Nonato Guedes
Falando por telefone, com exclusividade, a este repórter, o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) disse que o seu rompimento com o governador João Azevêdo (Cidadania) tornou-se inevitável diante da postura do chefe do Executivo, “que se encastelou no palácio ou na Granja, cometeu erros políticos medianos e não dialoga com seus aliados, preferindo cercar-se de um pequeno grupo ao invés de ampliar canais de discussão”. Do grupo de interlocutores do governador, Veneziano mencionou dois nomes: o do secretário de Comunicação, Nonato Bandeira, e o do também secretário e presidente do Cidadania, Ronaldo Guerra. “Faltou diálogo”, resumiu o presidente estadual do MDB, criticando a articulação política do gestor e confirmando que é pré-candidato ao governo em aliança com o PT, tendo o ex-governador Ricardo Coutinho como postulante ao Senado. O anúncio conjunto das duas pré-candidaturas ocorrerá hoje pela manhã, em evento no Sindicato dos Bancários.
Por quase uma hora, Veneziano narrou fatos que, segundo ele, dificultaram a sua convivência com o esquema do governador João Azevêdo e informou ter tido garantias de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá seu palanque como único na Paraíba para sua campanha à presidência da República, embora possa vir a ser apoiado por outros líderes, entre os quais o governador. Veneziano confessa que passou a manter ultimamente uma relação estreita com o ex-presidente Lula e admitiu que tem recebido estímulos constantes do líder petista para empalmar a candidatura ao governo com o apoio do PT. “Se dependesse do presidente Lula, desde junho eu já teria sido lançado candidato”, revelou Veneziano, reforçando os laços de afinidade entre ele e o ex-mandatário. E acrescentou: “No MDB do Nordeste é quase unanimidade a tese favorável ao apoio ao presidente Lula já no primeiro turno”.
Um dos exemplos da “falta de articulação política” dentro do governo de João, segundo Veneziano, foi a “desastrada” operação de aproximação do esquema oficial com o ex-prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues (PSD), que até então fazia duras críticas à administração estadual. “Ao invés de dialogar com aliados de primeira hora, como o meu grupo, o governador investiu na atração de adversários recentes, como o ex-prefeito Romero Rodrigues, que, no final das contas, acabou confirmando o apoio à candidatura do deputado Pedro Cunha Lima, do PSDB, ao governo do Estado, contra João”, historiou Veneziano, lembrando que em outras regiões o tratamento foi o mesmo, de desatenção para com aliados. Ele mesmo se considerou vítima de “descortesia” do ocupante do Palácio da Redenção em episódios como o controle da legenda do “Podemos” em Campina Grande ou do incidente com sua esposa, a ex-secretária Ana Cláudia Vital do Rêgo, durante solenidade oficial do governo na Rainha da Borborema.
No seu relato, o senador do MDB salientou que fez gestões para tentar conciliar-se com o governador e assegura que até o último minuto desenvolveu esforços para evitar atritos e evitar o distanciamento, “mas essa articulação não foi possível nem teve êxito porque não havia espaço para o entendimento”. Frisou que, pessoalmente, não tem querela contra o governador João Azevêdo, da mesma forma como chegou a receber o ex-senador Cássio Cunha Lima (PSDB) para audiência ou conversa, mas disse que o distanciamento por parte do chefe do Executivo foi se aprofundando, a ponto de transcorrerem meses sem contato entre ele e o governador enquanto a mídia insinuava atos de hostilidade contra ele por parte de figuras da confiança do núcleo palaciano. Veneziano citou o período das eleições municipais de 2020 para prefeito como data simbólica do entendimento que havia com o governador João Azevêdo. Daí em diante, na sua avaliação, as coisas desandaram e as demandas foram se acumulando irremediavelmente.
Veneziano não acha incoerente ou estranha a aliança entre o MDB e o PT na Paraíba, lembrando que isto já ocorreu lá atrás em outras oportunidades ou embates, e falou da afeição que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem para com ele, adiantando que a recíproca é verdadeira e destacando o preparo do líder petista para voltar à Presidência da República à frente de um movimento de salvação nacional contra o governo do presidente Jair Bolsonaro e o bolsonarismo. “Considero que farei parte de um projeto nacional e estadual que me representa plenamente”, asseverou o senador, admitindo que não cogitava ser candidato a governador em 2022 mas que não fugirá do desafio imposto pelas circunstâncias ou pela conjuntura. Sua aliança com Ricardo Coutinho, como deixou claro, insere-se nesse contexto. Ele alertou que não pretende fazer juízo de valor sobre acusações feitas contra Ricardo na Operação Calvário e disse pugnar pelo direito dele à defesa, ao amplo contraditório, com o esclarecimento dos fatos. “Quem tentar fazer cavalo de batalha da Calvário na campanha eleitoral pode sair queimado”, alertou, referindo-se a adversários políticos interessados em explorar um tema que considera bastante polêmico.
O senador emedebista concluiu suas revelações dizendo que está com a consciência tranquila diante do posicionamento que está tomando na realidade política da Paraíba para o pleito deste ano. Confirmou que, diante da nova configuração dos fatos, perde sentido a possibilidade de apoio seu à pré-candidatura do deputado federal Efraim Filho (União Brasil) ao Senado e prognosticou que o ex-governador Ricardo Coutinho tem percentuais superiores, para liderar a corrida ao Senado, caso consiga o direito de elegibilidade pelo qual está batalhando. “Efraim tem seus méritos e reafirmo suas qualidades, mas a candidatura do ex-governador Ricardo Coutinho é qualificada em termos de densidade eleitoral, de acordo com pesquisas, o que pode ser reflexo da sua passagem pelo governo em dois mandatos”, avaliou Veneziano. Por fim, ele enfatiza que está pronto para debater os problemas que afligem a Paraíba e propor soluções que, na sua opinião, ainda não foram viabilizadas. “Eu esperava mais da atual administração. Infelizmente, isto não aconteceu”, explicitou.