Nonato Guedes
A pressão da cúpula nacional do Cidadania para que o partido forme federação com legendas como o PSDB dificulta cada vez mais a permanência do governador da Paraíba, João Azevêdo, naquela sigla, apressando-o a tomar a decisão mais conveniente para seu futuro político, segundo interlocutores que acompanham a sua liderança no Estado. O presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire (PE), é entusiasta da federação por uma questão de sobrevivência da legenda, segundo dá a entender, e não se importa com eventuais defecções como a de Azevêdo, que, aliás, por ser o único governador filiado no país merecia tratamento mais compatível com sua lealdade até agora. Freire parece estar comprometido irreversivelmente com a candidatura do governador de São Paulo, João Doria, à presidência da República, enquanto Azevêdo já manifestou opção pelo ex-presidente e líder petista Luiz Inácio Lula da Silva.
Com sua atitude, o dirigente nacional do Cidadania também atropela a postulação do senador Alessandro Vieira (SE) de representar candidatura própria ao Planalto. O senador, aliás, tem sido voz minoritária ao defender que a possibilidade de uma federação exige o ajuste coerente de programa comum e garantia de mecanismos justos e transparentes de atuação conjunta por pelo menos quatro anos, além da formação de chapas em todas as esferas sem imposições. Em termos concretos, é aguardada com expectativa a reunião da Executiva do Cidadania, hoje, para decidir se convoca o diretório nacional, que possui 112 integrantes, a decidir a questão. Além do PSDB, outros partidos como Podemos, PDT e MDB dialogam com o Cidadania. Mas há resistências em mais de uma dezena de diretórios estaduais do Cidadania à convergência com os tucanos.
A reunião da Executiva nacional do Cidadania analisará, ainda, o andamento das tratativas sobre a formação da federação, principalmente com o PSDB. Sabe-se, pela fala dos próprios nacionais, que essas tratativas estão bastante adiantadas e o esforço que está sendo feito agora é para encorpar as reivindicações mútuas e facilitar a concretização da união. O indicativo a favor da formação de federação na Executiva do Cidadania foi aprovado por 17 votos a 3, o que indica uma tendência francamente majoritária no âmbito da cúpula. Há queixas, inclusive, de filiados à legenda, sobre a falta de uma ampla consulta às bases, o que bate com a realidade dos fatos. A federação está sendo imposta de cima para baixo como um experimento a ser testado nas eleições deste ano, substituindo coligações nas eleições proporcionais que foram vetadas pelo próprio Congresso Nacional, criando um quadro de instabilidade para diferentes agremiações quanto à sorte no pleito de outubro.
O Cidadania já havia criado uma Comissão de Entendimento Político, que irá aprofundar o contato com as legendas interessadas, além do PSDB, na constituição da federação partidária de centro-direita com vistas às eleições presidenciais. O colegiado é integrado pelo presidente nacional Roberto Freire, pelo senador Alessandro Vieira, líder no Senado e pré-candidato ao Planalto, por Davi Zaia, secretário-geral, Lincoln Tejota, vice-governador de Goiás, representando os Estados, e Adão Cândido, secretário de Comunicação. A ausência do governador João Azevêdo que, conforme foi dito, é o único chefe de Executivo estadual filiado à legenda é injustificável mas não causa propriamente estranheza devido ao posicionamento que ele tem assumido em prol da candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva, mesmo enfrentando a hostilidade de petistas paraibanos como o ex-governador Ricardo Coutinho e o ex-prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, que retornaram recentemente à legenda.
Para o governador João Azevêdo, desfiliar-se do Cidadania significa um novo recomeço, que lhe desvia atenções na fase decisiva e preparatória da campanha para a reeleição ao Palácio da Redenção. Ele ingressou na política assinando ficha no PSB por instância do ex-governador Ricardo Coutinho, de quem era aliado político, e logrou vitoriar em primeiro turno na primeira disputa majoritária que enfrentou, em 2018, ao governo do Estado. Teve que deixar o PSB diante de manobras do ex, Ricardo Coutinho, logo no início da sua gestão, praticamente intervindo no comando do diretório estadual e, em termos concretos, destituindo a direção anterior que era presidida por um aliado de João Azevêdo, Edivaldo Rosas. Ricardo foi se desgastando no PSB à medida que avançaram as investigações da Operação Calvário incriminando-o. Mas ele contou com a gratidão e simpatia do ex-presidente Lula para ser acolhido de volta ao PT. Atualmente, é inelegível e tenta a todo custo reverter essa situação para poder disputar o Senado.
Afirma-se que o governador João Azevêdo teria duas opções para se filiar, uma vez desfiliado do Cidadania: a primeira, o retorno ao PSB, que a nível estadual passou a ser comandado pelo deputado federal Gervásio Maia; a segunda, o ingresso nos quadros do PSD. Aparentemente essa opção complicou-se depois que o ex-prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues, presidente estadual da legenda, que era cotado para vice de Azevêdo na reeleição, tornou público o apoio à candidatura do deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB). Esse óbice pode ser contornado por uma decisão da direção nacional do PSD, presidida por Gilberto Kassab. As cúpulas nacionais, tanto no Cidadania como no PSD ou no PT têm demonstrado poder de mando nas agremiações, passando por cima da autonomia de diretórios estaduais e municipais. O certo é que o governador não tem muita margem de manobra para adiar uma tomada de posição a respeito. Os fatos urgem que tal posição seja acelerada.