Nonato Guedes
O deputado federal Efraim Filho (União Brasil) deflagrou a contagem regressiva para saber qual a posição do governador João Azevêdo (PSB) em relação à sua pré-candidatura ao Senado nas eleições de outubro. Até agora o chefe do Executivo tem sido relutante a respeito do assunto, o que foi atribuído nos meios políticos à concorrência do deputado federal Aguinaldo Ribeiro (PP) pela mesma vaga na sua base. Mas há indícios de problemas de outra ordem, diante da afirmação feita pelo governador de que sua chapa teria apenas apoiadores da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à presidência da República. Efraim rebate que não tem motivos para votar em Lula, que se inclina por apoiar, na Paraíba, a candidatura do ex-governador Ricardo Coutinho ao Senado.
Seja como for, acautelando-se diante do imponderável, o deputado Efraim Filho, cujo pai, Efraim Morais, exerce uma secretaria na administração estadual, e que tem um irmão, George, em cargo da prefeitura de João Pessoa, ocupada por Cícero Lucena (PP), já prepara seu “Plano B” para colocar em prática na hipótese de uma emergência. Esse Plano incluiria o apoio ao governo do Estado da candidatura do deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB), filho do ex-governador Cássio Cunha Lima. Chegou-se a falar em reedição da campanha de 2002, quando Efraim Morais elegeu-se senador em dobradinha com Cássio ao governo. Mas a analogia é relativa. Naquele pleito, Efraim pai deu combate, no mesmo grupo, ao ex-governador Wilson Braga e sagrou-se como “azarão”, beneficiado pelo pouco desgaste e pelo fato de ter “colado” na campanha de Cássio, que era a bola da vez para ascender ao Executivo.
Abstraindo conjunturas, circunstâncias e semelhanças ou coincidências, dá-se que o deputado Efraim Filho chega para a disputa ao Senado em 2022 indiscutivelmente cacifado, pelos apoios que construiu há pelo menos um ano de mobilização, principalmente entre prefeitos e líderes municipais com influência em diferentes regiões da Paraíba. O parlamentar do União Brasil não está blefando quando alardeia adesões em torno de sua pré-candidatura. Elas são concretas, palpáveis, e podem contribuir, colateralmente, para o projeto de reeleição do próprio governador João Azevêdo, que fará seu grande teste na campanha vindoura. Por mais que interlocutores governistas ressaltem que o peso da máquina terá influência, a verdade é que há uma realidade paralela representada pela construção do projeto de Efraim Filho, com que muitos já se comprometeram, a ponto de alguns já anteciparem que, entre ele e Azevêdo, ficarão com ele, embora o confronto não seja direto.
Entre os segmentos que procuram atuar como bombeiros da crise que aparentemente está formada entre o governador e o deputado do União Brasil argumenta-se que ambos se precisam, mutuamente, na batalha à vista e que, portanto, deveriam consensuar com urgência em termos estratégicos para possibilitar a ocupação de espaços e a homogeneidade de posições, sem o risco de defecções que, caso confirmadas, se diluirão na miríade de pré-candidaturas anunciadas, tanto ao governo do Estado como ao Senado. O governador João Azevêdo já perdeu aliados como o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) e a vice-governadora Lígia Feliciano (PDT). Se assumir a confrontação com o União Brasil, poderá perder não apenas o novo partido resultante da fusão DEM-PSL mas outros líderes políticos influentes que se agregaram à candidatura de Efraim Filho ao Senado e não demonstram interesse em recuar desse alinhamento.
Ressalte-se, por exemplo, a posição firme que tem sido mantida até agora em torno da pré-candidatura de Efraim Filho pelo deputado federal Hugo Motta, presidente estadual do Republicanos, legenda que aspira a indicar o candidato a vice na chapa de Azevêdo, tendo conquistado, para tanto, a filiação do deputado Adriano Galdino, presidente da Assembleia Legislativa. Em outra ponta, o deputado estadual Ricardo Barbosa, que resolveu permanecer no PSB mesmo com quando da abertura da janela para migração partidária e que é pré-candidato declarado à Câmara Federal, tem sido enfático na declaração de apoio a Efraim Filho para o Senado. Tais manifestações resultam do fato de que, na construção do seu projeto de candidatura, Efraim abriu redutos, repassou colégios eleitorais, entregou perspectivas de resultados, enquanto Aguinaldo Ribeiro insiste em jogar parado, deixando dúvidas sobre até que ponto vai sua determinação em concorrer ao Senado, onde já pontifica a irmã, Daniella Ribeiro.
Seja como for, é grande a expectativa no ambiente político paraibano quanto ao desfecho da briga por espaços no esquema do governador João Azevêdo, que, numa ocasião, considerou positivo o embate entre postulantes na sua órbita, certamente confiando em que o desfecho não será negativo para suas próprias pretensões. Alertas não têm faltado, no entorno do governador, sobre habilidade estratégica na condução do jogo, de modo a não enfrentar surpresas desagradáveis lá na frente. O deputado Efraim Filho assegura que foi incisivo na conversa mantida com o governante paraibano acerca de suas pretensões e do lastro que tem conseguido para impulsioná-las na corrida à vista. O que ele tem passado para a opinião pública é que não recuará do desideratum – o que faz crer que está pronto para qualquer cenário, por mais desafiador que seja para o limite das suas próprias ambições colocadas na mesa.