Nonato Guedes
Desde que rompeu com o governador João Azevêdo (PSB) e assumiu o projeto de pré-candidato ao governo da Paraíba, o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) empreende uma jornada para fortalecer sua pretensão, baseada em filiações de lideranças políticas ao partido e na atração de adesões oriundas de outros esquemas políticos. Em outra frente, o parlamentar continua apostando fichas na possibilidade de ter a exclusividade do palanque do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Estado, por mais remota que a hipótese pareça, diante da multiplicidade de apoios ao líder das pesquisas, inclusive da parte de Azevêdo, que lutou tenazmente para conseguir se situar na base de sustentação do principal adversário do presidente Jair Bolonaro (PL).
A estratégia de Veneziano para obter, pelo menos, atenção especial do ex-presidente Lula, tem passado por uma articulação estreita com figuras de destaque do PT paraibano como o ex-governador Ricardo Coutinho, que tenta derrubar a ameaça de inelegibilidade para poder concorrer ao Senado em dobradinha com o pré-candidato emedebista. A ligação com Ricardo, se por um lado reforça o projeto de Veneziano, por outro lado causa-lhe desgaste, diante do envolvimento, que ainda persiste, do ex-governador, em processos da Operação Calvário, que trata de desvio de verbas nas áreas da Educação e da Saúde do Estado. Veneziano parece não acreditar, porém, no desgaste, diante da proximidade ostensiva que faz questão de manter com ele, cumprindo agendas ao seu lado em João Pessoa e municípios do interior do Estado. Para o senador, o importante é que a ponte com Lula foi sedimentada – e isto ocorreu lá atrás, com audiências que mantiveram a pretexto de debater a conjuntura nacional, dada a condição de “Vené” de primeiro vice-presidente do Senado Federal.
Ao mesmo tempo em que colhe alguns dividendos na corrida pelo governo do Estado, o senador Veneziano Vital do Rêgo enfrenta uma dissidência na sua própria órbita, ou seja, dentro dos quadros do MDB, puxada pelo ex-governador Roberto Paulino, que é secretário de Governo de João Azevêdo. O filho de Roberto, deputado estadual Raniery Paulino, deixou o partido, onde se apresentava como discípulo do legado do ex-senador José Maranhão, e ingressou no Republicanos com a perspectiva de vir a disputar mandato de deputado federal. Mas o pai, Roberto, resolveu permanecer e resistir como uma espécie de “moicano” no MDB. Se não consegue reverter a tendência dentro da legenda por candidatura própria, que parece irreversível diante da hegemonia de Veneziano na estrutura, Paulino tenta, pelo menos, atrapalhar a jornada do parlamentar-candidato. Para isso, anunciou uma série de eventos dos “dissidentes” emedebistas em apoio à candidatura do governador João Azevêdo.
O primeiro evento ocorreu sexta-feira em Guarabira, com a presença de prefeitos, vereadores e outros militantes do partido, bem como do próprio governador João Azevêdo, que naturalmente se sentiu regozijado com a manifestação. Na definição de Roberto Paulino, a articulação que se desenvolve atualmente parte do “MDB raiz, do eterno governador Zé Maranhão”, evocando uma fase em que “o partido ouvia e respeitava a vontade de suas lideranças de base”. Queixa-se o ex-governador que, no quadro atual, a cúpula “embarcou” no que mais parece um plano de vingança orquestrado pelo ex-governador Ricardo Coutinho contra João Azevêdo. “Quem é MDB de verdade não aceita isso”, chegou a externar Paulino.
As dificuldades que o pré-candidato Veneziano Vital do Rêgo enfrenta eram previsíveis. Ele sabia que, procurando se aliar ao PT local, teria que encampar parte do desgaste atribuído a Ricardo; também sabia que seu discurso contra o governo enfrentaria desconfianças pelo fato de, até pouco tempo, ter defendido esse governo, sem falar que sua mulher, a doutora Ana Cláudia Vital do Rêgo, foi secretária de Estado. Por fim, Veneziano entrou na disputa sem o apoio de máquinas – nem da parte do governo do Estado nem da prefeitura de Campina Grande, onde estão alojados adversários locais como os Cunha Lima, que têm a candidatura própria do deputado federal Pedro ao Palácio da Redenção. Todas as fichas do emedebista parecem focadas, mesmo, no apoio de Lula. Mas, vale repetir: se Lula é favorito para a corrida presidencial na Paraíba, não se mostra milagroso no quesito da transferência de votos. Há adversários competitivos muito fortes ao governo do Estado – e são eles que ameaçam pretendida por Veneziano no pleito que se prenuncia acirrado para outubro.
O maior beneficiário da candidatura de Veneziano é João Azevedo. Os campinenses preferem sempre votar em gente de Campina. Nessa eleição terão que dividir seus votos entre Vené e Pedro. João sai ganhando em Campina, graças aos votos de doutora Tatiana, Eva Gouveia e dos membros da família de Aguinaldo Ribeiro, o senador de João. A oposição está dívida demais em Campina, enquanto o governo mobiliza a unidade de suas tropas. Na capital, João terá o apoio de Cícero. Este, de posse da máquina administrativa, encolherá Nilvan, o candidato do presidente admirador de ossos de frango e farofa. Nilvan terá que dividir votos também com Pedro. Lembre-se:Pedro e Romero já prestaram grandes serviços ao bolsonarismo exterminador de índios. Por tudo isso, João sai na frente e dificilmente será alcançado pelos seus adversários.