Nonato Guedes
Com cerca de uma dezena de pré-candidatos lançados em diferentes partidos, a corrida eleitoral para a presidência da República em 2022 já registrou desistências de postulantes que não vinham pontuando bem em pesquisas preliminares e ainda pode assinalar outras desistências, encorpando significativamente o quadro de candidatos. A dificuldade de avançar nas intenções de voto ou de conquistar eleitores pelo carisma ou por propostas é o fator principal de desestímulo de candidaturas. Na verdade, alguns nomes se lançaram por vaidade pessoal mas sem lastro para chegar ao Planalto, exemplo do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado, que sonhou com a chance de encarnar ideais do ex-presidente Juscelino Kubitscheck e concluiu, desolado, que o fenômeno da osmose não aconteceu.
Há outros motivos para desistência, como a ameaça de formação de federações partidárias, em meio às quais a imagem de certos postulantes se anula ou fica imperceptível para a opinião pública em termos de repercussão. Só candidatos bastante conhecidos, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não são afetados pelas federações – pelo contrário, admitem aderir a elas para se fortalecer cada vez mais. Lula é o principal favorito da corrida presidencial, depois que recuperou direitos políticos e teve anuladas sentenças de condenação impostas pela Justiça. Embora formalmente não tenha sido declarado inocente de acusações atribuídas lá atrás, envolvendo até casos de corrupção, também não é formalmente considerado culpado, o que lhe confere o benefício da dúvida na disputa. Credenciou-se de forma irreversível ao se apresentar como o candidato anti-Bolsonaro, que foi fenômeno em 2018 mas transformou-se em vilão em 2022 devido ao governo desastrado que empreende.
Já retiraram seus nomes da disputa o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, o ex-deputado e ex-candidato a presidente Cabo Daciolo, o jornalista e apresentador José Luiz Datena, o empresário João Amoêdo, um dos fundadores do Partido Novo, e o senador Alessandro Vieira (SE), do Cidadania. Houve especulações de que o ex-juiz Sergio Moro, que se filiou ao Podemos e anunciou candidatura à presidência, poderia vir a polarizar com Lula – e em alguns momentos ele pontuou bem em pesquisas, mas disputando a terceira colocação, sem chegar a destronar o presidente Jair Bolsonaro, que, mesmo desgastado, sustenta polarização com Lula. Moro ganhou notoriedade por ter sido responsável por condenações relacionadas à Operação Lava Jato e por ter determinado a prisão de Lula. Mas, ao contrário do que imaginava, não empolgou setores da classe média ou da direita e de forma recorrente é cogitado ora para vice de algum postulante em melhor posição ou para candidato ao Senado.
Afirma-se nos meios políticos que a próxima desistência pode vir da parte da senadora Simone Tebet (MS), que foi lançada em oito de dezembro pelo MDB, presidiu a Comissão de Constituição e Justiça e hoje é líder da bancada feminina. Colegas de Tebet no Senado e parlamentares do MDB na Câmara Federal estão ostensivamente comprometidos com a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva e pretendem formar com ele já no primeiro turno, o que refreia movimentos em prol do nome de Simone. Ultimamente lançou-se o deputado federal André Janones, do Avante-MG, que já foi filiado ao PT e que em 2018 ficou conhecido após viralizar com uma série de vídeos sobre a greve dos caminhoneiros. Na verdade, a chamada terceira via parece dividida na ocupação de espaços pelos pré-candidatos João Doria (PSDB), que é governador de São Paulo, e pelo ex-ministro Ciro Gomes (PDT), remanescente de outras disputas em que nunca logrou avançar para o segundo turno. Pesquisas de vários institutos mostram que Lula e Jair Bolsonaro seguem isolados em primeiro e em segundo lugar no primeiro turno da corrida eleitoral.
Em tese, a eleição de 2022 já tem mais nomes em disputa do que as de 1994, 2002, 2006, 2010 e 2014. A eleição presidencial de 1989, que elegeu Fernando Collor de Mello, foi a que teve mais candidatos desde a redemocratização: 22 nomes. Chegaram a participar dessa disputa “condestáveis” como o doutor Ulysses Guimarães, o Senhor-Diretas, e o folclórico médico Enéias Carneiro, que se candidatou por um partido denominado Prona e que, mesmo não tendo quantidade expressiva de votos, conseguia prender a atenção de telespectadores e de eleitores com seus bordões. O pleito de 89 marcou a estreia de Lula em campanhas presidenciais. Ele chegou a ir para o segundo turno contra Collor, que ganhou com a fama de suposto caçador de marajás. Em 2002, finalmente, Lula ascendeu pela primeira vez à presidência, repetindo o feito na eleição de 2006 e sendo decisivo para a vitória de Dilma Rousseff em 2010. A circunstância de voltar ao páreo como líder das pesquisas mostra o prestígio que ele consolidou junto a parcelas expressivas do eleitorado brasileiro.