Uma reportagem do “Diário de Pernambuco” mostra que a troca de xingamentos, sem constrangimento, é uma estratégia já adotada pelos principais pré-candidatos à Presidência da República nas eleições de outubro. “Ladrão de nove dedos”, disse Jair Bolsonaro (PL) sobre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em algum momento. O ex-presidente, por sua vez, já soltou o verbo sobre o principal oponente. “Está de quatro para o Congresso”. Há poucos dias, Ciro Gomes, do PDT, declarou a respeito de Sergio Moro, do Podemos: “Um pateta, uma anta completa”. Gomes, Moro, Bolsonaro e Lula apontam para um comportamento que novamente ganhou força no Brasil: a troca de ofensas, principalmente entre candidatos, como estratégia política.
A cientista política Priscila Lapa explica que, apesar de não ser algo novo, é uma das coisas que está voltando à atual agenda brasileira, potencializada pelo uso das redes sociais. “Eu acho que esse fenômeno do xingamento está muito relacionado a esse debate mais rasteiro que caracteriza a política brasileira e, sobretudo, a partir de um esvaziamento de agenda política que culminou em 2018”, acrescenta. Mesmo a federação partidária, tipo de aliança diferente das coligações e fusão de partidos, novidade das eleições de 2022, não repercute tanto quanto o volume de ofensas disparadas entre os principais presidenciáveis.
Os insultos em questão, conforme a matéria, vêm de personalidades bem delineadas do cenário político nacional. De acordo com o cientista político Bhreno Vieira, trata-se de um padrão de campanhas eleitorais que se fortaleceu no país e no mundo durante a década de 80. “A personalidade dos candidatos passa a vir à frente dos programas e ideais de um partido (…) Durante os anos 80, esse processo de personalização dos candidatos começou a vigorar porque agora o político ou candidato não precisaria de intermediário”, explicou Vieira. A abertura, de acordo com o cientista, foi viabilizada pelos meios de comunicação de massa.
O termo “discurso de ódio” provavelmente nunca foi tão utilizado, e não é para menos. Um estudo realizado pela Universidade de Cambridge, divulgado em 2021, analisou quase três milhões de posts no Facebok e Twitter, todos escritos pela imprensa e por congressistas dos Estados Unidos. Os posts que atacaram os adversários foram os mais compartilhados. Priscila Lapa também acredita que os ataques entre os principais presidenciáveis surtem um efeito maior que um post mais ameno, por exemplo, e explica seu ponto de vista: “Esse atalho cognitivo do xingamento tem, obviamente, um caráter muito mais emotivo, de você mobilizar as emoções do eleitor, do que um caráter racional. Você não traz informação nova”. Já a cientista política Rayana Burgos acredita que as ofensas funcionam dependendo do tipo do eleitorado. “Normalmente, os candidatos sabem quem é o seu eleitorado e o perfil dele, então o objetivo de fazer um discurso ofensivo ao adversário é fortalecer a sua base e afastar cada vez mais a sua campanha do oponente”, explica.