Nonato Guedes
Se há um líder político de expressão nacional que detém uma radiografia completa da situação na Paraíba com vistas às eleições vindouras, esse líder é, indiscutivelmente, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, novamente candidato pelo PT ao Planalto. Desde que foi posto em liberdade, bafejado por anulações de sentenças de condenação que lhe foram impostas e recuperou direitos políticos, assegurando registro para concorrer no pleito 2022, Lula tem se dedicado à política em tempo integral, recebendo representantes de diferentes Estados e partidos e dialogando com próceres que, mesmo sendo adversários localmente, convergem para o leito do apoio à candidatura do ex-mandatário.
A situação da Paraíba é emblemática a partir dos casos do governador João Azevêdo (Cidadania) e do ex-governador Ricardo Coutinho (PT), que foram aliados em 2018, romperam durante o ano de 2019 mas declaram-se apoiadores do ex-presidente Lula no embate contra o presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros eventuais adversários políticos. Lula prestigiou Ricardo mais diretamente, inclusive abonando seu retorno às hostes petistas com a garantia de espaço para uma candidatura majoritária, possivelmente ao Senado, não obstante, a dados de hoje, o ex-governador seja considerado inelegível e ainda recentemente tenha acumulado rejeições de balancetes por parte do Tribunal de Contas do Estado. Mas, embora não tenha dialogado mais profundamente com o governador João Azevêdo, Lula tem canais de interlocução com o chefe do Executivo e conhece a sua tendência para o pleito presidencial. É um apoio que não chega a ser superdimensionado mas que não é desprezado.
Ultimamente estiveram com Lula a vice-governadora Lígia Feliciano (PDT) e o seu marido, o deputado federal Damião Feliciano. Ela se lançou pré-candidata ao governo do Estado depois de anunciar afastamento da base de apoio a João Azevêdo e passou a intensificar o diálogo com petistas paraibanos, mesmo com o PDT tendo um candidato próprio à presidência da República, na pessoa do ex-ministro Ciro Gomes. O senador Veneziano Vital do Rêgo, presidente do MDB na Paraíba, que também corteja a hipótese de disputar o governo, já esteve por duas vezes com o ex-presidente, valendo-se da sua condição, também, de vice-presidente do Senado Federal, que, às vezes, é investido na titularidade do cargo. De volta ao PT, o ex-prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, movimenta-se na expectativa de vir a ser candidato do partido ao governo do Estado, hipótese que não é descartada pelo presidente estadual Jackson Macêdo.
Especula-se nos bastidores políticos paraibanos que o apoio de Lula na eleição a governador da Paraíba estaria entre os três nomes – o de Cartaxo, o de Lígia e o de Veneziano Vital do Rêgo. Em termos concretos, ninguém se arrisca a antecipar a opção que o ex-presidente e líder petista vai fazer, sendo constantes as informações de que ele estaria tentando uma unidade ampla de forças políticas. Lula tem a opção, também, de não se envolver diretamente com candidaturas no primeiro turno, para não provocar dispersão de apoios que lhe estão sendo assegurados de forma enfática. Tudo fica no terreno hipotético porque não há declarações sinalizando posturas, há apenas fotografias documentando encontros. Esses encontros, reproduzidos para o plano nacional, adquirem dimensão maior, no campo da formatação de acordos para respaldar o projeto maior que é o da candidatura do ex-presidente ou do seu retorno ao poder. Afirma-se que em março, quando talvez Lula oficialize a pré-candidatura a presidente, haja indicações mais substanciais do que “selfies” cuja publicação tem ganhado espaços na Paraíba.
Na opinião de analistas políticos bem-informados, o Estado da Paraíba é tido como uma espécie de microcosmo da realidade nacional mais complexa com que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está se deparando. A montagem dos palanques pró-candidatura do líder petista nos Estados e em outras unidades é um trabalho paciente de engenharia política, que requer muita habilidade da parte do ex-presidente. Afinal, trata-se de tentar conciliar ou harmonizar interesses que geralmente são contraditórios ou conflitantes nos Estados, devido às peculiaridades das disputas regionais. No fundo, Lula prepara, mesmo, a chamada “governabilidade” na hipótese de ser eleito, havendo institutos cujas pesquisas indicam uma definição já no primeiro turno. Escaldado com processos traumáticos como o do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, que voltou a chamar de golpe, Lula tenta comprometer bancadas no Congresso com a governabilidade, recorrendo ao seu proverbial jogo de cintura. Apenas um ponto é certo: caberá a ele anunciar posições nos Estados. Agora, mais do que antes, até em face do favoritismo que ostenta, Lula não abre mão de centralizar decisões que podem ser essenciais para sua jornada para voltar ao poder.