Nonato Guedes
Os analistas políticos e a opinião pública da Paraíba, em especial, acompanham com interesse o desfecho da batalha empreendida pelo governador João Azevêdo (PSB), candidato à reeleição, para ser admitido no palanque do presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva (PT), favorito na maioria das pesquisas de intenção de voto sobre a corrida ao Planalto nas urnas em outubro, tendo como oponente o presidente Jair Bolsonaro (PL), que teoricamente postulará um novo mandato. Até agora não houve qualquer manifestação oficial de Lula sobre o palanque ou os palanques na Paraíba, já que no seu círculo de apoiadores há adversários declarados de Azevêdo como o ex-governador Ricardo Coutinho e o senador Veneziano Vital do Rêgo, este convertido ultimamente em pré-candidato ao governo do Estado depois de formalizar o rompimento com o atual chefe do Executivo.
Lula tem adotado estratégias de acomodação com resultados positivos em Estados de maior densidade política-eleitoral e econômica como São Paulo, ou, no Nordeste, em Pernambuco, onde o senador petista Humberto Costa, que despontava como favorito nas pesquisas preliminares ao governo, abriu mão da postulação em favor de um nome do PSB. Em São Paulo, a ofensiva do ex-presidente é com vistas a dobrar resistências do PSB a uma virtual candidatura do petista Fernando Haddad – e, para tanto, acena com a possibilidade de ter como vice o ex-governador Geraldo Alckmin, com a condição de que ele se filie ao Partido Socialista. Alckmin é remanescente do PSDB e chegou a se confrontar com Lula, sendo derrotado, na eleição presidencial. Sua absorção é rejeitada por políticos mais à esquerda do próprio PT, mas Lula confia na sua influência e carisma para impor a solução que julgar conveniente no processo.
No Amapá, o senador Randolfe Rodrigues, da Rede, que era candidato natural ao governo, materializando um sonho acalentado há bastante tempo, foi convencido por Lula a desistir da ambição, passando à condição de articulador da candidatura do petista à presidência da República. Em diferentes Estados, de regiões variadas, há impressões digitais de Lula na composição de cenários locais para as eleições deste ano entre forças que se dispõem a apoiar a sua candidatura. A habilidade política fez com que o ex-presidente trouxesse de volta para a órbita do PT líderes do MDB que, inclusive, votaram pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. As alianças que estão tendo o aval do ex-presidente seguem a lógica do pragmatismo, baseado na perspectiva de retomada do poder – e Lula procura agitar como bandeira o combate a um fantasma: o bolsonarismo, que, na narrativa sua e dos aliados, quer destruir a democracia e os avanços sociais no país.
A situação da Paraíba comporta, naturalmente, peculiaridades típicas. João Azevêdo e Ricardo Coutinho estiveram juntos no mesmo palanque em 2018, quando o primeiro fazia seu batismo de fogo nas urnas. A parada foi resolvida em primeiro turno, reflexo de uma conjuntura em que a liderança de Ricardo era marcante – e o próprio Ricardo tomou a iniciativa de permanecer à frente do cargo até o último dia do mandato para viabilizar a continuidade de um projeto de poder. Em tese, essa continuidade foi abortada com divergência aberta entre Azevêdo e o antecessor, a partir de ações autonomistas legítimas que o atual governador logrou empreender. Ricardo decretou o rompimento, que coincidiu com denúncias envolvendo-o em processos da Operação Calvário, ainda em andamento. A reconfiguração do desenho político e partidário na Paraíba foi inevitável, nas condições de temperatura e pressão em jogo.
Hoje, o ex-governador Ricardo Coutinho, que voltou aos quadros do PT com as bênçãos do ex-presidente Lula, movimenta-se para impedir o acesso de João Azevêdo ao palanque do favorito nas pesquisas ou, pelo menos, para minimizar ao máximo sua capacidade de influência na esfera de Lula. O governador João Azevêdo, de sua parte, está às voltas com uma verdadeira saga para estar no palanque lulista e ser reconhecido como expoente da esquerda. Nessa mobilização, ele já concretizou a saída do “Cidadania” – que ameaçava federar-se com o PSDB – e surpreendeu os adversários com um trunfo: a volta aos quadros do PSB, de onde saíra devido ao cerco implacável de Coutinho. A garantia na base de Lula ainda não é, entretanto, passaporte para uma opção do ex-presidente a favor de Azevêdo no cenário paraibano. O ex-presidente tem evitado, inclusive, agendar visitas ao Estado, apesar da acolhida que aqui teve em outras disputas eleitorais.
Pesquisas preliminares sinalizaram um eventual favoritismo de João Azevêdo na disputa ao governo da Paraíba em 2022, mas a conjuntura local tem sido bastante tumultuada por forças que, mesmo não alinhadas entre si, convergem na oposição ao atual chefe do Executivo. O receio de interlocutores do governador é de que seja formada uma frente ampla com o objetivo de derrotá-lo, numa estratégia que passaria pelo isolamento de Azevêdo do palanque ou do apoio de Lula. Justamente por causa dos fatores em jogo é que a expectativa torna-se ampliada quanto ao desfecho do “caso Paraíba”, como é tratado na mídia nacional. Essa definição, seguramente, passa por uma indicação qualquer do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, como se disse, está silente. O único consenso a respeito é o de que ninguém fala por Lula, nem mesmo afoitos expoentes do PT paraibano.