Nonato Guedes
O senador Veneziano Vital do Rêgo, pré-candidato ao governo do Estado pelo MDB com o apoio de uma ala do PT capitaneada pelo ex-governador Ricardo Coutinho, que tenta liberação judicial para disputar o Senado, evitou passar recibo das últimas articulações do seu ex-aliado recente, o governador João Azevêdo, que retornou às hostes do PSB em alto estilo e atraiu para o seu projeto de reeleição expoentes da facção governista do petismo estadual, nas pessoas do deputado federal Frei Anastácio Ribeiro e do deputado estadual Anísio Maia. Como contraponto à ofensiva de Azevêdo, Veneziano voltou a registrar em rede social imagens que o mostram ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, refletindo, de forma subliminar, a expectativa que ainda nutre quanto a um palanque único de Lula no Estado. Único e exclusivo, focado no seu apoio e no apoio à sua pretensão.
Essa questão dos palanques de Lula nos Estados continuará em aberto por mais algum tempo, devido à estratégia acionada pelo ex-presidente da República e candidato favorito na corrida ao Planalto em 2022 para não dispersar forças nem trincar a unidade ampla que vai se consolidando em torno do seu nome como alternativa mais viável para derrotar o presidente Jair Bolsonaro e, por via de consequência, o bolsonarismo. Lula tem suas preferências pessoais, às vezes aparenta exibir sinais de predileção por nomes de partidos diferentes que o apoiam na jornada para voltar ao Palácio do Planalto. Mas tem consciência de que não é tático desmontar estruturas de apoio que estão sendo implantadas por geração espontânea, quase que por gravidade, nos Estados, ainda que oponham adversários locais.
Lula está se convencendo de que a garantia ou o compromisso de apoio à sua pré-candidatura é o ponto essencial da campanha de 2022, para efeito de acumulação de forças que possam confrontar e derrotar o bolsonarismo nas urnas. Expoentes do “Estado-Maior” de sua pré-campanha já foram alertados pelo ex-mandatário de que devem ter cuidado quanto a triunfalismos exagerados ou exacerbados no que diz respeito a prognósticos para a corrida presidencial, devendo reger-se pelo equilíbrio ou pelo bom senso que permitam reconhecer o poder de fogo da máquina do governo federal. O monitoramento dos passos da máquina federal é tanto mais urgente quando se leva em conta a eclosão de sinais de desespero ou desconfiança nas hostes bolsonaristas quanto às chances do atual presidente de renovar seu mandato, muito menos de conseguir essa proeza em primeiro turno. Bolsonaro não vai entregar os pontos e tentará extrair da máquina o máximo de benefício colateral que ela possa produzir, mas estará atento a outros fatores implícitos na disputa deste ano.
A tendência é de uma radicalização acentuada a partir de agosto, passada a etapa das convenções partidárias para homologação de candidaturas à presidência da República. Essa radicalização ficará latente não apenas no Guia Eleitoral ou através de outros instrumentos tradicionais de propaganda política-eleitoral, na fase propriamente dita autorizada pela Justiça, mas, também, na batalha campal que será travada entre apoiadores de Bolsonaro e adversários do presidente no território das redes sociais ou das chamadas mídias digitais. Nestas, se não houver controle efetivamente rigoroso por parte da Justiça Eleitoral, a exploração será livre e o poder de expressão tende a ser ilimitado, favorecendo a própria disseminação, em série, de “fake news” que, mais do que esclarecer, objetivam confundir o eleitorado e até mesmo interferir por vias oblíquas na manifestação final em urna eletrônica.
Esse cenário de confronto se estenderá aos Estados, onde discípulos do ex-presidente Lula e adeptos do presidente Jair Bolsonaro estarão enfileirados para o confronto nos diversos níveis de linguagem. Os correligionários dos dois principais candidatos à Presidência da República, que disputarão cadeiras em governos estaduais ou vagas no Parlamento (Câmara e Senado) serão tentados a reproduzir o clima agudo de enfrentamento, até para tentarem tirar proveito das oscilações da disputa mais relevante, a disputa presidencial. O caldo de cultura será complementado pelos acertos de contas locais, entre antigos aliados ou entre adversários recentes, mesmo que estejam perfilados no mesmo terreno da luta presidencial. É o caso da Paraíba, entre dois apoiadores declarados do ex-presidente Lula – o governador João Azevêdo e o senador Veneziano Vital. Eles se engalfinham para montar o palanque mais forte e, com isto, buscar atrair as atenções do líder petista para também alavancar suas pretensões.
O senador Veneziano Vital do Rêgo está há pouquíssimo tempo no papel de pré-candidato ao governo da Paraíba, tendo assumido este figurino depois de romper abertamente com o governador João Azevêdo, em live que comandou juntamente com o ex-governador Ricardo Coutinho e com líderes de peso do PT local. João Azevêdo reagiu com uma contra-ofensiva fulminante esta semana, assinalando seu retorno aos quadros do PSB e sendo readmitido no círculo das forças alinhadas com a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. À distância, Lula acompanha os movimentos e tenta encaixar fórmulas que não o prejudiquem com subtração de votos ou de apoios. De sua parte, o senador Veneziano Vital do Rêgo deixou claro que confia na “reciprocidade” do ex-presidente Lula. É uma referência sutil ao apoio que a maioria esmagadora do MDB no Nordeste tem oferecido ao líder petista. É uma novela cujos próximos capítulos são ansiosamente aguardados não apenas pelos interessados, mas pela própria opinião pública paraibana.