Nonato Guedes
A formação de uma federação partidária entre o PSB e o PT para as eleições deste ano aparentemente empacou em meio a divergências ainda inconciliáveis em São Paulo entre os dois partidos de esquerda, mas o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mesmo passando recibo de desânimo com os obstáculos, determinou que os entendimentos sejam continuados para que, afinal, se tenha um consenso. Na Paraíba, o deputado federal Gervásio Maia, presidente do PSB, reconhece o impasse mas diz que prefere apostar fichas na viabilidade do entendimento, diante de razões estratégicas que estariam em jogo no projeto de formação das federações. Particularmente, ele defende a proposta para garantir sua própria sobrevivência à reeleição, já que o PSB na Paraíba está isolado para as eleições vindouras e enfrentou muitas defecções.
O deputado Gervásio Maia relatou ter acompanhado ativamente o resumo dos debates travados nos últimos dias entre líderes do PT, PSB e, também, do PV e do PCdoB. O complicador em São Paulo decorreu da intransigência do ex-governador Márcio França, do PSB, quanto à sua candidatura ao governo, mesmo depois de Lula ter anunciado questão fechada em torno da pré-candidatura do ex-ministro Fernando Haddad, que é dos quadros petistas e foi candidato ao Planalto em 2018. Lula tem procurado mostrar que em alguns Estados o PT tem feito concessões a aliados ou parceiros, como se verificou em Pernambuco, onde o senador Humberto Costa, que vinha liderando as pesquisas para o governo do Estado, abriu mão da postulação para favorecer uma candidatura do PSB e, colateralmente, o apoio deste partido à candidatura de Lula. Mas a verdade é que pipocaram resistências, agora, dentro do PSB de Pernambuco contra a federação, por parte do prefeito do Recife, João Campos.
Nas conversas que tem mantido com líderes políticos, tanto do PT como de outros partidos que desejam apoiar sua candidatura ao Planalto, o ex-presidente Lula tem ressaltado a importância da federação como um experimento necessário para fortalecer bancadas progressistas no Congresso Nacional, reforçando o campo democrático que luta contra o “Centrão” e as bandeiras empalmadas pelo governo de Jair Bolsonaro e seus aliados. Estimativas feitas e levadas ao conhecimento do ex-presidente indicam que a federação de esquerda, com o conjunto de partidos aglutinados, poderá vir a contar com pelo menos duas centenas de representantes na Câmara dos Deputados, um percentual considerado como bastante expressivo para a montagem de um rolo compressor capaz de dar combate às teses bolsonaristas. Essa perspectiva vinha alimentando sonhos de crescimento de siglas que temem o fantasma da cláusula de barreira e da falta de força para obter representatividade no próximo pleito.
As federações, pelo formato original que tem sido levado à discussão, teriam duração de quatro anos, o que significa que os desdobramentos teriam validade ou seriam inevitáveis nas eleições municipais de 2024. Somente após transcorridas as eleições municipais é que seria analisada a importância ou não do empreendimento que está sendo engendrado, casuisticamente, para as eleições deste ano. O problema, que, de certa forma, era esperado em alguns setores políticos, são as divergências acirradas em alguns Estados entre partidos da própria base de apoio à candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ou seja: a força dos interesses locais ou regionais está se impondo no contexto de uma estratégia idealizada nacionalmente. O próprio ex-presidente Lula entrou no circuito em Estados mais influentes para costurar soluções de consenso, mas confessou a interlocutores que tem sido surpreendido pelo clima até de enfrentamento entre algumas correntes que, a seu ver, seriam aliadas naturais no pleito deste ano.
Enquanto o processo de entendimentos está sustado em alguns Estados e os líderes mais interessados empenham-se ativamente em remover obstáculos, o deputado paraibano Gervásio Maia foi realista ao enfatizar que o PSB, no momento, não pode colocar em pauta a discussão sobre eventual candidatura ao governo do Estado. “Somente com o fim do impasse nacional poderemos avançar na questão local”, comentou Gervásio, que dirige praticamente uma massa falida, já que o PSB sofreu deserções quando o governador João Azevêdo migrou das suas hostes para o Cidadania e, posteriormente, enfrentou defecções quando o ex-governador Ricardo Coutinho abandonou a sigla e fez o caminho de volta às fileiras petistas. No momento, conforme Gervásio, o PSB paraibano não está na base do governador João Azevêdo, mas luta para figurar na federação que apoiará a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, novamente, ao Palácio do Planalto.