Nonato Guedes
Segundo reportagem da “Folha de S. Paulo”, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem conduzido pessoalmente acordos que privilegiam potenciais aliados nas disputas regionais, até em detrimento de nomes do próprio PT, dentro da estratégia de solidificar pontes para um eventual segundo turno presidencial. Já se estima que com a redução para 10 do número de candidatos próprios do PT a governos estaduais, este será um dos menores percentuais de postulantes em 42 anos de fundação, completados no último dia 10. A legenda não abre mão de ter candidato em Estados como São Paulo, onde o nome do ex-prefeito Fernando Haddad está mantido, apesar das pressões do PSB para o apoio ao ex-governador Márcio França.
Na grande maioria dos Estados do Nordeste, entendimentos conduzidos diretamente por Lula beneficiam partidos diferentes como o MDB e o PSB, com concessões efetivas da parte dos petistas. Em Pernambuco, o senador Humberto Costa, do PT, mesmo liderando pesquisas de intenção de votos, abriu mão para uma “concertação” em torno da candidatura de Danilo Cabral, do PSB, garantindo o apoio desse partido à candidatura de Lula a presidente da República, que é a prioridade máxima dentro do PT. Em Alagoas, desapontando outros aliados, Lula deu aval à candidatura do governador Renan Filho (MDB) ao Senado, além do compromisso de aliança em torno do candidato dos Calheiros ao governo estadual. O registro fotográfico foi divulgado por Lula nas redes sociais. Renan Calheiros relatou: “O presidente Lula reafirmou a importância de estarmos juntos”.
No Maranhão, apesar da resistência de parte do PT local, o compromisso é de apoio ao indicado pelo governador Flávio Dino – seu vice Carlos Brandão, que concorrerá pelo PSB, provavelmente em consonância com a família Sarney. O senador Humberto Costa, que retirou a candidatura ao governo de Pernambuco, reagiu: “Claro que não fiquei satisfeito. Mas era a orientação nacional do PT. A aliança com o PSB é estratégica”. Afirma-se, nos bastidores, que foi acenado a Humberto Costa um ministério, na hipótese de Lula vencer a disputa, como sinalizam pesquisas de opinião pública. No Ceará, à espera de um acordo com o PDT no segundo turno, o comando nacional do PT não impôs resistência à aliança com a família Gomes.
No reduto eleitoral de Ciro Gomes, o PT apoiará a candidatura do PDT ao governo do Estado, uma vez que o governador Camilo Santana (PT) vai se desincompatibilizar para concorrer ao Senado, deixando a cadeira para a vice-governadora Izolda Cela. A estratégia nos Estados, conforme a “Folha de S. Paulo”, guarda total relação com os movimentos patrocinados por Lula no âmbito nacional. Um exemplo é que o ex-presidente tende a fechar uma chapa com o ex-tucano e ex-rival de campanha Geraldo Alckmin, além de ter conversado com outros nomes do PSDB e com o PSD de Gilberto Kassab. Com o aval de Kassab, presidente nacional do PSD, o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, discute uma aliança com o PT na disputa pelo Palácio dos Tiradentes. Líder do PT na Câmara, o deputado Reginaldo Lopes (MG) afirma que, em Minas, a polarização entre Kalil e o governador Romeu Zema (Novo) não permite espaço a uma terceira via. Está programado para os próximos dias um encontro entre Lula e o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil.
Disputado no Nordeste, Lula enfrenta dificuldades para montagem de palanques no Centro-Oeste, incluindo o Distrito Federal, região de forte presença bolsonarista. Ele chegou a propor ao tucano Marconi Perillo a formação de uma aliança ampla para barrar a reeleição do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil). Após 14 anos sem falar com Lula, Perillo alegou, porém, dificuldades de explicar ao seu eleitor uma coligação com o PT. Ex-governador de Goiás, ele deverá disputar o Senado pelo PSDB. “Tenho uma história no PSDB e pagaria alto preço se desviasse minha biografia por conta de um projeto de curto prazo”, disse. Já no Paraná o PT apoiará a candidatura do ex-emedebista Roberto Requião. Ex-governador e ex-senador, Requião está à espera dos desdobramentos do debate sobre federação no campo da esquerda para decidir a qual partido se filiar. Além do desejo de “colocar em ordem o Estado que está acabando”, Requião aponta a candidatura de Lula como uma das razões para disputar o governo.
Em toda a sua história, o ano em que o PT disputou menos governos estaduais foi em 2010, ocasião em que também priorizou abrir mão de candidatos próprios nos Estados em nome da formação de alianças regionais de sustentação à candidatura de Dilma Rousseff – foram 10. Em 2002, ano da vitória que levaria o PT ao governo federal, por exemplo, o partido disputou o governo de 24 das 27 unidades da federação, tendo vencido três (Acre, Mato Grosso do Sul e Piauí). Nas últimas eleições, em 2018, o partido lançou 16 candidatos a governador e elegeu quatro, todos no Nordeste – Ceará, Bahia, Piauí e Rio Grande do Norte. Há um entendimento predominante no PT de que a eleição de uma forte bancada para a Câmara dos Deputados e o Senado se sobrepõe à disputa de governos estaduais.