Nonato Guedes
Apesar do respeito à autonomia do deputado federal Pedro Cunha Lima à frente do seu projeto de concorrer ao governo do Estado pelo PSDB, é indiscutível a influência exercida, nos bastidores, nos movimentos de pré-campanha, pelo seu pai, o ex-governador, ex-senador e ex-prefeito de Campina Grande Cássio Cunha Lima. Tal se verifica pela experiência, pelo prestígio e pela liderança que Cássio mantém no cenário local, embora tenha optado, até agora, por não disputar mandato, após o surpreendente insucesso nas urnas alcançado em 2018 quando tentava recondução ao Congresso. Em reportagem, ontem, o jornal O Globo destaca a importância de Cássio na articulação política de Pedro pelo Estado.
A matéria enfoca o retorno de nomes tradicionais da política nacional ao quadro eleitoral após a enxurrada de “outsiders” nas eleições de 2018. Naquele pleito o próprio Jair Bolsonaro, embora com o currículo de vasta carreira política, pautada no Legislativo, tentou adotar o figurino de “outsider” para poder se apresentar como novidade na disputa. Foi nessa linha que ele aparentou desvinculação de grupos tradicionais que dominavam a política, embora, uma vez na presidência, tenha se tornado refém do “Centrão”, que é considerado um agrupamento fisiológico e conservador. Pedro Cunha Lima é citado por O Globo como nome tradicional porque compõe a terceira geração da família ligada à política-partidária, sendo neto do ex-governador Ronaldo e filho de Cássio – mas Pedro tem identidade própria e incorporou ao discurso bandeiras que são inclusivas e avançadas. Seu discurso foca em cima da renovação e da austeridade da máquina pública.
A atuação de Cássio se dá na costura de alianças políticas necessárias para fortalecer a pré-candidatura de Pedro Cunha Lima em todas as regiões da Paraíba e, também, na indicação de estratégias que possam dar capilaridade a uma postulação que se coloca francamente em oposição ao governo João Azevêdo. Cássio colabora, também, com subsídios para fundamentar os programas de governo que Pedro pretende empalmar. Após um longo período respeitando o distanciamento social, ele participou, em Campina Grande, de um evento social representando o filho, que cumpria agenda em outros lugares do Estado. Em postagem que fez de fotos do evento, o ex-governador se disse sensibilizado pela calorosa acolhida por parte de correligionários. Há uma expectativa de envolvimento crescente na campanha propriamente dita.
O engajamento de Cássio se tornou imperioso com o lançamento de uma outra candidatura originária de Campina Grande ao governo do Estado – a do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), que rompeu com o esquema do governador João Azevêdo e firmou pré-aliança com expoentes do PT, como o ex-governador Ricardo Coutinho, que tenta derrubar sua inelegibilidade para poder concorrer ao Senado Federal. No confronto entre Cunha Lima e o “clã” Vital em Campina Grande, a contabilidade dos embates favorece o primeiro, que ainda em 2020 assegurou a continuidade do controle da prefeitura municipal, através de Bruno Cunha Lima, que concorreu com nomes como o da esposa de Veneziano, Ana Cláudia. Pedro assumiu a candidatura no vácuo da desistência do ex-prefeito Romero Rodrigues (PSD), que optou por disputar a Câmara Federal. Ele e Veneziano, inegavelmente, polarizam as preferências no segundo colégio eleitoral do Estado, restando pouco espaço de manobra para o governador do PSB.
No que diz respeito ao ex-governador Cássio Cunha Lima, seu talento, carisma e vocação para a vida pública são reconhecidos pelos próprios adversários. Ainda bastante jovem despontou na Assembleia Nacional Constituinte que legou ao país a chamada “Constituição-Cidadã”, como a definiu Ulysses Guimarães. Aprendeu lições essenciais, precocemente, com políticos da estirpe do próprio doutor Ulysses e do ex-senador Mário Covas. Seus primeiros discursos revelavam sinais de desencanto com o modelo político então vigente – realidade que de 1988 para cá não mudou muito, a julgar por desabafos que Pedro Cunha Lima também externa. Cássio fez parte da hierarquia de poder no Brasil, quando ascendeu à primeira vice-presidência do Senado e se impôs ao respeito como uma das vozes expressivas do PSDB. Tem, portanto, credenciais que o projetam na cena, ainda que não exerça mandatos. E é por isso que sua participação na campanha de Pedro é acompanhada com interesse, pelos reflexos que pode causar na conjuntura estadual daqui para a frente.