Nonato Guedes
A ofensiva do deputado federal Efraim Filho (União Brasil) para se firmar como pré-candidato ao Senado no bloco do governador João Azevêdo provocou movimentos de reação dentro do Partido Progressista, com o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, avalista da pré-candidatura do deputado Aguinaldo Ribeiro, insinuando “desrespeito” à liderança do chefe do Executivo, que é o líder natural do processo eleitoral no bloco situacionista. A reação foi dirigida, principalmente, ao Republicanos, presidido pelo deputado federal Hugo Motta, que em nova demonstração de forças – a segunda, em uma semana – anunciou o apoio a Efraim e ainda sinalizou interesse em indicar o candidato a vice na chapa de Azevêdo.
Nos meios políticos paraibanos afirma-se que a movimentação do Republicanos teria desagrado não apenas ao prefeito Cícero Lucena mas, supostamente, ao próprio governador João Azevêdo, que tenta manter sob controle o processo de definições em torno de candidaturas dentro do seu bloco. A verdade é que os fatos estão se precipitando numa velocidade não calculada pelo governador e por interlocutores mais próximos. A tática de Azevêdo tem sido a de protelar indicações de preferência ou tendência de apoio ao Senado, mas essa tática ignora que já há um quadro de entredevoramento entre postulantes na base situacionista e que é irreversível o confronto interno entre Efraim e Aguinaldo. Azevêdo tem sido alertado para a necessidade de tratar com afinco a sua articulação política, consultando lideranças com experiência que possam assessorá-lo não apenas ou especificamente na definição de posição quanto à disputa ao Senado, mas, sobretudo, em relação à estratégia mais ampla, mais geral, envolvendo a própria reeleição do chefe do Executivo.
O que se nota é que o gesto do Republicanos, “fechando” com a pré-candidatura de Efraim, provocou repercussão diante do protagonismo que essa legenda vem alcançando no Estado e a nível nacional e da ascensão que o deputado Hugo Motta tem adquirido no quadro das forças políticas paraibanas. Mas há outros fatores em jogo. Enquanto Efraim continua se movimentando a céu aberto e apresenta resultados espetaculares do ponto de vista do somatório de apoios ao seu nome, Aguinaldo dá a impressão de que continua jogando parado, com atuação centrada nos bastidores e na base da pressão para conseguir adesões de líderes influentes como o próprio governador João Azevêdo. Enquanto Efraim praticamente já dividiu seus redutos com pretendentes à Câmara, que automaticamente se tornaram seus eleitores ao Senado, Aguinaldo ainda não abriu o balcão para negociar seus supostos redutos com idênticos postulantes.
O apoio do Republicanos deu mais gás à pré-candidatura de Efraim Filho porque o partido caminha para dispor da maioria na bancada federal paraibana, com as filiações anunciadas dos deputados Wilson Santiago (PTB) e Edna Henrique, além do ingresso do deputado Adriano Galdino, presidente da Assembleia Legislativa, que não desistiu do sonho de ser candidato a vice no esquema do governador João Azevêdo. De acordo com revelação do deputado Hugo Motta, o Republicanos decidiu fechar com a pré-candidatura de Efraim porque esperou por seis meses em vão por uma decisão do deputado Aguinaldo Ribeiro, sem que este evoluísse concretamente. Ontem, inclusive, surgiram especulações de que o deputado do PP avalia sondagens para lançar seu sobrinho, Lucas Ribeiro, vice-prefeito de Campina Grande, à vaga na Câmara, enquanto ele se aventura ao Senado. O desgaste para Aguinaldo na cruzada que empreende já vinha sendo explorado pelo fato de que sua irmã, Daniella, ocupa cadeira no Senado. Em todo esse contexto, a manifestação do prefeito Cícero Lucena serviu para elevar a temperatura e para aumentar a tensão nas hostes de apoio ao governador do Estado.
João Azevêdo tem problemas mais urgentes a equacionar, a exemplo da possível refiliação ao PSB e do seu encaixe no palanque de apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o que vem sendo sabotado por petistas locais como o ex-governador Ricardo Coutinho e o presidente do diretório estadual Jackson Macêdo. Mas uma reação mais afirmativa é cobrada diante da movimentação que as forças de oposição desencadeiam para tornar vulnerável o alegado favoritismo do governador na corrida eleitoral deste ano. A iminente confirmação do lançamento da candidatura do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) ao governo, com o apoio do PT e de Lula, pode provocar consequências para a candidatura de João Azevêdo à reeleição. Os adversários do governador estão procurando se capitalizar ou acumular reservas para fazer frente ao que chamam de “rolo compressor”, uma referência ao fato de que João será candidato tendo nas mãos o controle da máquina. Esses adversários dispõem de tempo para conspirar e até mesmo para projetar fórmulas que tonifiquem uma candidatura competitiva contra o governador. É por falta de uma ação mais ofensiva do chefe do Executivo que deserções estão se materializando e poderão tornar a disputa ao Senado o estopim de uma grande crise política-eleitoral na base situacionista paraibana.