Nonato Guedes
Nas eleições majoritárias de 2018 na Paraíba, além da vitória do candidato a governador João Azevêdo em primeiro turno, houve surpresas na corrida pelas duas vagas de senador que estavam em jogo. Uma delas foi a derrota do então senador Cássio Cunha Lima (PSDB) à reeleição. Ele chegou a liderar pesquisas de intenção de voto e era “pule de dez” para renovar o mandato, conforme analistas políticos e observadores em geral. Cássio foi fragorosamente derrotado, situando-se em quarto lugar no resultado final e alcançando ínfimos 17,5% dos votos. Ele deu declarações, reiteradas mais tarde, de que havia sido vítima de “tsunami” político que teria varrido o cenário nacional, com resultados inesperados em outros Estados.
No contraponto, o então deputado federal Luiz Couto, concorrendo pelo Partido dos Trabalhadores, surpreendeu pelo desempenho no páreo, obtendo 23,1% dos sufrágios. As duas vagas ficaram com Veneziano Vital do Rêgo, que concorreu pelo PSB, e com Daniella Ribeiro (PP), a primeira mulher senadora da história da Paraíba. Da disputa participou, ainda, o ex-governador Roberto Paulino, candidato pelo MDB, que teve apenas 7,67% dos votos. A votação de Luiz Couto, mesmo não sendo suficiente para elegê-lo, foi considerada expressivamente surpreendente. A verdade é que ele teve um decidido reforço por parte do então governador Ricardo Coutinho, que era filiado ao PSB e que estava obcecado pela ideia de derrotar, nas urnas, o ex-governador Cássio Cunha Lima. A permanência de Ricardo no exercício do mandato até o último dia revela muito das preocupações da sua estratégia eleitoral naquela disputa em que ainda dominava cartas.
Pois o ex-deputado federal Luiz Couto, que ficou sem mandato após concluir brilhante passagem na Câmara Federal, onde se destacou, sobretudo, na defesa dos direitos humanos e na denúncia da atuação de grupos de extermínio na Paraíba e no Nordeste, está voltando à cena. Especulações de bastidores sinalizam que Luiz Couto é o “Plano B” do PT para concorrer ao Senado na Paraíba, na hipótese de inelegibilidade do ex-governador Ricardo Coutinho, que retornou aos quadros petistas e é o preferido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para aquela vaga. Trabalha-se, conforme as versões, com a hipótese de remanejamento de Ricardo para a disputa a deputado federal, mesmo estando subjudice pelo fato de que, por enquanto, é inelegível. Mas Ricardo opera ativamente para reverter a inelegibilidade na seara jurídica, já que aspira a uma posição de destaque no rol dos políticos que estão sendo recrutados pelo ex-presidente Lula da Silva para assessorá-lo na hipótese de voltar ao Palácio do Planalto.
A inclusão do ex-deputado Luiz Couto como candidato ao Senado se daria na chapa que pode vir a ser encabeçada pelo senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) como candidato ao governo. O ex-prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, que deixou o Partido Verde e voltou às fileiras do Partido dos Trabalhadores, deverá indicar candidatura a vice na chapa de Veneziano, sendo nome forte o da sua mulher, Maísa, que teve atuação destacada na área social e no incentivo a ações culturais e artesanais quando ocupou o posto de primeira-dama da Capital nos dois mandatos empalmados por Luciano. Este sairia candidato a deputado federal, formando chapa com o atual deputado Frei Anastácio Ribeiro e com o ex-governador Ricardo Coutinho. O esboço desse esquema já teria sido levado ao conhecimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de emissários de sua confiança, e teria encontrado receptividade.
Tais articulações indicam que uma ala influente dentro da seção paraibana do PT mobiliza-se a olhos vistos para concretizar uma chapa de oposição ao governador João Azevêdo (Cidadania), que será candidato à reeleição, e o nome mais viável para encabeçá-la é o do senador Veneziano Vital do Rêgo, que ganha estímulos dentro do próprio MDB para assumir a candidatura ao Palácio da Redenção. Se não prosperar a articulação em torno de Veneziano, que ora se processa, o “Plano B” desse segmento anti-Azevêdo para disputar o governo seria o ex-prefeito Luciano Cartaxo ou a vice-governadora Lígia Feliciano (PDT), que já se afastou da órbita do atual chefe do Executivo. Mas há uma expectativa de que as tratativas em torno de Veneziano ganhem corpo, e, nesse sentido, o novo encontro envolvendo o senador do MDB e o ex-presidente Lula foi recebido como positivo nas hostes que combatem o atual governador.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em princípio, não deverá se recusar a receber o apoio do governador João Azevêdo, que já tem demonstrado essa preferência em seguidas manifestações pela imprensa ou durante conversas políticas. Mas se ficar assentada a viabilidade de uma chapa própria na Paraíba, agregando apoiadores de Lula que tiveram destaque na cena local como o ex-governador Ricardo Coutinho e o ex-prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, além do senador Veneziano Vital do Rêgo, o valor do apoio do atual governador perderá dimensão ou será minimizado no contexto de outros que poderão até se sobrepor, dependendo de como evoluírem as demarches políticas em nosso Estado, que estão ficando mais intrincadas do que se imaginava. Em havendo nova configuração, os deputados federais Efraim Filho (DEM) e Aguinaldo Ribeiro (PP), que são pré-candidatos ao Senado na órbita do esquema de João Azevêdo, poderão até rever posicionamentos para ajustar as velas à direção dos ventos. É a especulação que se amplifica nos bastidores do cenário político paraibano, nas vésperas da chegada de fevereiro.