Nonato Guedes
No cálculo do secretário de Comunicação do governo da Paraíba, Nonato Bandeira, os índices de reajuste salarial concedido ao funcionalismo público com vigência a partir deste mês oscilaram entre 10% e 31% e se basearam em critérios rigorosos de análise da situação econômica e financeira do Estado. Quando não contemplou categorias com aumento mais expressivo, o governo João Azevêdo (Cidadania) compensou perdas e defasagens concedendo outras vantagens e incorporando gratificações para obter um resultado razoável por aproximação, levando em conta as condições de temperatura e pressão que movem a conjuntura local. Situação pior foi a do governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), que não acenou com nenhum reajuste para servidores federais, exceto para membros da Polícia Federal, segundo comparou Nonato Bandeira.
O secretário de Comunicação da Paraíba aludiu ao clima de radicalização política intensa por parte de setores da sociedade, que se apega à crítica pela crítica, sem uma discussão objetiva capaz de esclarecer corretamente a opinião pública em torno das demandas que estão em curso na ordem do dia. Atribuiu essa radicalização a apoiadores do bolsonarismo no Estado, interessados em descredibilizar o governo de João Azevêdo e, por isso mesmo, empenhados em confundir, não em debater. Na verdade, mais do que sinais de radicalização, a Paraíba assistiu nos últimos meses a uma orquestração de terrorismo político por parte de oposicionistas que identificaram no explosivo tema da questão salarial dos servidores um filão para atacar o governador-candidato à reeleição e a sua gestão. Essa orquestração foi um desserviço à Paraíba, não apenas ao governo que estava na alça de mira.
Foi pública, notória, a mobilização ostensiva de deputados oposicionistas como o Cabo Gilberto Silva (PSL) para interferir na própria autonomia das entidades de classe de policiais militares e civis, coagindo-as a não aceitar propostas do governo quando elas não estavam, sequer, formuladas, mas ainda em processo de gestação nos gabinetes oficiais. O referido parlamentar, que não esconde sua paixão pelos holofotes, já havia criado um “circo político” quando insistiu em participar de sessões e votações da Assembleia Legislativa mesmo tendo se recusado a tomar a vacina contra a covid-19. Tal postura foi a sua “grande contribuição” para a retomada das discussões num Poder que ficou praticamente paralisado por um ano para se adequar a medidas de prevenção contra a pandemia de coronavírus. O gesto do deputado-cabo foi um microcosmo da realidade nacional em que o presidente da República renega a vacina, debocha do plano de imunização executado pelo próprio governo e receita medicamentos sem eficácia comprovada, num desrespeito à Ciência e aos especialistas que estão exaustos de lidar com uma epidemia interminável.
No caso da polêmica sobre o reajuste salarial, especialmente para policiais civis e militares, que são a base da sua clientela eleitoral, o deputado Cabo Gilberto foi um agitador contumaz, tornando-se caroneiro de assembleias corporativas convocadas para examinar serenamente pontos da proposta governamental e, em cima dos dados e argumentos do governo, oferecer contra-proposta, como é da essência do processo democrático, ao qual o parlamentar bolsonarista está desabituado. A infiltração ainda logrou êxito junto a parcelas de policiais, atraídos para aglomerações de rua a pretexto de protestar contra o abstrato, já que não havia proposta formal na mesa. O ridículo da situação levou representantes autorizados das corporações a tomarem as rédeas, repelirem as interferências externas e indevidas e concentrarem o aprofundamento dos debates entre as partes interessadas. Foi aí que o diálogo andou.
Mesmo assim, do lado de fora da Granja Santana ou do Palácio da Redenção, o deputado Cabo Gilberto e outros seguidores seguiram na estratégia de tentar atiçar os ânimos e inviabilizar todo e qualquer entendimento que fosse firmado com o governo João Azevêdo, por sua vez escudado em informações corretas sobre a situação financeira do Estado, cujo equilíbrio vem tentando manter em plena pandemia, com resultados favoráveis reconhecidos pela própria Secretaria do Tesouro Nacional. A oposição, tão afoita em emparedar o atual governador, fez vista grossa para distorções de governos passados, como o de Ricardo Coutinho, mentor de uma tal Bolsa Desempenho, que foi um paliativo para desviar soluções concretas de melhorias para o funcionalismo público na Paraíba. Essa herança maldita a atual gestão tem procurado equacionar, debaixo de pressão, em pleno ano eleitoral, quando multiplicam-se os candidatos a “salvadores da Pátria” disfarçados de pedintes de votos.
O que se pode dizer da postura do governador João Azevêdo é que, além de dialogar de forma transparente, sem subterfúgios, expondo as entranhas da realidade financeira do Estado da Paraíba, ele procurou avançar na recomposição de perdas salariais e provocar, mesmo, mudanças no eixo da problemática do funcionalismo, que sempre foi castigado em Planos de Cargos, Carreiras e Remuneração em gestões passadas. Havia, da parte do chefe do Executivo, uma outra preocupação – a de agir com responsabilidade absoluta nas negociações, para não tornar o Estado novamente refém de impasses que lá atrás desgastaram inúmeras administrações. Talvez em meio a toda a confusão proposital criada pelos Cabo Gilberto da vida, tenha sido dado um passo para mudar o tratamento da questão salarial no serviço público. Analistas isentos da cena estadual acreditam em nova mentalidade cujo divisor de águas pode ter sido a agitação baderneira intentada no começo do ano eleitoral de 2022 pelos opositores do governador-candidato.