Nonato Guedes
A polêmica sobre a permanência ou não do deputado federal Efraim Filho (União Brasil) como pré-candidato ao Senado na base do governador João Azevêdo (PSB), diante da recusa do parlamentar em acompanhar a opção do chefe do Executivo pela candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, já começa a ter desdobramentos. O fato de maior repercussão foi, sem dúvida, a declaração do prefeito de Cabedelo, Vítor Hugo, do União, recuando do apoio político à reeleição do governador e afirmando, de forma categórica, que está “neutro” em relação ao pleito para o Palácio da Redenção. Sabe-se que outras reações vão eclodir, dividindo e enfraquecendo a base governista.
João Azevêdo repeliu tentativas de interferência no seu poder de comando sobre a definição da chapa que encabeçará, mas fontes políticas começam a achar que o interesse maior do governador é mesmo o de unificar a chapa em torno do apoio ao ex-presidente Lula, o que excluiria naturalmente Efraim, que não tem afinidades com o PT ou com o ex-presidente Lula. Nesse caso, o campo estaria aberto para evoluir o projeto de candidatura a senador do deputado federal Aguinaldo Ribeiro, do PP, que embora não se afine ideologicamente com a esquerda e tenha votado pelo impeachment de Dilma Rousseff, mesmo depois de ter ocupado o Ministério das Cidades do seu governo, teria canais de interlocução com o PT e respaldo maior junto ao governador paraibano. Pessoalmente, Efraim jamais questionou as opções políticas de Azevêdo na eleição deste ano, mas também não se disse afinado com tais opções, sobretudo o apoio a Lula.
O chefe do Executivo, sabidamente, trava uma queda de braço com o antecessor, Ricardo Coutinho, do PT, para apostar quem estará no palanque lulista na Paraíba, embora haja a opção de formação de múltiplos palanques que acolheriam adversários regionais que, no entanto, são ou se dizem apoiadores da jornada de Lula para voltar ao Palácio do Planalto. João Azevêdo ponderou por “ene” vezes que não lhe interessa a exclusividade do palanque, mas, sim, a sua participação no palanque de Lula, e para isso fez movimentos estratégicos bem sucedidos que lhe permitiram voltar aos quadros do PSB, desafiando articulações do “ex” Ricardo Coutinho para enxotá-lo do campo da esquerda paraibana na campanha presidencial. Na perspectiva dos objetivos políticos-eleitorais de Azevêdo, a postulação de Efraim ao Senado seria uma complicação dada a resistência dele em formar, também, com Lula.
O problema de fundo é que Efraim Filho já avançou substancialmente no projeto de candidatura que, como já foi dito, não lhe pertence mais, sendo inegavelmente expressivo o contingente de 160 prefeitos que, conforme o parlamentar, mantêm compromisso de apoio à sua pré-candidatura. Não há como o deputado do União Brasil dar “marcha à ré”, como ele costuma sublinhar, inclusive, porque ele já dividiu seus redutos com outros pretendentes à Câmara que, por sua vez, estão engajados na sua jornada para ser senador. “É um nome que agrega e soma”, ressaltou o prefeito de Cabedelo, Vítor Hugo. Contra Aguinaldo Ribeiro pesa, ainda, o fato de que sua irmã, Daniella, já ocupa um mandato de senador, conquistado em 2018 numa luta renhida com outros postulantes de peso, como o próprio ex-governador Cássio Cunha Lima, do PSDB. São fatos do pleno conhecimento de Azevêdo, que, formalmente, conduz a questão em banho-Maria, mas extra-oficialmente aprofunda conversas com Aguinaldo Ribeiro e não dialoga abertamente com o deputado Efraim Filho.
Para observadores políticos, vai ficando claro o clima de exaustão ou de desgaste em meio à polêmica sobre a candidatura de senador na base de apoio ao governador João Azevêdo. A esta altura, há líderes municipais que seguem a orientação de Efraim Filho e que estão na iminência de se rebelar contra o chefe do Executivo estadual se não houver uma condução mais equilibrada do processo de formação da chapa. Por outro lado, o deputado Efraim Filho, agora, mais do que nunca, tem pressa num posicionamento porque precisa dar sobrevida ao seu próprio projeto de pré-candidatura ao Senado. Lá atrás ele havia dito que, se não tivesse acolhida no esquema do governador João Azevêdo, manteria a candidatura em “faixa própria”, o que foi entendido como eufemismo de aproximação com setores da oposição estadual. São recorrentes as especulações de que Efraim tem canal com candidatos oposicionistas ao governo, como o deputado federal Pedro Cunha Lima, do PSDB. E a impressão dominante na mídia é que uma nova reviravolta está para acontecer a qualquer momento na conjuntura local, depois da que foi provocada pelo rompimento do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) com o governador João Azevêdo.