Pela primeira vez no país, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil resolveu estabelecer regras para audiências de representantes da entidade com candidatos a cargos políticos em 2022, sejam estes majoritários ou a vagas em Assembleias Legislativas e no Congresso Nacional. Segundo informações internas da Conferência, reveladas pelo Jornal “O Poder”, o motivo disso foi evitar a grande confusão observada em 2018. Na época, a CNBB foi criticada por ter recebido o então candidato a presidente Fernando Haddad (PT) às vésperas do segundo turno, numa visita sem agendamento.
O caso provocou tantas críticas que os bispos tiveram de divulgar uma nota pública, dias depois, reiterando que não apoiavam qualquer candidato e que não tinha havido má fé. Agora, as regras traçadas pela entidade vão definir até os assuntos que podem ser tratados entre bispos e candidatos, nestes encontros em período eleitoral. Conforme as regras, candidatos que quiserem fazer alguma visita a um arcebispo ou bispo devem fazer um pedido oficial dias antes. No caso dos candidatos à presidência da República, eles só poderão ser recebidos pelo presidente e pelo secretário-geral da CNBB. Candidatos aos governos estaduais poderão ser recebidos pelos bispos e arcebispos das respectivas regiões em que atuem.
As audiências serão fechadas à imprensa, mas terão de ter como tema prioritário os seguintes itens: acordo Brasil-Santa Sé, defesa da causa comum, defesa do verdadeiro Estado laico, defesa integral da vida, economia defendida pelo Papa Francisco, Educação e questões ligadas à pobreza, exclusão e justiça social. No documento em que anunciaram estes critérios, os bispos destacaram que a CNBB “defende o direito à democracia e à preservação da justiça e da paz social”, mas deixaram claro: “a decisão sobre quem apresentará o melhor projeto ao longo do pleito cabe apenas ao eleitor”. O protocolo para atendimento de candidatos e candidatas a cargos eleitorais em 2022 foi preparado com apoio das assessorias políticas e de comunicação da entidade e enviado aos bispos para que, “em contínua aprendizagem consigamos atravessar o período eleitoral contribuindo para o bem comum, com especial atenção aos mais fragilizados e evitando, dentro do possível, as sequelas da divisão e do pecado”. O presidente da CNBB é dom Walmor Oliveira de Azevedo, enquanto o secretário-geral é dom Joel Portella Amado.
Ficou fixado que as audiências com os candidatos deverão ser presenciais, obedecendo rigorosamente às regras sanitárias do momento em que ocorrerem. Os encontros terão duração de uma hora e serão divididos em três momentos: recepção, conversa e encerramento. O protocolo estabelece que a presidência da CNBB buscará abordar nas conversas com todos os candidatos os mesmos assuntos. No encerramento, os postulantes receberão uma cópia do Pacto pela Vida e pelo Brasil, assinado em 2020 pela CNBB junto com a Ordem dos Advogados do Brasil, Associação Brasileira de Imprensa, Sociedade Brasileira para o Progresso das Ciências, Academia Brasileira de Ciências e Comissão Arns, com propostas para o enfrentamento da pandemia de covid-19. Os candidatos também receberão um exemplar das encíclicas Laudato si e Fratelli tutti, do Papa Francisco.