Nonato Guedes
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a receber, em São Paulo, para uma conversa, o senador paraibano Veneziano Vital do Rêgo, vice-presidente do Senado Federal e presidente do diretório do MDB em nosso Estado. Na versão repassada por Veneziano, a agenda envolveu discussão de cenários políticos nacionais e locais, sem especificar, porém, que cenários entraram em pauta. O senador, que está distanciado do governador João Azevêdo e é estimulado a assumir candidatura ao governo da Paraíba, sabe que fotos com o ex-presidente Lula, favorito na corrida presidencial, são importantes para a propaganda de qualquer candidato. Mas notou-se que da parte de Lula, como sempre, não houve declaração de compromisso com eventual pretensão de Veneziano.
O ex-presidente e líder petista, na verdade, dialoga com o senador paraibano por uma questão de estratégia política, além, é claro, de ter estabelecido uma relação de empatia com ele. Lula tem feito o mesmo com líderes de expressão em outros Estados, na maratona que se obstinou empreender para voltar ao Palácio do Planalto, dali desalojando o presidente Jair Bolsonaro. O ex-mandatário dialoga com Veneziano porque este lhe pode ser útil em dois momentos decisivos: no coro de vozes dentro do MDB em prol do apoio à candidatura de Lula, senão no primeiro turno, seguramente no segundo; e na atuação, em posto estratégico do Senado, para garantir reforço à governabilidade caso venha a ser ungido nas urnas. Por garantia de governabilidade leia-se: impedimento de qualquer manobra que visar a um impeachment de Lula, se este vier a ser intentado por bolsonaristas radicais e desesperados na hipótese de um revés nas eleições de outubro.
Veneziano, aliás – diga-se de passagem – já vem “colaborando” com o ex-presidente Lula da Silva ao atualizá-lo, nas conversas que mantêm, sobre grandes temas nacionais e sobre a agenda de propostas em tramitação no Congresso Nacional. Há um repasse natural de informações por parte do senador paraibano, privilegiado pela sua posição na Mesa do Legislativo, ao ex-presidente e líder petista, acerca do que está sendo demandado ou do que ainda pode vir a ser demandado até o final do governo de Jair Bolsonaro. Ressalte-se que Veneziano, por vezes, tem sido investido na presidência do Senado, em casos de viagem ou de compromissos do presidente Rodrigo Pacheco (MG), e tem diante de si, em tais momentos, a possibilidade de fazer avançar ou não determinadas pautas que conciliem interesses democráticos e que, por vezes, não necessariamente interessem ao governo de Jair Bolsonaro. Trata-se, portanto, de um interlocutor imprescindível na atual cena política do país.
O ex-presidente Lula da Silva, que é constantemente elogiado pela sua habilidade política, desenvolve uma estratégia que está mais focada no projeto de retorno seu ao Palácio do Planalto do que nas disputas aos governos estaduais. O mapeamento feito por Lula e seus emissários – inclusive o ex-ministro José Dirceu, que é atuante nos bastidores, como é de seu estilo – já indicou que as disputas estaduais serão desgastantes porque, em muitos casos, deverão se dar entre apoiadores do líder petista, que estão filiados a legendas diferentes, nem sempre afinadas ou “federadas” para as próximas eleições. Desse ponto de vista, Lula precisará ser absolutamente diplomático no encaminhamento das questões regionais, principalmente em Estados de menor peso como a Paraíba. Não será incomum para o PT ceder cabeça de chapa em alguns Estados, desde que, em troca, obtenha dividendos e garantias concretas de apoio a uma possível governabilidade empalmada por Lula, se vencer a eleição, como projetam pesquisas de institutos especializados.
O ex-presidente já deixou claro a interlocutores distintos com quem tem dialogado, em São Paulo, em Brasília e em lugares desconhecidos da mídia, que sua prioridade está concentrada, além da eleição presidencial, na eleição de boas bancadas parlamentares, tanto na Câmara dos Deputados como no Senado Federal, tendo em vista que é com elas que o presidente da República governa nas condições de temperatura e pressão inerentes ao chamado jogo democrático. Nas análises de Lula e dos seus emissários de confiança, tem sido encarada como emblemática a capitulação de Bolsonaro ao “Centrão”, um agrupamento conservador e fisiológico, do qual se tornou refém no âmbito legislativo. O ex-presidente Lula está preparado para fazer concessões, em hipótese de retorno ao poder, mas desta feita planeja distribuí-las junto a uma miríade de legendas, não necessariamente com grupos hegemônicos que tentam se sobrepor às vontades do governo.
O senador Veneziano Vital do Rêgo cumpre, portanto, na atual conjuntura nacional, papel duplamente importante para as pretensões de Lula – como filiado do MDB com direito a voto qualificado nas convenções nacionais e como articulador político influente que, tanto como vice-presidente do Senado Federal, ou mesmo sem exercer posição de comando naquela Casa, tem lastro e acatamento entre os colegas na exposição dos seus argumentos ou na apresentação de propostas que ostentam sua assinatura inconfundível. Se houver possibilidade de uma aliança política envolvendo a disputa da Paraíba que contemple Veneziano, melhor para Lula. Se não houver essa possibilidade, Lula ficará na expectativa de um alinhamento do parlamentar, que ainda tem bom tempo de mandato pela frente, com decisões que emanarem de um hipotético governo seu, na linha das teses que têm sido discutidas nesta fase pré-eleitoreira e dos compromissos que estão sendo assumidos, tanto por um quanto por outro, com a normalidade democrática no País. Este é o resumo da ópera que cerca encontros e fotografias em redes sociais.