Uma reportagem da revista “Veja” aborda a influência que a socióloga Rosângela da Silva, 55 anos, noiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, exerce sobre a agenda e os discursos do líder petista, favorito nas pesquisas para o Planalto nas eleições deste ano, ao incluir temas como feminismo, alimentação saudável e defesa dos animais na plataforma de propostas e bandeiras empalmadas por ele nesta fase preliminar da corrida eleitoral. “Janja”, como é chamada a noiva de Lula, nasceu em União da Vitória, cidade de 58 000 habitantes na divisa do Paraná com Santa Catarina, mas se mudou para Curitiba ainda pequena. Lá, interessou-se pelas causas da esquerda e filiou-se ao PT aos 17.
Formada e pós-graduada na Universidade Federal do Paraná, trabalhou em uma empresa de engenharia da Usina Hidrelétrica de Barra Grande antes de ser indicada em 2003, na gestão petista, a um cargo na Itaipu Binacional, onde fez carreira desenvolvendo projetos ligados ao progresso sustentável e à inclusão social. Rosangela se aposentou na empresa em 2020 mas passou sete anos no Rio de Janeiro, cedida à Eletrobras, onde atuou na área de comunicação social. O relacionamento dela com Lula começou no pior momento do petista. Janja não tem filhos e já foi casada mas estava sozinha havia cerca de 10 anos quando, em 2018, o ex-presidente foi levado a Curitiba, recolhido à superintendência da Polícia Federal. Com amigos, passou a frequentar o acampamento montado em frente à Polícia Federal, de onde militantes pediam a liberdade do ex-presidente, preso pela Lava-Jato.
“Veja” revela que ela já havia sido apresentada ao ex-presidente em outros momentos e conhecia a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, por causa da influência no Paraná e do trabalho em Itaipu. Por isso conseguiu ser incluída na lista de mais de 500 pessoas que estiveram com o petista no cárcere. “Ela era uma fã dele”, resume um amigo. Ali, segundo as pessoas próximas ao casal, teriam começado a se envolver e selaram o compromisso amoroso numa visita ocorrida no dia 12 de junho de 2019, Dia dos Namorados. Quando o ex-presidente foi solto após 580 dias preso, e Janja apareceu para o público, ele passou a frequentar com ela a casa de amigos em São Paulo como o ex-prefeito Fernando Haddad, o advogado Marco Aurélio de Carvalho e o deputado Emídio de Souza. As rodas de amizade foram se ampliando e Janja foi deixando boas impressões pela forma com que cuida do ex-presidente e, também, pela disposição de “doutrinar” o companheiro nos temas com os quais sempre conviveu.
Marco Aurélio de Carvalho, do Grupo Prerrogativas, depõe: “A Janja deve ser encarada como um ativo do campo progressista e do PT em especial. Ela é muito sensível e qualificada”. Acrescenta que vê, de sua parte, um compromisso sincero com pautas de direitos humanos, erradicação de fome e miséria. Rosângela acompanha Lula em suas viagens pelo país e pelo exterior e faz o papel da companheira discreta, que posa para fotografias ao lado do companheiro se a ocasião recomenda, mas também é a militante que vai sozinha, caminhando na rua, a eventos como a marcha pelo Dia Internacional da Mulher, na Avenida Paulista, em São Paulo, no dia 8 deste mês. Neste caso, ao ser reconhecida, ouviu cobranças sobre a ausência do noivo ilustre. Já no encontro sobre a data organizado pelo PT no dia seguinte, ela foi recebida sob aplausos pelo público, só de mulheres, e a primeira a discursar, antecedendo ativistas e dirigentes. Lula sinalizou uma reforma política para garantir 50% das vagas no Legislativo a mulheres.
O perfil de Janja contrasta com o da ex-primeira-dama Marisa Letícia, que morreu em fevereiro de 2017 em decorrência de um AVC, informa “Veja”. Casada com Lula desde 1974, Marisa conheceu o marido no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e também teve uma atuação política. Liderou uma passeata de mulheres contra a prisão de Lula na ditadura militar e ajudou a organizar movimentos feministas. Mas, durante as campanhas políticas e sua passagem pela Presidência Marisa optou pela discrição. Segundo “Veja”, por sua vez, Rosângela parece disposta a não abrir mão do protagonismo conquistado e continuará tendo um papel importante na tentativa do petista de voltar ao Palácio do Planalto. Conforme o entorno do ex-presidente, ela representa hoje um canal importante para conquistar votos femininos, justamente o ponto mais fraco do rival Jair Bolsonaro. “Nesse sentido, os noivos ensaiam um casamento político perfeito”, conclui a reportagem. A mudança agrada ao petismo. Lula atualizou seu discurso para incluir assuntos que mobilizam um universo diferente nas redes sociais, e essa transformação tem sido motivada por Janja, com quem ele vai se casar ainda antes da eleição.