Nonato Guedes
Mesmo seguindo os protocolos de saúde exigidos por haver testado positivo para a Covid-19, o senador Veneziano Vital do Rêgo, presidente estadual do MDB, fez um movimento importante, ontem, no sentido de definir seu rumo no cenário político paraibano para as eleições deste ano. Frustrando os governistas, liderados ou fechados com a candidatura do governador João Azevêdo à reeleição, Veneziano participou, por vídeoconferência, de reunião com dirigentes e expoentes locais do Partido dos Trabalhadores, entre os quais o ex-governador Ricardo Coutinho e o ex-deputado federal Luiz Couto. Pelo que vazou para a imprensa, já entrou no radar a discussão da formação de chapa majoritária, que deverá ser encabeçada por Veneziano.
Isto coloca o senador emedebista no papel de concorrente do governador João Azevêdo, que tinha esperanças de contar com seu apoio na jornada rumo a um novo mandato. Havia uma sinalização muito forte sobre o distanciamento de Veneziano em relação a Azevêdo, com desencontros de agenda, incidentes e desinteresse em dialogar. O governador queixou-se mais do que agiu na relação complicada que passou a sustentar com o líder político campinense – e, quando resolveu agir, já era tarde, na opinião dos analistas. A esta altura, Veneziano já estava enfronhado em demandas para as quais foi buscar o respaldo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com quem tem interlocução privilegiada, inclusive, pela sua condição de primeiro vice-presidente do Senado Federal. O reatamento político com o atual governador havia se tornado uma miragem porque não havia mais vontade nem clima para tanto, da parte do senador.
Emedebistas alinhados com o governador, como o “clã” Paulino, de Guarabira, cujo chefe, o ex-governador Roberto, é secretário de Estado, ainda alimentavam a esperança de entendimento, sobretudo depois que o ex-prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues (PSD), rompeu acenos na direção de Azevêdo e formalizou, de público, o seu apoio e engajamento à campanha do pré-candidato do PSDB ao governo do Estado, deputado federal Pedro Cunha Lima. Como Romero havia sido uma espécie de “pivôt” para azedar a relação Veneziano-Azevêdo e optou por manter distância do atual ocupante do Palácio, especulou-se que um óbice havia sido removido. Ocorre que Veneziano já estava envolvido em outras tratativas, costurando as linhas do seu próprio futuro. A perspectiva de se candidatar ao governo e não ficar sem mandato mesmo na hipótese de vir a ser derrotado certamente pesou nas avaliações, por mais que seja negada. Mas o fator determinante foi o irreversível clima de rompimento entre o senador e o chefe do Executivo.
Dentro do Partido dos Trabalhadores, que passa a ser parceiro preferencial do MDB na disputa política deste ano na Paraíba, reeditando-se alianças feitas lá atrás pelo falecido ex-governador José Maranhão, cogita-se a possível candidatura do ex-governador Ricardo Coutinho ao Senado em dobradinha com Veneziano. Essa postulação é do máximo interesse do ex-presidente Lula da Silva, que tem Ricardo como seu interlocutor de cabeceira no Estado desde os tempos do impeachment de Dilma Rousseff e da prisão do próprio Lula na carceragem da Polícia Federal em Curitiba. O problema que reside é sobre a viabilidade da candidatura de Ricardo, que no momento está inelegível, em meio a processos e denúncias que se acumulam contra ele no âmbito da Operação Calvário, referentes a desvio de verbas da Saúde e da Educação no Estado. Vai ser preciso montar uma força-tarefa para livrar Ricardo da inelegibilidade, mas Lula é confiante, até porque o líder petista é quem está dando as cartas no jogo político brasileiro na atualidade, sem rivais à vista.
Seja como for, não sendo possível contemplar Ricardo em mais uma tentativa de voltar ao poder (a primeira foi mal sucedida, em 2020, quando se registrou como candidato a prefeito de João Pessoa e não logrou ir para o segundo turno), o PT não ficará sem nomes para reforçar a luta visando a derrotar o deputado Efraim Filho, do DEM, que se apresenta ao Senado na chapa do governador João Azevêdo. Aqui, entra em cena um problema para Veneziano, que foi o primeiro político a manifestar apoio a Efraim ao Senado, embora ultimamente, talvez por causa da reaproximação com o PT, não seja mais enfático na reafirmação de apoio. Coutinho terá outros espaços que quiser, inclusive no cenário nacional, na hipótese de ascensão de Lula à cadeira do Palácio do Planalto. O ex-presidente, como se sabe, diante do seu favoritismo, já vem loteando ministérios e cargos de outros escalões com aliados de uma frente ampla que vai se formando nos Estados em torno do seu nome para o pleito de outubro.
Há muitas peças a serem encaixadas, ainda, no tabuleiro político paraibano, para as eleições vindouras. Na verdade, o jogo está só começando, apesar dos movimentos em círculo que foram empreendidos por diferentes atores em 2021. O esquema do governador João Azevêdo certamente não ficará de braços cruzados, desperdiçando a chance de batalhar pela reeleição de um governante que ainda lidera pesquisas de intenção de voto para a corrida eleitoral de 2022. A questão é saber com que aliados o governador contará para montar sua retaguarda e tentar assegurar, ao mesmo tempo, a manutenção do governo e a conquista da vaga no Senado. As demandas e tratativas exigem, agora, do governador João Azevêdo, mais do que habilidade política: exigem pressa na definição do seu quadrado para as eleições, que é uma grande incógnita para inúmeros aliados da base governista. A ação de Veneziano pode ser o elemento detonador da reação que os aliados do governismo tanto aguardam.