Nonato Guedes
Colocada no centro do furacão da mídia nacional diante de versões de que estaria isolada dentro do Partido dos Trabalhadores e com suas relações abaladas com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a ex-presidente Dilma Rousseff foi às redes sociais para desmentir boatos, queixar-se de intrigas e advertir que é inútil qualquer manobra para afastá-la de Lula. “Não adianta quererem fazer intriga entre mim e o presidente Lula. Nossa relação de confiança já foi testada inúmeras vezes e é inabalável”, afirmou Rousseff. A ex-presidente foi afastada do cargo em 2016 através de um processo de impeachment que o PT sempre denunciou como “golpe”, enquanto a oposição o atribuiu a “pedaladas fiscais” que teriam sido cometidas na sua segunda gestão, conforme detectadas pelo Tribunal de Contas da União.
As especulações sobre um suposto isolamento político de Dilma tiveram início após o encontro promovido pelo grupo Prerrogativas, que reuniu lideranças políticas e o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, ex-PSDB, mas não contou com a presença de Dilma Rousseff. Os organizadores do evento esclareceram que foi um erro de comunicação que fez com que o convite da ex-presidente não chegasse até ela. Dilma Rousseff também criticou o fato de jornalistas escreverem coisas a seu respeito, mas não a consultarem nem à sua assessoria. “Jornalistas devem ligar para a minha assessoria quando quiserem saber o que penso. Notícias vêm sendo veiculadas sem qualquer tipo de apuração. Não tenho porta-vozes na grande imprensa”, protestou Rousseff.
A ex-mandatária também foi categórica e afirmou que não é candidata a nenhum cargo nas eleições deste ano. Em 2018, ela se candidatou ao Senado por Minas Gerais, mas foi derrotada. A Fundação Perseu Abramo emitiu uma nota de solidariedade a Dilma e também repudiou a tentativa de se criar um clima de intriga entre ela e o ex-presidente Lula. “A Fundação Perseu Abramo, que tem a ex-presidente como sua presidente de honra, vem a público por meio de sua diretoria de comunicação demonstrar seu repúdio às intrigas e afirmar em claro e bom tom o orgulho e a satisfação de ter uma pessoa com tanta história, dedicação, espírito coletivo e conhecimento como Dilma Rousseff na presidência de honra”, pontua a nota.
Em outro momento, o comunicado da Perseu Abramo afirma que “honra é o que faltou aos golpistas de 2016, golpe reconhecido recentemente pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso. Eles usurparam o poder em total desrespeito e desconsideração aos mais de 54 milhões de brasileiras e brasileiros que sufragaram o seu nome nas eleições de 2014”. E mais: “O legado de seu governo vem sendo recuperado permanentemente pela Fundação e pelo Partido dos Trabalhadores, com a publicação em série dos feitos e dos compromissos populares de seu governo: o livro “5 anos de Golpe e Destruição”, de Sandra Brandão, com prefácio do presidente da FPA Aloízio Mercadante, e a Revista Focus Brasil, que tem produzido ao longo de dezenas de números a série sobre o desmonte de políticas públicas que se deu a partir de Temer e depois com a tragédia Bolsonaro”.
A Fundação conclui: “Agora partem para a estigmatização de sua pessoa. Parece até que a proeminência de figuras femininas causa um certo mal-estar em algumas pessoas ou órgãos. Da parte da Fundação Perseu Abramo, sua Diretoria e seu Conselho Curador, os intrigantes não terão abrigo. Penso ser esse também o sentimento que vigora nas fileiras do seu partido, o Partido dos Trabalhadores”. O ministro Luís Roberto Barroso, presidente do TSE, causou repercussão ao afirmar que Dilma não foi derrubada por causa das “pedaladas fiscais” e, sim, por falta de apoio político. Dilma foi a primeira mulher a ascender à presidência da República, em 2010, ao ser lançada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como sua sucessora. Na época, era conhecida como “Mãe do PAC”, por ser a responsável por tocar o Programa de Aceleração do Crescimento do governo Lula. Tornou-se, também, a primeira mulher presidente da República a sofrer “impeachment”. Em entrevistas sobre a polêmica, Lula reiterou que Dilma pode não ter tido jogo de cintura no trato com os políticos, mas deixou claro que a sua honestidade é inquestionável.