Nonato Guedes
O ex-prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PT), tornou público o que era esperado nos meios políticos: a “desistência” como pré-candidato ao governo do Estado nas eleições de outubro. Com o gesto, seguido do anúncio de que irá disputar mandato de deputado estadual, Cartaxo deixa a pista livre para o PT adotar como candidato oficial do palanque do ex-presidente Lula na Paraíba o senador Veneziano Vital do Rêgo, presidente do diretório regional do MDB. Além de Cartaxo e Veneziano também figurava no “radar” para empalmar o palanque de Lula a vice-governadora Lígia Feliciano (PDT), que se afastou do governador João Azevêdo e vinha demonstrando mais entusiasmo pela candidatura de Lula do que pela candidatura do pedetista Ciro Gomes.
Lígia, porém, não tem a visibilidade que Veneziano enfeixa, inclusive, pela condição dele como primeiro vice-presidente do Senado Federal, e a manutenção, pelo PDT, da candidatura de Ciro Gomes, era um empecilho adicional para seu engajamento pleno à caravana de Lula, salvo se a vice-governadora migrasse para o PT, o que não estava em cogitação. Em tese, Veneziano está sendo empurrado para a oposição ao governador João Azevêdo, que, não obstante dizer-se eleitor assumido de Lula, está sem fichas no palanque do candidato petista, favorito na corrida ao Palácio do Planalto. O senador por Campina Grande contabiliza, em sua agenda recente, mais audiências com o ex-presidente Lula do que outros apoiadores do candidato na Paraíba, e as discussões entre eles não se relacionam à questão política do Estado mas a questões nacionais que tramitam no Congresso, sobretudo matérias que o governo do presidente Jair Bolsonaro tenta aprovar com o apoio do Centrão.
Esta é a segunda vez que Luciano Cartaxo recua da disputa ao governo do Estado, o que parece indicar que a palavra governador não está no seu horóscopo. Em 2018, aboletado na prefeitura de João Pessoa, ele e o então prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues (PSD) cogitaram obter a indicação como candidato ao governo pela oposição. Na época, Luciano chegou a figurar com boa cotação em pesquisas de intenção de voto mas saiu da raia alegando não ter conseguido unir as oposições em torno de um projeto comum para renovar o modelo de gestão do Estado. Invocando quase o mesmo pretexto, Romero também renegou a chance – e o resultado é que ambos permaneceram na zona de conforto, ou seja, à frente dos mandatos até o último dia. Improvisou-se uma chapa familiar que não teve boa repercussão em círculos políticos paraibanos, encabeçada por Lucélio Cartaxo, irmão gêmeo de Luciano, tendo como vice Micheline Rodrigues, esposa de Romero. Conquanto tenha ficado em segundo lugar, a chapa não foi ao segundo turno, tendo João Azevêdo vitoriado de primeira, então pela sigla do PSB e com o apoio de Ricardo Coutinho.
Num caso raro de coincidência de destinos, antes do anúncio de Cartaxo, ontem, o ex-prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues, anunciara apoio à pré-candidatura do deputado federal Pedro Cunha Lima, do PSDB, depois de, lá atrás, ter desistido do projeto rumo ao Palácio da Redenção. Romero é candidato a deputado federal e tenta formar uma bancada no PSD junto com o ex-senador Raimundo Lira e mais nomes de expressão. Cartaxo tende a apoiar Veneziano se este for oficializado como candidato do ex-presidente Lula da Silva, como indicam todas as projeções políticas. Diz-se que Cartaxo tentará se eleger a um mandato que o torne mais próximo de João Pessoa, dentro da meta futura de voltar a disputar a prefeitura da Capital, daí a opção pela cadeira na Assembleia Legislativa. “O partido (PT) irá priorizar a candidatura a governo do Estado em favor de um partido aliado”, informou o ex-prefeito na nota e em mensagem nas redes sociais.
As expectativas se voltam, agora, tanto para o PT como, sobretudo, para o governador João Azevêdo, do qual já se distanciaram a vice-governadora Lígia Feliciano e o senador Veneziano Vital do Rêgo. A concessão pelo PT de cabeça de chapa em alguns Estados faz parte da estratégia nacional do ex-presidente Lula de fortalecer a si próprio, na cruzada para tentar voltar ao Palácio do Planalto. São poucos os Estados que o PT tem como dogma em 2022, a exemplo de São Paulo, onde a candidatura de Fernando Haddad está preliminarmente mantida, apesar da insistência de Márcio França, do PSB, de ser o escolhido. Em Pernambuco, o PT já sacrificou Humberto Costa, que vinha liderando pesquisas de intenção de voto, para favorecer um nome do PSB. Na Paraíba, é Cartaxo o sacrificado para que a aposta seja em torno de Veneziano. Confirmado esse desenho, o PT estará passando uma esponja no passado recente em que o MDB era tratado como “golpista”, o que só confirma o pragmatismo de Lula em relação ao poder.