O colunista Josias de Souza, do UOL, chamou de “preconceituosa contra o Nordeste” a fala do presidente Jair Bolsonaro (PL) em sua live semanal quando tratou como “pau de arara” assessores que não lhe passaram informações completas sobre as origens do Padre Cícero Romão Batista, tentando depreciar os nordestinos. “Pau de arara” era o tratamento dispensado a retirantes nordestinos que fugiam da região para Estados do Sul por causa da seca e da fome e em busca de trabalho e emprego. Josias de Souza analisou: “O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ganhou um reforço inestimável para sua campanha. Bolsonaro empurra eleitores para o colo do adversário. Fez isso ao confundir em sua live o estado de origem do Padre Cícero e buscar socorro ao redor, afirmando que a sala estava cheia de “pau de arara”. Foi como se o capitão quisesse usar a transmissão ao vivo para reforçar a rejeição gigantesca que sua candidatura amarga no Nordeste e oferecer motivos adicionais para os nordestinos votarem no retirante Lula”.
Para Josias, Bolsonaro, porém, é reincidente. “Já associou um refrigerante tradicional do Maranhão, de coloração rósea, à “boiolagem”. Chamou governadores nordestinos de ‘governadores de paraíba’. Criticado, usou a primeira-dama Michelle como escudo. “Casei com a filha de um cearense”, disse. Se casamento dissolvesse a ignorância, Bolsonaro não precisaria que um “pau de arara” lhe explicasse que Padre Cícero é do Ceará, não de Pernambuco. Bolsonaro consolida-se como o presidente mais desqualificado da história. Avesso a protocolos, propaga mentiras, distribui coices a adversários e aliados, desqualifica instituições e destila preconceito. Faz isso impunemente”.
E prossegue o colunista do UOL: “Em setembro do ano eleitoral de 2018, a Primeira Turma do Supremo rejeitou por três votos a dois denúncia em que a então procuradora-geral Raquel Dodge acusava Bolsonaro do crime de racismo. Numa palestra, Bolsonaro desqualificara os índios e ofendera quilombolas que havia visitado em Eldorado Paulista. ‘O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas’, declarou. ‘Não fazem nada, nem para procriador eles servem mais’. Um dos ministros que absolveram Bolsonaro foi Alexandre de Moraes. Para Moraes, as declarações do então candidato à Presidência da República não extrapolaram o direito à inviolabilidade que o mandato de parlamentar lhe concedia para se expressar livremente. Deu no que está dando. Hoje, Bolsonaro acha que a faixa de presidente lhe concede o direito, inclusive, de chamar Moraes de “canalha” em praça pública e ignorar uma ordem judicial para depor à Polícia Federal”.