Nonato Guedes
Uma reportagem assinada por Carlos Madeiro no portal UOL revela que, em face da liderança folgada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no páreo ao Planalto, o apoio dele se tornou uma moeda forte na hora de fechar acordos políticos nos Estados do Nordeste. Os pré-candidatos ao governo com chances reais de se elegerem buscam o petista para seus palanques, ou, no caso dos nomes da direita, evitam o discurso antilulista. “O lulismo se coloca, assim, como a força motriz para que candidatos mudem de partido, de lado, ou mesmo abandonem candidaturas”, relata a reportagem.
O caso da Paraíba é emblemático desse contexto. O governador João Azevêdo migrou do Cidadania para o PSB como estratégia para se situar na base de apoio ao ex-presidente Lula. Azevêdo, que é candidato à reeleição, disputa espaços e prestígio no palanque de Lula com o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), pré-candidato ao governo, que está aliado ao ex-governador Ricardo Coutinho (PT), pré-candidato ao Senado. O cientista político Adriano Oliveira explica que Lula lidera em todas as pesquisas de intenção de voto do Nordeste, geralmente com mais de 60%. “O lulismo influencia as escolhas dos eleitores e isso faz com que os partidos não façam oposição a Lula, inclusive aqueles do Centrão, ligado a Bolsonaro”, analisa Adriano Oliveira, da UFPE.
Por sua vez, Luciana Santana, professora de ciência política da Universidade Federal de Alagoas e da pós-graduação da Universidade Federal do Piauí, destaca que mesmo os candidatos de direita não batem de frente com Lula, ficam, no máximo, neutros, “porque sabem que ele tem um capital eleitoral muito grande e seria colocar em risco sua própria sobrevivência política”. Para Luciana, o lulismo em alta tem causado grande impacto na formação de chapas e anúncios de candidaturas. “Esse jogo vai ter essa força de Lula como principal tônica. Se Lula mantiver essa boa avaliação, isso deve continuar até a eleição. Mas, hoje, estamos percebendo a manutenção desse comportamento de a direita se afastar do discurso anti-Lula”, acrescenta.
Por conta do lulismo, em especial nas cidades do interior, até candidatos de direita com densidade eleitoral parecem cautelosos em discursos anti-Lula. É o caso de ACM Neto (União Brasil), que disputa o governo da Bahia de olho em acabar com a hegemonia do PT, que já dura 16 anos. Neto não quer saber de ligação estreita com Bolsonaro. “Eu não sou adversário de Lula. Lula é candidato à Presidência, eu sou candidato ao governo do Estado”, disse, nesta semana. ACM recebeu o apoio do vice-governador João Leão (PP), que rompeu com o PT e vai disputar o Senado na chapa dele. Leão – ressalte-se – tem se alinhado historicamente ao lulismo e não deve abandonar essa atitude durante a campanha. Candidatos também têm mudado de partido. No Maranhão, o vice-governador Carlos Brandão deixou o PSDB para ingressar no PSB e ter o apoio do PT na sucessão de Flávio Dino (PSB).
No mesmo Estado, o senador Weverton Rocha (PDT) é outro que tenta, ao máximo, colar sua imagem à de Lula. Apesar de seu partido ter candidato à Presidência (Ciro Gomes), Weverton faz elogios ao ex-presidente e deve ter em sua composição partidos aliados ao PT nacionalmente. No Piauí, a dança das cadeiras tirou o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), da disputa pelo governo. Ele agora apoia o ex-prefeito de Teresina, Sílvio Mendes (PSDB) e indicou sua esposa, a deputada federal Iracema Portela (PP-PI) como vice. No lançamento da candidatura, Nogueira nem sequer citou o nome de Jair Bolsonaro. “Ciro Nogueira não é candidato porque sabe a força do lulismo. Obviamente ele vai procurar lançar um candidato, lá, mas não pedirá voto para Bolsonaro e ficará neutro”, explica Adriano Oliveira.
Em Pernambuco, berço político do PSB, o PT desistiu de lançar candidato, que seria o senador Humberto Costa, em nome de uma costura nacional para reaproximar PSB e PT. Na aliança pernambucana, o PT deve lançar o nome ao Senado, ou, caso o governador Paulo Câmara (PSB) renuncie – indicar o vice de Danilo Cabral (PSB). O PSB já usa e abusa da imagem de Lula para manter a hegemonia de 16 anos no Estado. A nova união da chamada “frente popular” poderia não ser uma surpresa se os partidos não tivessem travado uma disputa acirrada há menos de dois anos pela prefeitura do Recife. Adriano Oliveira conclui que a interferência nas coligações é um resultado da força do lulismo e ocorre em todos os Estados do Nordeste. “Não se deve olhar o PT, mas, sim, o fenômeno lulismo, que é muito maior que o partido”, esclarece ele.