Nonato Guedes
O evento de refiliação do governador da Paraíba, João Azevêdo, ontem, ao PSB, em cerimônia concorrida que foi realizada em João Pessoa, além de reparar a injustiça provocada pela saída do gestor da legenda, que teve as digitais do seu antecessor, Ricardo Coutinho, foi fundamental para quebrar o isolamento em que João se encontrava no campo da esquerda, onde pretende se alinhar na disputa deste ano. As falas do presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, do governador de Pernambuco, Paulo Câmara, e do prefeito do Recife, João Campos, foram focadas no sentido de reconhecer o papel de João Azevêdo como um aliado, não um oportunista, na seara que declarou guerra ao governo do presidente Jair Bolsonaro e à tentativa deste de se reeleger.
Ainda que formalmente não tenha sido equacionada a questão dos palanques em apoio à campanha do líder petista Lula na Paraíba, a identidade do governador João Azevêdo com essa postulação foi ressaltada e oficializada. Os depoimentos de Siqueira, admitindo erro na condução do imbróglio político no PSB da Paraíba opondo Ricardo a Azevêdo, equivaleram a um mea-culpa diante da postura unilateral que o comando socialista havia assumido, quando estava hipnotizado pela liderança pessoal do ex-governador Ricardo Coutinho. Ficou evidenciado, nas palavras de Siqueira, que a cúpula do PSB pecou em não “ouvir o lado”, o de João, ou seja, em abrir espaço para o contraditório, ignorando que o gestor da Paraíba era da linha de frente da resistência a Bolsonaro e vinha pagando um preço caro por essa postura.
Em nenhum momento, nem mesmo quando teve que procurar abrigo no Cidadania de Roberto Freire para escapar da tempestade política arquitetada por Ricardo Coutinho para atingi-lo, o governador João Azevêdo desfaleceu nos seus propósitos de apoio a Lula ou nas convicções manifestas, através da imprensa ou em encontros políticos, do seu alinhamento com o líder do PT na corrida presidencial de 2022. Azevêdo encampou essa postura de forma ostensiva, traduzindo-a em declarações ou pronunciamentos, ao mesmo tempo em que procurava a todo custo abrir canais de interlocução com o ex-presidente, como se deu numa reunião do Consórcio Nordeste, em Natal, Rio Grande do Norte, quando ambos puderam se abraçar. Na contramão dos seus passos, o ex Ricardo Coutinho, de forma maquiavélica, movia céus e terras para ser reconhecido como o “grande lulista” da Paraíba. O alvo era elementar: intentava afastar Azevêdo da órbita das forças de sustentação política da candidatura de Lula e monopolizar as atenções deste.
Em certa medida, o retorno de João Azevêdo aos quadros do PSB, ontem, em alto estilo, na Paraíba, expressou a obstinação com que o chefe do Executivo, que sempre foi tratado com desdém por Ricardo Coutinho como um suposto “jejuno político”, decidiu lastrear uma contra-ofensiva para fazer valer sua própria narrativa dos acontecimentos na Paraíba e para evidenciar, por extensão, o papel de relevância que passou a enfeixar na conjuntura local, regional e local desde que foi investido no Palácio da Redenção. Pelo menos alguns “ricardistas” apostaram fichas não apenas no isolamento de João Azevêdo, mas na sua própria destruição política, embora o ex-governador estivesse já enrolado em demandas ligadas a processos da Operação Calvário e já experimentasse a sua primeira derrota fora do poder – em 2020, quando tentou voltar pelo voto à prefeitura de João Pessoa e não avançou, sequer, para o segundo turno.
O evento na Blunelle em João Pessoa foi, por assim dizer, um divisor de águas, no sentido de abrir espaço para que prevalecesse também a narrativa do próprio governador João Azevêdo sobre como tem sido a sua trajetória administrativa e política no Estado da Paraíba. Uma amostra eloquente dessa atuação foi repassada por ele no discurso que pronunciou em meio à emoção de voltar a assinar ficha de filiação no Partido Socialista Brasileiro. De outra parte dos resultados do seu perfil na gestão pública e na militância política deram testemunho lideranças nacionais, presentes ou representadas através de depoimentos gravados em vídeo e reproduzidos em redes sociais. Havia, da parte de Ricardo Coutinho, a impressão de que Azevêdo estava detonado política e eleitoralmente, fadado a entrar na História da Paraíba como governador de um mandato só, e isto era um equívoco colossal.
Os acontecimentos de ontem, que ainda terão desdobramentos, conturbaram o falatório do ex-governador Ricardo Coutinho e perturbaram, certamente, o projeto de poder do senador emedebista Veneziano Vital do Rêgo, que se apressou em se lançar pré-candidato ao Palácio da Redenção com o apoio de Coutinho. Ambos apostaram fichas na ideia de que Azevêdo estava “acabado” politicamente. Talvez tenha sido por recapitular de relance todas essas avaliações a seu respeito que o governador tenha dito, ontem, que se sentia “renascido” ao voltar a ser admitido como filiado do Partido Socialista Brasileiro. “Renascido” e, pelo visto, extremamente motivado para os embates futuros, agora revigorado com o respaldo que teve de figuras exponenciais como o governador de Pernambuco e o filho do ex-presidenciável Eduardo Campos – João Campos, prefeito do Recife e líder emergente no cenário regional-nacional.
Por que Cícero não compareceu ao evento de João? será que tinha coisa melhor para fazer? Julian Lemos estava lá. Será que ele vota no PSB de João? Aliados de Sérgio Moro fizeram-se presentes. Vão votar em Lula e já abandonaram o juiz ladrão? Será que o palanque de João tem espaço para tanta diversidade? Meu caro Nonato, essas são dúvidas que certamente você também tem. Agradeço esclarecimentos que só você conhece.