Nonato Guedes
Há um significado simbólico importante para o governador da Paraíba, João Azevêdo, na sua volta aos quadros do PSB, em solenidade já agendada para quinta-feira e que os correligionários do chefe do Executivo pretendem transformar em mega-evento: é o efeito da “reparação” ao gesto de força perpetrado pelo ex-governador Ricardo Coutinho, quando dirigente da sigla no Estado, para dela desalojar o gestor que havia sido eleito com seu apoio, em primeiro turno, nas eleições de 2018. Azevêdo passou a ser alvo de perseguição por não se submeter aos caprichos de Ricardo e por querer, de forma legítima, exercer sua própria influência dentro do Partido Socialista. Só posteriormente, conforme confessou nos últimos dias o presidente nacional Carlos Siqueira, é que a cúpula do PSB inteirou-se da hostilidade movida contra Azevêdo, cujos aliados indicados para a Executiva Estadual foram destituídos em operação “manu militari” desencadeada pelo ex-governador, hoje reconciliado com o PT.
Ontem, em sua rede social, o deputado federal Gervásio Maia, que está no comando da direção socialista paraibana, antecipou as “boas vindas” ao governador João Azevêdo e anunciou a presença do presidente nacional Carlos Siqueira na (re)filiação. Textualmente, Gervásio afirmou: “Para nós, é uma enorme alegria receber este valoroso companheiro, que chega para somar na batalha contra o bolsonarismo e que pensa em uma Paraíba ainda mais próspera, de trabalho e oportunidades”. Azevêdo deixou o Cidadania, um partido mais ao centro, para tentar se reencontrar com o caminho que escolheu na vida pública: o de esquerda. Com isso, tem mais facilidade para ser admitido no círculo de líderes apoiadores da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Planalto. O pretexto para Azevêdo migrar do Cidadania foi a decisão da cúpula nacional aprovando formação de “federação” com o PSDB nas eleições deste ano. No que diz respeito à “federação” PT-PSB, um acordo ainda parece distante, mesmo com o prazo para registro ampliado para 31 de maio.
Reportagem do jornal “O Estado de S. Paulo” revela que movimentações nos Estados ainda apontam entraves para consolidação de federação, devido a arestas que precisam ser aparadas ou a conflitos graves como o da Paraíba que opõe a liderança de João Azevêdo ao ex-governador Ricardo Coutinho, que tenta se tornar elegível para concorrer ao Senado na chapa encabeçada pelo senador emedebista Veneziano Vital do Rêgo. O problema mais recente ganhou destaque no último sábado, 19, quando o senador Fabiano Contarato confirmou que irá concorrer ao governo do Espírito Santo pelo PT, projeto que se choca com os planos do atual governador capixaba, Renato Casagrande, do PSB. Esses obstáculos, entretanto, não necessariamente inviabilizam o apoio do PSB à candidatura do líder petista para o Executivo.
Ao “Estadão”, o dirigente socialista Carlos Siqueira projetou que o apoio a Lula nas eleições já é certo mesmo que não haja federação. Sendo assim, os eventuais entraves nos Estados, mesmo que impeçam uma união definitiva entre as legendas para a próxima legislatura, não afetarão a aliança em torno do provável candidato do PT para a disputa pelo Palácio do Planalto. “Estaremos com Lula”, enfatizou Siqueira. Já no que diz respeito à federação, reforça o clima “azedo” das negociações o fato de Casagrande ter se encontrado há pouco mais de uma semana com o pré-candidato do Podemos à Presidência, Sergio Moro, um dos principais adversários políticos de Lula. O evento foi criticado por lideranças petistas e caisou mal estar entre as duas siglas. Obstáculo forte se verifica também em São Paulo, onde o PT está decidido a lançar Fernando Haddad ao governo e o PSB não abre mão da pré-candidatura de Márcio França.
Uma ala do PT já vislumbra Haddad e França como adversários em São Paulo, tamanha é a dificuldade para se chegar a um acordo. A disposição de ter palanque duplo em São Paulo sinaliza que, mesmo sem acertar uma federação, os dois partidos podem seguir juntos na disputa nacional, pois as coligações (proibidas nas eleições proporcionais, para deputados, por exemplo) seguem permitidas nos pleitos majoritários, ou seja, o PSB poderia apoiar Lula na corrida presidencial e candidatos de outras siglas nos Estados. Já em caso de federação isto seria impossível, pois a parceria é vertical, deve incluir todas as disputas em que os partidos estão envolvidos, e deve durar no mínimo quatro anos. Na avaliação do cientista político Humberto Dantas (FESP-SP), uma coligação pode até ser mais vantajosa que uma federação no caso de dois partidos grandes, como o PT e PSB, isso porque a federação obriga as legendas a unificarem suas listas de candidaturas também nas eleições proporcionais.
Ao contrário do Espírito Santo, Pernambuco deixou de ser um dos obstáculos para a federação. Após diálogos com o PSB, o PT abriu mão da candidatura do senador Humberto Costa ao governo, privilegiando o candidato escolhido pelo governador socialista Paulo Câmara. Em entrevista à rádio Clube, Lula afirmou que, na negociação, seu partido deverá ter a indicação de um nome ao Senado, em compensação. Na Paraíba, a atmosfera é de radicalização entre os grupos do governador João Azevêdo e do ex-governador Ricardo Coutinho. Mas passos estão sendo dados por aliados do governador João Azevêdo para que não haja traumas no seu retorno ao PSB e que ele possa dispor, afinal, de espaço legítimo para levar à frente projetos políticos para os quais tornou-se vocacionado na conjuntura local.