Nonato Guedes
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PT não têm sido respeitosos ou éticos com relação ao governador da Paraíba, João Azevêdo, que tem manifestado interesse de apoiar a pré-candidatura do líder petista ao Palácio do Planalto nas eleições deste ano. É uma posição, no mínimo, estranha para quem afirmou que deseja “conversar com todo mundo” em nosso Estado, segundo Lula verbalizou à rádio Clube de Pernambuco. O presidente estadual do PT, Jackson Macêdo, que se jacta de não dar um passo sem “combinar” com Lula e a presidente nacional Gleisi Hoffmann, pareceu ter agido com arrogância sesquipedal quando tonitruou: “Nada impede que João Azevêdo vote no presidente Lula, mas não vamos estar no palanque dele”.
No dizer do prestigioso colunista Helder Moura, “trata-se de uma humilhação a que o partido está expondo o governador, se é que Jackson fala mesmo em nome de Lula e Gleisi”. Pelo visto, Jackson fala, ainda que seja para reproduzir declarações captadas ao pé do ouvido. As razões da falta de correção para com o chefe do Executivo paraibano estão ligadas ao projeto de poder do PT local. Insuflada pelo ex-governador Ricardo Coutinho, que é o interlocutor preferido de Lula na Paraíba, a cúpula petista articula uma chapa própria ao pleito majoritário, que pretende estar na oposição a Azevêdo. A chapa pode ser encabeçada pelo ex-prefeito Luciano Cartaxo, filiado ao PT, ou pelo senador Veneziano Vital do Rêgo, dirigente do MDB, que praticamente rompeu com o governador João Azevêdo.
Desde que a eleição presidencial de 2022 entrou no radar dos políticos paraibanos tem havido uma romaria em demanda do apoio à candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por parte, inclusive, de políticos que já não se afinam no metro quadrado partidário do Estado. Em certa medida, o próprio Luiz Inácio Lula da Silva tem estimulado “Arcas de Noé” nos diferentes Estados, aglutinando para o seu leito adversários locais. No que diz respeito à Paraíba, João Azevêdo foi candidato em 2018 com o apoio de Lula, quando este se encontrava na Polícia Federal em Curitiba, e vitoriou no primeiro turno. Tinha, também, é claro, o apoio de Ricardo Coutinho. De lá para cá, houve mudanças radicais no cenário, de tal modo que Ricardo e Azevêdo são adversários a ferro e a fogo no plano local.
O atual governador sempre deixou claro que mesmo apoiando o ex-presidente Lula da Silva nunca cogitou ou pretendeu ter o monopólio de palanques ou de atenções em território paraibano, permitindo-se, apenas, não compartilhar o metro quadrado com figuras que lhe combatem ostensivamente. O que se evidenciou das posições de Azevêdo é que não há como ele apoiar a candidatura do presidente Jair Bolsonaro (PL) – primeiro porque não tem a menor afinidade com ele, segundo porque, no papel de governador de um Estado nordestino, tem sido alvo de expressões agressivas por parte do mandatário, inclusive por estar atuando no campo da esquerda e ter sido um dos incentivadores do chamado Consórcio Nordeste, que tanta irritação causa ao Palácio do Planalto porque é um instrumento de libertação dos gestores regionais da dependência crucial em relação ao poder federal. Bolsonaro, inclusive, referiu-se preconceituosamente a João Azevêdo como “governador de paraíba”, com isto querendo diminuir, também, a importância do Estado.
A opção que Azevêdo fez pelo Cidadania foi decorrente da sua “expulsão” do PSB arquitetada pelo ex-governador Ricardo Coutinho, que, mais tarde, com o controle absoluto da legenda, abandonou os socialistas e protagonizou em alto estilo um retorno às fileiras do PT, abonado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O atual governador paraibano é vítima de um processo insidioso de perseguição originada por razões pessoais, sem nenhuma justificativa política ou ideológica coerente. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva conhece a realidade de cor e salteado – mas parece hipnotizado pela gratidão a Ricardo Coutinho e atado para agir de forma transparente, a céu aberto. Em meio a tudo isso, o candidato favorito do PT pratica um jogo que não tem qualificação e que não engrandece a sua biografia, muito menos a trajetória do Partido dos Trabalhadores.
O que está sendo em relação ao governador João Azevêdo tem nuances de “molecagem”, constituindo desrespeito à sua liderança, ainda agora refletida em pesquisas de opinião pública que o credenciam com chances para ocupar um segundo mandato no Executivo paraibano. Está faltando grandeza ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, num episódio cuja repercussão negativa alcança diretamente a opinião pública e cria reflexos desagradáveis diante da suspeita de sordidez de manobras políticas que encobrem o jogo pelo poder. Lula poderia ter dito claramente que não aceita dividir palanque com o governador paraibano e até mesmo bravatear que ganha as eleições sem precisar do apoio dele. Em vez disso, negaceia ou silencia, dentro da estratégia de ganhar tempo enquanto valoriza conchavos até com figuras execráveis da cena política. Mais do que ao governador, o desrespeito é à Paraíba, que tem tradição política reconhecida nacionalmente.
Nonato demonstra em seus comentários uma grande simpatia pela reeleição de João Azevedo. Isso não é tão ruim. O pior é não ser capaz de perceber que João anda de braços dados com figuras detestáveis, como Cícero e Guga dos relógios. Guedes condena conchavos de Lula com figuras execráveis, sem perceber que essas figuras também se espalham pela Paraíba e sempre caminharam lado a lado distante dos interesses populares e dos trabalhadores. Já não basta o mandato apagado da senadora irmã de Guga dos relógios, ainda teremos que suportar o próprio Guga do relógios também como senador de João? Basta de sofrimento amigo Nonato. Busque ideias novas.