral. “Tudo somado, parece muito dinheiro para um partido que sempre apareceu como coadjuvante nas disputas presidenciais – e, sem dúvida, é. Mas o PL também não será o mesmo em 2022 e o dilema à frente do comandante da sigla, Valdemar Costa Neto (SP) é evitar que as dores do crescimento derivem para crises dentro do partido”, informa o colunista. Um ponto fundamental nas projeções dos gastos é que as finanças do PL serão impactadas por um movimento político importante que ocorrerá de três de março a primeiro de abril, a chamada “janela partidária”.
Nesse período, os parlamentares que ocupam cadeiras no Congresso Nacional podem mudar de sigla sem risco de perder o mandato. Espera-se, então, um efeito manada do PSL, o partido pelo qual Bolsonaro foi eleito, e onde se encontram dezenas de seus seguidores, para dentro do PL. As previsões oscilam de 25 a 33 novos parlamentares no PL a partir de abril. O partido já tem 43 deputados federais, sendo a terceira maior bancada no Congresso, atrás apenas do PSL, com 55, e do PT, com 53. Com isso, o número de deputados do PL que precisarão de recursos para suas campanhas eleitorais passará de 43 para 68 ou 76. O problema é que o cálculo, previsto em lei, para distribuição ao partido dos recursos dos dois Fundos de financiamento permanecerá o mesmo que valeu para a campanha de 2018. A distribuição interna feita pelo partido deve ser equânime entre todas as campanhas dos deputados candidatos à reeleição.
Em 2018, o PL destinou R$ 2 milhões para cada um dos 43 deputados federais que se elegeram naquele pleito pela sigla. Assim, espera-se uma pressão natural dos parlamentares que tentam a reeleição para que o valor seja repetido ou aumentado. Caso isso aconteça, só as campanhas dos parlamentares vão abocanhar de R$ 136 milhões a R$ 152 milhões, o que representaria um expressivo pedaço dos R$ 380 milhões previstos para 2022. Haverá ainda a demanda dos candidatos que tentarão um primeiro mandato. As campanhas dos parlamentares são apenas uma parte dos gastos do PL em 2022. Valdemar Costa Neto precisa dar a estrutura esperada à campanha de Jair Bolsonaro, e sobre isso deverá ser cobrado enfaticamente pelo senador Flávio Bolsonaro (RJ), os olhos e ouvidos do presidente dentro da legenda. Hoje, Valdemar controla as finanças do partido com mão-de-ferro. As pessoas que ocupam a estrutura administrativa do partido não conseguem dar um passo sem antes consultá-lo. Mas dificilmente conseguirá resistir às pressões do clã Bolsonaro e de outros políticos bolsonaristas.
A reportagem do UOL informa que ao contrário de 2018, quando Bolsonaro declarou menos de R$ 2,8 milhões de gastos eleitorais, a campanha bolsonarista este ano à presidência deverá ser bem mais cara, até porque o partido deve ressarcir a União por eventuais deslocamentos do presidente em aeronaves, hospedagem em hotéis e gastos com segurança, entre outras despesas que nas últimas eleições não ocorreram. Além disso, Bolsonaro aparece mal nas pesquisas eleitorais, indicando a necessidade de mais gastos na tentativa de turbinar a candidatura. Outra diferença é que durante boa parte da campanha de 2018 Bolsonaro passou em atendimento hospitalar após o atentado de 6 de setembro daquele ano; com isso, houve menos gastos de deslocamento. Um político do partido afirmou: “O PL terá uma grande campanha a presidente, nunca houve isso na história do partido. E o presidente precisa ter candidato forte a governador nos maiores Estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Terá que lançar também candidatos fortes ao Senado em vários Estados. E tem as campanhas de deputados federais. É muita gente para o mesmo dinheiro”.