Nonato Guedes
O ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, confirmou que vai se filiar ao PSB na próxima quarta-feira em Brasília, como parte de um movimento destinado a situá-lo no campo da esquerda e credenciá-lo a ser escolhido como vice do líder petista Luiz Inácio Lula da Silva na chapa que este encabeçará à presidência da República nas eleições de outubro. Remanescente do PSDB, do qual foi um dos fundadores, Alckmin concorreu contra Lula no pleito de 2006, sendo derrotado no segundo turno – obteve 37.543.178 votos contra 58.295.042 sufrágios do petista, correspondendo a 60,83% dos votos válidos. O primeiro turno daquela disputa contou, ainda, com as candidaturas de Heloísa Helena, do Psol, Cristovam Buarque, do PDT, Ana Maria Rangel, do PRP, José Maria Eymael, do PSDC e Luciano Bivar, do PSL.
A polarização PT-PSDB vinha desde a década de 90 e os tucanos ascenderam duas vezes ao Palácio do Planalto com Fernando Henrique Cardoso, tendo perdido eleições quando apresentaram José Serra, Geraldo Alckmin e Aécio Neves. Alckmin assumiu o governo de São Paulo em 2001, na condição de vice, com a morte de Mário Covas, e voltou ao Palácio dos Bandeirantes em 2011. Numa das campanhas, foi apelidado pelos adversários de “picolé de chuchu”, mas ganhou projeção com planos desenvolvimentistas alavancados no governo paulista. A sua filiação ao PSB é uma das maiores guinadas no cenário político brasileiro, levando-se em conta que Geraldo sempre teve um perfil mais à direita, impondo-se pela capacidade de diálogo e pela visão empreendedora. Lula tem defendido a indicação do ex-tucano como seu vice a contragosto de setores mais radicais do PT e de agrupamentos de esquerda que ainda não absorvem Alckmin.
Numa postagem em redes sociais na qual anunciou sua filiação ao PSB, Alckmin anunciou: “O tempo da mudança chegou! Depois de conversar e ouvir muito, eu decidi caminhar com o Partido Socialista Brasileiro. O momento exige grandeza política, espírito público e união”. Na postagem, ele citou uma frase do ex-governador Eduardo Campos, de Pernambuco, que morreu num acidente aéreo durante a campanha para as eleições de 2014: “Não vamos desistir do Brasil”. O político paulista acrescentou que a política precisa enxergar as pessoas. “Não vamos deixar ninguém para trás. Nosso trabalho para ajudar a construir um país mais justo e pronto para o enfrentamento dos desafios que estão postos está só começando”. Além do PSB, ele recebeu convites do PV e Solidariedade desde que se desfiliou do PSDB. O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, já havia antecipado, no início do mês, a decisão de Alckmin.
Ontem, Siqueira comemorou o anúncio oficial. “Um quadro político importante para o nosso partido e o país, neste momento em que precisamos unir forças para mudar o Brasil”. Outros integrantes do partido aprovaram o ingresso de Alckmin. O deputado Júlio Delgado, de Minas Gerais, avaliou que é uma grande conquista. O deputado Rodrigo Agostinho (SP) enfatizou que o ex-governador tem experiência no campo democrático e levará para a legenda a diversidade de ideias. Sobre chapa presidencial, o parlamentar enfatizou que sempre defendeu candidatura própria do partido. Mas o cenário nacional caminha na direção Lula-Alckmin. “É a diversidade. Dentro da mesma corrente ideológica, ter pessoas que pensam de forma diferente enriquece o debate, o que acontece com a entrada de Alckmin no processo”, teorizou.
Do lado do PT, há pressão para que Lula oficialize logo a candidatura. Entre as preocupações está a reação do presidente Jair Bolsonaro em pesquisas de intenção de voto. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda lidera levantamentos de opinião pública, mas Bolsonaro (PL) ganhou dois pontos percentuais no limite da margem de erro em relação ao levantamento do ano passado, na mais recente pesquisa, da Genial/Quaest. Camila Moreno, integrante da Executiva nacional do PT, diz que a expectativa é que a eleição seja mesmo polarizada, devido à ausência de uma terceira via competitiva. Ciro Gomes, pelo PDT, e Sergio Moro, pelo Podemos, não avançam nas pesquisas. Por outro lado, há um derretimento visível da candidatura do governador de São Paulo, João Doria, que se lança pelo PSDB depois de ter vencido prévias contra o governador gaúcho Eduardo Leite. “Avaliamos que esta será uma campanha plebiscitária. A terceira via não preocupa o partido, só Jair Bolsonaro, devido ao ambiente polarizado”, argumenta Jilmar Tatto, secretário nacional de comunicação do PT.
Colateralmente, a filiação de Alckmin ao PSB, pondo esse partido na base da candidatura de Lula, tem efeitos em alguns Estados, como, por exemplo, a Paraíba. Aqui, o governador João Azevêdo, candidato à reeleição, deixou o Cidadania e retornou ao PSB para estar no palanque de Lula. Ele trava uma batalha contra o ex-governador Ricardo Coutinho, que voltou ao PT, é aliado preferencial de Lula no Estado e pretende ser candidato ao Senado a despeito da ameaça de inelegibilidade que enfrenta na Justiça Eleitoral. Há uma expectativa sobre o comparecimento de Azevêdo no ato de filiação de Alckmin em Brasília. Seria uma oportunidade para tentar se reaproximar do ex-presidente Lula, que tem sido arisco em relação às questões políticas da Paraíba, adiando ao máximo sua vinda ao Estado. O PT participa da administração estadual mas o grupo de Ricardo se fortaleceu na Assembleia com a adesão de três deputados que seguem a sua orientação, pautada pela oposição ao atual chefe do Executivo, seu ex-aliado político.