Nonato Guedes
O presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire, admitiu, em entrevista, que não há consenso no partido sobre a formação de uma federação partidária e que, sendo assim, a definição que estava prevista para o início deste mês teve que ser adiada. O diretório nacional irá se reunir no dia 15 de fevereiro para decidir sobre as alianças. “Se a federação for aprovada, não haverá duplicidade de candidatos e a decisão será tomada de forma democrática”, assegurou Freire, que, pessoalmente, defende uma união com o PSDB. Ele avalia que o PSDB possui “alianças mais recentes, participação em governos, participação em campanhas, é formado por sociais-democratas e liberais como nós e tem presença em discussões sobre sustentabilidade como o Cidadania”.
– Votarei, mas quem vai decidir será o diretório nacional e nós vamos cumprir a decisão do ponto de vista da nossa democracia – considerou Roberto Freire em declarações à CNN Brasil. O “imbroglio” sobre o destino do Cidadania interessa, de perto, à Paraíba, onde João Azevêdo é o único governador do país filiado à legenda. Ele já deixou claro que tem incompatibilidades irremovíveis com o PSDB, tanto no plano local como no plano nacional – no primeiro caso, devido à candidatura do deputado federal Pedro Cunha Lima ao governo em oposição ao seu projeto; no segundo caso, porque pessoalmente defende o apoio e engajamento à candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), enquanto a cúpula do Cidadania movimenta-se para fechar com a candidatura do governador de São Paulo, João Doria, que, apesar de ter vencido prévias internas contra o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, não pontua bem nas pesquisas de intenção de voto para o pleito de 2022.
Nas últimas horas, o governador João Azevêdo caiu em campo para traçar seu próprio futuro político, dialogando com expoentes de outras legendas às quais pode vir a se filiar como o PSD e o PSB (este último, o partido pelo qual se elegeu em 2018 e do qual teve que sair diante de manobras orquestradas pelo antecessor Ricardo Coutinho, hoje alojado no PT). Apurou-se que outras legendas estão sendo oferecidas ao gestor paraibano nos bastidores, em caráter de absoluta confidencialidade para não atrapalhar possíveis entendimentos. De concreto, o chefe do Executivo baseia-se na análise de cenários a que pode ser conduzido na conjuntura política-eleitoral do Estado na dependência da opção que vier a tomar. Ele vinha afirmando que estava à vontade no Cidadania, mas os fatos se precipitaram em tom de reviravolta com ações da cúpula nacional dirigida por Roberto Freire para se aproximar, especialmente, dos tucanos. “A fase é de decantação dos fatos”, sintetizou um interlocutor da confiança de João Azevêdo.
O dirigente nacional do Cidadania, por sua vez, desdenha das pesquisas de intenção de votos para a eleição presidencial deste ano, cujos percentuais têm sido explorados pela mídia. Roberto Freire foi categórico ao sentenciar que “ninguém ganha eleição com pesquisa” e que a disputa está aberta, tendo em vista que 50% do eleitorado não têm candidato à sucessão de Jair Bolsonaro (PL). “Precisamos ter cuidado, não tem que ter precipitação como se já estivesse tudo resolvido”, acentuou. O presidente do Cidadania ainda ressaltou que o partido está tendo “um papel crucial nesse campo democrático e na construção dessa alternativa”. A agremiação sob seu controle tem sido disputada por outras três legendas para consolidar a formação de uma federação partidária, que passou a vigorar em lei: o PSDB de João Doria, o PDT de Ciro Gomes e o Podemos de Sergio Moro. As federações permitem que duas ou mais siglas atuem de forma unificada, por, no mínimo, quatro anos.
O Cidadania tem um pré-candidato próprio ao Palácio do Planalto, o senador Alessandro Vieira, do Estado de Sergipe, que não conseguiu, até agora, avançar na corrida preliminar à presidência da República, situando-se em meio à pletora de postulantes de diferentes legendas, alguns dos quais também deverão ser sacrificados lá na frente por não terem cacife. Apesar do empenho gigantesco de forças políticas e partidárias para quebrar a polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL), são eles que dominam o quadro rumo a 2022. A possibilidade de uma terceira via não emplacou até agora, embora inúmeros nomes tenham sido colocados na mesa ou ainda permaneçam em estado de avaliação. Roberto Freire reconhece que há integrantes da legenda que defendem a candidatura própria, mas advertiu: “O partido já viveu momentos muito mais tensos do que esse e sobrevivemos”. A federação continua sendo a menina dos olhos do presidente nacional do partido de Azevêdo.