Nonato Guedes
– Precisamos convencer o povo brasileiro de que não basta eleger o presidente da República, é preciso eleger um Congresso Nacional progressista, com mais senadores e senadoras, mais deputados e deputadas comprometidos com os trabalhadores, para que a gente possa, então, realizar o nosso sonho de ver este país feliz outra vez. Foi o que afirmou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pré-candidato à presidência da República pelo PT, na tarde de ontem, primeiro dia do seminário “Resistência, Travessia e Esperança”, conduzido pelos líderes do partido no Congresso Nacional, o deputado federal Reginaldo Lopes (MG) e o senador Paulo Rocha.
O evento conta com a participação, de maneira virtual, dos ex-presidentes Lula da Silva e Dilma Rousseff. O objetivo do seminário é debater o legado dos governos petistas, analisar a conjuntura atual e traçar estratégias para as eleições de 2022. Em sua fala, Lula voltou a dar um recado à militância, no sentido de que sua candidatura tem de ir além do partido. O presidenciável tem sido criticado pelos setores mais à esquerda por negociar uma possível aliança com o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e apoios mais ao centro e à direita, como o entendimento com o PSD.
Em resposta, enfatizou: “Eu tenho de ser o candidato de um movimento que ultrapasse as fronteiras do PT. De um movimento que quer redemocratizar o país de verdade”. O presidenciável lidera as pesquisas de intenção de voto e afirmou que deseja restabelecer os direitos do trabalhador e o acesso à educação. Também salientou que irá tratar a saúde e a educação como investimento e não como gasto. Lula criticou o governo do presidente Jair Bolsonaro e afirmou que ele é submisso ao Congresso Nacional. “Nunca vimos, desde a proclamação da República, um presidente tão subserviente, tão submisso aos partidos que lhe sustentam. Nem o Orçamento da União ele faz”, apontou o petista.
Lula também criticou o processo que levou à deposição da ex-presidente Dilma Rousseff. Não citou mas indiretamente fez críticas ao ex-presidente Michel Temer, citando o seu programa de governo, intitulado “Ponte para o Futuro”. Ressaltou: “Nós alertamos que, com o golpe da companheira Dilma, as coisas iriam piorar neste país. Criaram uma coisa chamada ponte para o futuro que, na verdade, não era uma ponte, era um abismo, pois eles cavaram o buraco e não fizeram a ponte”. Para o ex-presidente, o partido tem a responsabilidade de eleger pessoas novas na política, principalmente mulheres, estudantes, membros da comunidade LGBT e trabalhadores do movimento social e sindical que estejam comprometidos com os interesses da população. O senador Paulo Rocha, líder do PT no Senado, concorda que é necessário que o partido reforce a base no Congresso.
– Para essa campanha, não basta ter apenas o Lula, que é nosso grande goleador. Nesse campeonato, precisamos de um time unido e afinado com o que há de melhor em todas as posições, para que nosso grande goleador retome o poder em nome da classe trabalhadora – exortou o senador. Líder do partido na Câmara, o deputado Reginaldo Lopes destacou que a bancada “tem a responsabilidade de contribuir com esse grande movimento pela candidatura do presidente Lula e de trabalhar para obter um resultado legislativo parecido com o que teve o Partido Socialista de Portugal”. Na eleição realizada no domingo, 30, o partido de esquerda do país europeu conquistou 41,68% dos votos e elegeu 117 deputados, um a mais do necessário para obter maioria absoluta nas 230 cadeiras do Parlamento.
Em sua fala sobre as mudanças necessárias para o futuro governo, a ex-presidente Dilma Rousseff criticou a atuação econômica exclusivamente voltada ao agronegócio e aos interesses do mercado. “Este país não pode estar condenado a se tornar uma grande fazenda nem tampouco um grande banco. Nenhum país do mundo consegue um bom nível de desenvolvimento e salários dignos sem um processo de reindustrialização”, acrescentou Rousseff. Também presente no evento, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann (PR), destacou os legados dos governos petistas e que eles são a chave para a saída da crise atual. “Não tenho dúvidas de que nós vivemos um dos melhores momentos do Partido dos Trabalhadores dos últimos 10 anos, exatamente pelo que construímos e deixamos de legado neste país. Por isso, o PT e Lula tornam-se a esperança do povo brasileiro de conseguir reconstruir o Brasil e garantir às pessoas, de novo, o direito ao trabalho, à renda e à dignidade”, afirmou.