Nonato Guedes
O governador da Paraíba, João Azevêdo, dá a volta por cima no cenário político local e retorna, hoje, aos quadros do PSB, confirmadíssimo na base de apoio à candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à presidência da República. O PSB foi o primeiro partido, no país, a hipotecar apoio à pretensão do líder petista, que é favorito, a dados de hoje, na corrida presidencial, polarizando o quadro com o presidente Jair Bolsonaro (PL) mas a uma boa distância, com expressivos corpos de vantagem sobre o seu oponente. No paralelo, a chamada “terceira via” está se desidratando cada vez mais e já se fala em desistências de postulantes como João Doria (PSDB), Sergio Moro (Podemos) e Simone Tebet (MDB), que ainda resistem “por honra da firma” ou por outros interesses.
João Azevêdo tem experimentado praticamente uma odisseia em termos de acomodação partidária na Paraíba desde que se lançou na política em 2018, concorrendo ao governo pelo PSB e logrando ser vitorioso em primeiro turno. Quando tentou se firmar, naturalmente, no comando do PSB, depois de investido na chefia do Executivo paraibano, teve o seu tapete puxado pelo antecessor, Ricardo Coutinho, que era, então, senhor de baraço e cutelo nas hostes socialistas locais. Hoje, Azevêdo é recebido pelo PSB com “tapete vermelho”, nas palavras do presidente nacional, Carlos Siqueira. O rival Ricardo Coutinho, antigo aliado, que está no PT, ainda maneja os cordéis para tentar barrar a presença do sucessor na campanha de Lula, mas essa hipótese está descartada diante do pragmatismo político que o próprio Lula adota para derrotar Bolsonaro e que o leva a se compor até com líderes que votaram pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, como o senador paraibano Veneziano Vital do Rêgo, que é pré-candidato ao governo do Estado com o apoio de uma ala petista.
O atual governador paraibano migrou, há cerca de um ano, para o “Cidadania”, na luta para garantir, democraticamente, a sua sobrevivência política, como patenteou na ocasião em que foi acolhido na legenda presidida pelo político pernambucano Roberto Freire. Teve que deixar o “Cidadania” por fatores alheios à sua vontade, tais como a imposição, pela Executiva Nacional, da formação de “federação” com o PSDB nas eleições deste ano, o que o levaria a uma convivência indesejável com adversários na Paraíba como o deputado federal Pedro Cunha Lima, pré-candidato ao governo. Com relação ao PSB, segundo Carlos Siqueira, não há empecilhos para a formação de uma federação com o PT já que o partido, no Estado, anunciou apoio ao senador Veneziano. Ou seja: o apoio a Lula, que Azevêdo queria assegurar, está assegurado, independente de pendências burocráticas envolvendo as eleições de 2022.
A importância, para Azevêdo, de apoiar Lula, decorre do fato de que o governador da Paraíba deseja continuar atuando no campo da esquerda e também por causa da sua afinidade com o ex-presidente. O gestor paraibano está na linha de frente dos governadores do Consórcio Nordeste que fazem oposição ao presidente Jair Bolsonaro e por isso chegam a ser hostilizados ou detratados pelo mandatário. Logo no início do seu mandato, tornou-se célebre a inconfidência de Bolsonaro, em reunião ministerial, quando atacou governadores adversários, especialmente os do Nordeste, a quem denominou de “governadores de paraíba”, numa alusão pejorativa e preconceituosa contra o nosso Estado. Ainda que o governo federal não discrimine Estados como a Paraíba, é evidente a má vontade do presidente em dialogar com o governador João Azevêdo, papel que é terceirizado para ministros como o paraibano Marcelo Queiroga, da Saúde, e outros que visitam o Estado em missão institucional.
A verdade é que João Azevêdo não se sente confortável no bloco de apoio ao presidente Jair Bolsonaro e houve ocasiões em que se pronunciou contestando discursos agressivos do mandatário ou defendendo, com altivez, os interesses da Paraíba e do Nordeste, diante de acusações assacadas contra esta região. Também destoou frontalmente de Bolsonaro quando este comandou atos anti-democráticos e fez a apologia de instrumentos autoritários, que constituem espólio do período de exceção instaurado no Brasil por 21 anos. Nessas condições de temperatura e pressão, e pelo tom corajoso que tem imprimido às suas falas, o governador João Azevêdo não teria outra saída senão convergir para a candidatura de Lula. É o que tem feito, desafiando o Planalto e, também, apoiadores de Lula que, na Paraíba, o combatem.
O evento programado para hoje em João Pessoa, de refiliação do governador João Azevêdo ao PSB, como já foi anotado, tem um simbolismo de “reparação” para ele, diante da falta de apoio que lá atrás a cúpula nacional do PSB demonstrou ao se posicionar sobre o desaguisado entre João Azevêdo e o ex-governador Ricardo Coutinho. Ao mesmo tempo, fica implícito o reconhecimento à liderança política que João Azevêdo exerce na Paraíba e que lhe confere, preliminarmente, situação de favoritismo na maratona eleitoral para outubro, enfrentando bolsonaristas e outros adversários que se colocam à sombra da esquerda para tentar destruir seus espaços. Para o chefe do Executivo, pouco importa que haja palanques múltiplos para favorecer a candidatura do ex-presidente e líder petista na Paraíba. De sua parte, pretende comandar o “maior palanque” de Lula no Estado – e o evento de logo mais será uma prévia da demonstração de força que ele pretende oferecer.